quarta-feira, 16 de junho de 2010

TÍTULO DUPLO: Aos Meus Leitores Ocultos/A Viuvez de Parte da Crônica Esportiva

Por várias vezes já afirmei aqui neste blog que minha meta, por enquanto, é igualar os 18 leitores do Agamenon Mendes Pedreira, lenda viva do jornalismo brasileiro.

Pelo que tenho tido de retorno, estou um pouco além do meu companheiro fiel de jornada, o Beto, que, no entanto, tem estado um pouco calado nos últimos tempos.

Entretanto, recebi uma resposta e uma colaboração muito legal do meu amigo Rodrigo Zambão, que lançou no Facebook a referência a um post feito no blog do André Rizek, o Carta Bomba, perguntando qual minha posição com relação à opinião do jornalista do Sportv, que pode ser resumida no título: "Não somos o Cirque de Soleil" (http://colunas.sportv.globo.com/andrerizek/2010/06/15/nao-somos-o-circo-de-soleil/)

Afirma Rizek que só ficou decepcionado com a Seleção quem esperava algo que o time de Dunga nunca mostrou nos últimos quatro anos. O time brasileiro jamais se caracterizou pela fantasia, por um meio-campo criativo ou pela facilidade em enfrentar retrancas como aquela armada pela Coreia do Norte.

Neste ponto, estou de pleno acordo com o cronista em questão. Só fica surpreso quem passou a acompanhar a Seleção agora na Copa, ou quem, por teimosia ou má-fé, continua insistindo na viuvez eterna de um futebol que não existe mais.

Não estou dizendo que a Seleção jogou bem ou que fiquei satisfeito com o desempenho ou o resultado da partida de segunda-feira. Efetivamente, jogamos muito abaixo do que este próprio time pode fazer. Entretanto, as pessoas que só começam a ver futebol durante a Copa acabam decepcionadas, ao ver que o Brasil por vezes (e cada vez mais frequentemente) adere acriticamente a um modo de jogar que está minando a força do esporte mais popular do Mundo.

Mas isto é para outro post.

O que interessa aqui é aproveitar a deixa do Zambão e convocar meus abnegados leitores (abnegados sim, pois enquanto meu irmãozinho não me der um reforço nas aulas de administração de blog, só haverá texto neste espaço...) a participar mais ativamente. Cornetem a Seleção, o Dunga, a FIFA, este blogueiro: enfim, botem a boca no trombone. Toda a colaboração será bem vinda e devidamente publicada (desde que, obviamente, sua veiculação não acarrete questões jurídicas para este blogueiro, já que não consigo despir-me da "deformação" profissional tida nos bancos da faculdade). E aí está justificado o primeiro título acima.

Para justificar o segundo, voltemos à questão da viuvez, já antecipada no meu post anterior (A Amarelada de Sempre). A crônica do jogo da Espanha na Globo.com foi sintomática de um sentimento que parte da crônica esportiva brasileira não consegue abandonar: o fascínio por um estilo de jogo que é visualmente muito bonito, mas que comprovadamente não ganha nada.

Minha impressão só ficou mais forte após ver os melhores momentos de Espanha x Suíça. É uma sucessão de lances de efeito, em que a "Fúria" (até mostrar que merece a alcunha, a seleção espanhola terá seu apelido sempre ironicamente grafado com aspas neste blog) não conseguiu marcar o gol. A tentativa de David Villa em encobrir o goleiro é a síntese de tal postura: muita beleza, muita firula, pouca efetividade.

Parte da crônica esportiva brasileira não consegue se desprender de um dilema que Armando Nogueira punha aos seus entrevistados no seu programa no Sportv. Ele sempre perguntava qual a preferência do interlocutor: "Passe, drible ou gol?"

O gênio da crônica esportiva, recentemente falecido, buscava, com isto, revelar um traço da personalidade do entrevistado, sempre manifestando sua preferência pessoal pelo drible, já que Armando sempre fora um cultor da estética, do belo no esporte. Entretanto, justamente por ser um gênio, Armando Nogueira nunca desprezou as conquistas épicas, mesmo aquelas alcançadas com mais transpiração do que inspiração; sempre conseguiu descobrir a beleza também no passe e no gol.

Ainda há gente no país que é saudosa do drible pelo drible; da época em que bastava a beleza do nosso futebol para superar as defesas adversárias. Aprendemos, a duras penas, durante mais de duas décadas (e eu cresci e me formei apreciador do esporte durante este período), que para continuar a vencer precisamos mais do que isto. O drible só não basta, mas também não podemos deixá-lo de lado.

Temos, sim, que aliar o drible ao passe e ao gol. Em 1994, o drible e o gol ficaram a cargo de Bebeto e Ronaldo; em 2002, o time como um todo sintetizou estes três fundamentos (e nesta equipe tínhamos a personalização do gol, no Ronaldo, e do drible, em Ronaldinho Gaúcho).

O futebol mudou, mas continuamos a amá-lo. Também continuamos a querer vencer, sempre. Já o citei antes, e volto a fazê-lo: Renato Maurício Prado diz que brasileiro não gosta de esporte; gosta de vencer. O futebol talvez não seja exatamente assim. Sofremos durante 24 anos, às vezes com times medíocres (as Seleções de 74, 78 e 90 são exemplos perfeitos disto), mas não abandonamos a paixão pelo "nobre e velho esporte bretão".

A indignação da torcida e da crônica diante do jogo de segunda tem fundamento, justamente porque, no futebol, não admitimos ser medíocres. Temos que ganhar e jogar bem.

Mas a torcida não compra mais o discurso de que temos que ser o Cirque de Soleil, até porque, muitas vezes, neste cenário, o que o resto do mundo quer é o Brasil no papel de palhaço.

"Joga bonito"... se for possível. Primeiro, eu quero ganhar.

Um comentário:

Beto disse...

Meu caro Fernando; saudações.

Lamento e peço desculpas por estar sumido, mas tenho lá os meus motivos.
Por ser um aposentado previdente vivo em função das coisas que me dão prazer: um bom livro, uma boa música, um bom vinho, um bom papo, um bom show, um bom filme. Obrigações quase nenhuma. Atualmente não me imponho a elas, fujo delas.
Foi dentro deste espírito saudável e libertário que me preparei para ver os jogos desta Copa, mas tá difícil é cada pelada, um lixo. Tirando o jogo entre Inglaterra e Estados Unidos que não pude assistir, pois estava numa festa de aniversário (tenho como idôneas testemunhas Fernando e Cris,) só consegui assistir a um jogo inteiro que foi o do Brasil e ainda assim acompanhado de umas 10 crianças e uns 30 adultos, o que dificulta qualquer concentração. O resto não conseguia assistir mais de 20 minutos, que joguinhos sem-vergonhas.
Um torneio de futebol onde até Honduras consegue fazer jogo duro tem alguma coisa de errado. Pode melhorar? Pode. Mas pelo andar da carruagem está difícil.
Lembro-me nos anos 60 do João Saldanha falar em matarem a galinha dos ovos de ouro. Acho que o galináceo em questão já virou canja. Lembro-me ainda do mesmo Saldanha contando como ele e mais dois diretores do Botafogo conseguiram comprar o passe do Didi, um dos melhores jogadores de todos os tempos, Compraram com o dinheiro que traziam nas carteiras, grana viva, Bem mais recente, Zico, o maior nome da história do Flamengo, ganhou no máximo, de salário, $7.000 mês, pelo menos é o que me informa um rubro-negro honesto e conhecedor da história do clube. Hoje, qualquer “Lingote” ou “Bentevi” ganha, miseravelmente, $500.000/mês. É muito mais fácil e o retorno é muito melhor e maior, prepararem para o mercado volantes brucutus, do que armadores talentosos. Pior ainda é ter que ouvir ex-jogadores ou comentaristas despreparados fazerem a apologia desta competição, defendendo interesses comerciais de seus empregadores. É duro. Desligo a TV e vou dar uma volta no calçadão.