domingo, 24 de agosto de 2008

BALANÇO PRELIMINAR

Encerradas as competições em que há participação do Brasil, cumpre fazer um balanço preliminar da campanha olímpica dos atletas verde-amarelos.

Como havia antecipado, igualamos nosso recorde quantitativo de medalhas, trazendo quinze delas para casa. No aspecto qualitativo, ficamos aquém do resultado de Atenas, em que conquistamos cinco ouros, mas subimos a menos pódios, dez.

Ainda não tenho a atualização dos resultados dos demais países, mas quero desmontar alguns argumentos cínicos que tenho ouvido nos últimos dias, acusando o Brasil de estar atrás de países inexpressivos no quadro de medalhas.

Pois bem, olhando o quadro vigente no final do 14º dia, vê-se que o Brasil estava em 26º lugar, ainda sem contar a sua terceira medalha de ouro, com as fabulosas meninas do Vôlei de Quadra. Fazendo um passeio pelos países que nos precedem na classificação, vemos oito potências tradicionais nas nove primeiras posições (China, EUA, Reino Unido, Rússia, Austrália, Alemanha, Japão e Itália) e um país que vem consolidando sua tradição olímpica após ter sediado os Jogos de 1988, a Coréia do Sul.

Entre o 10º e o 20º lugares, vemos países inquestionavelmente mais desenvolvidos que o Brasil, como a Holanda (10º), França (12º), Espanha (14º) e Canadá (17º). Outros países são de porte similar ao brasileiro, mas herdam uma estrutura esportiva construída na época do socialismo, são eles: Romênia (16º), Polônia (17º), República Tcheca (19º) e Eslováquia (20º). Ao lado dessas, há dois países oriundos da superpotência olímpica que era a União Soviética: Ucrânia (13º) e Bielorússia (15º).

As outras cinco nações imediatamente acima do Brasil são a Nova Zelândia (21º), país com um dos maiores índices de desenvolvimento humano (IDH) do planeta, a Geórgia (23º), outra ex-república soviética e Cuba (24º), sempre incensada como exemplo de país com política desportiva (embora seja muito mais fácil desenvolver uma sob regime ditatorial).

Portanto, até agora todos os países que estão à nossa frente não representam qualquer demérito para a campanha brasileira. Fica complicado explicar a Etiópia e o Quênia, mas há que se ressaltar que suas medalhas todas vêm praticamente de um esporte só, o atletismo e, mais especificamente, as provas de corrida de fundo. Ao revés, o Brasil vem cada vez mais "desconcentrando" seus pódios, tendo ganho medalhas em sete modalidades diferentes (futebol, vôlei, judô, iatismo, atletismo, natação e taekwondo).

Mais do que isto, cumpre lembrar que com 12 medalhas ao final do 14º dia de competições, o Brasil tinha mais pódios do que nove países que estão à sua frente por conta do número de ouros.

Portanto, como já disse em post anterior, estamos longe de qualquer fiasco, tal como anunciado por vários setores da imprensa e repetido por diversos torcedores desavisados.

Também como já expus anteriormente, estamos longe do ideal ou do minimamente desejado (a este propósito, leia-se meu palpite absolutamente fora da realidade, lançado neste blog), mas já caminhamos uma enorme distância.

DERROTA DE CAMPEÕES

O Brasil perdeu a final do Vôlei Masculino. Perdeu porque o outro time foi melhor, e só. Mas perdeu de pé, brigando até o final e mostrando que não havia mais nada a deixar na quadra.

Já antes dos Jogos Olímpicos eu antecipava a crescente e real ameaça ao reinado brasileiro no Vôlei Masculino. Pessoalmente, há pelos menos dois anos eu venho preocupado com a seleção americana, que, salvo engano, já havia ganho a medalha de bronze no último Mundial. Deixaram eles chegarem, agora, temos que aturar.

O importante é reconhecer que este time do Brasil é o maior vencedor de todos os tempos, estando acima até mesmo de outra seleção americana, que venceu duas Olimpíadas e um Mundial, mas não se pôs à prova em grau tão intenso quanto a Seleção verde-amarela entre 2001 e 2008.

E a grandeza de nossos rapazes do Vôlei deve ser celebrada até mesmo na hora da derrota, tendo todos demonstrado o verdadeiro espírito esportivo, curvando-se e homenageando a maior qualidade do time americano e recebendo sua medalha de prata com a cabeça erguida.

Agora é hora de recomeçar. Torçamos para que Bernardinho continue à frente da Seleção, para que a renovação seja conduzida com a precisão e a clarividência que caracterizam o trabalho desse técnico espetacular e sua equipe. Hoje mesmo já vimos o esteio do que será nosso time no futuro: Bruno, Murilo e Dante.

A Rússia e a Itália já mostraram suas promessas. Vamos ter que trabalhar ainda mais do que vínhamos trabalhando nestes dois últimos ciclos olímpicos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

BRASILEIRO É QUEM COMPETE PELA NOSSA BANDEIRA

Estou irritado, como vários outros amigos (dentre eles o caro Pablo Marano, em seu blog mesadebaresportiva.blogspot.com), com comentários que falam em "brasileiros que representam a Itália, a Austrália, a Espanha, a Geórgia". Especialmente no último caso, que ocorreu no vôlei de praia, vimos várias vezes uma certa condescendência com Jorge e Renato, que adotaram os apelidos ridículos de Geor e Gia, como se uma vitória deles contasse para o Brasil.

Brasileiro é quem tem nossa bandeira no peito. Para mim, brasileiros são Fernando Meligeni, ouro no Pan de 2003, 4º lugar nos Jogos de 1996; Oleg e Irina, que levaram nossa Ginástica Artística a um patamar jamais visto; o técnico da seleção de handebol, nascido na Espanha, que aos poucos vai tornando nossas meninas melhores de bola; o técnico francês que vai lapidando Yone Marques, um diamante bruto do Pentatlo Moderno.

Nenhuma crítica a quem optou por outra nacionalidade. Direito de cada um. Mas não me venham dizer que são brasileiros. Antes dos Jogos de Seul, já antecipando as Olimpíadas de 1992, Aurélio Miguel, que tem cidadania espanhola, foi convidado para competir pelo país de seus ancestrais. Preferiu o Brasil e nos trouxe o ouro. Aurélio é brasileiro de nascença e de coração, assim como os atletas e técnicos que vestem verde e amarelo, perdendo ou ganhando, nestes Jogos de Pequim.

O BRASIL QUE VOA

No melhor dia do Brasil nestes Jogos de 2008, quem redime o país esportivo é o Brasil que voa. Na terra do Pai da Aviação, as medalhas vêm de atletas que se erguem dos medos, das limitações e ousam até o fim, para pousar no pódio.

Primeiro, no Vôlei de Praia Masculino, que parece fazer o caminho inverso do Feminino, que começou em 1996 com duas medalhas, ouro e prata, para acabar fora do pódio nesta edição. Já os homens, decepção em Atlanta, ganharam uma prata em Sydney, um ouro em Atenas e uma prata e um bronze em Pequim.

Um bronze da dupla que era a nossa favorita, mas soube superar a frustração e conquistar um louvável terceiro lugar. Uma prata com gosto amargo, pois poderíamos, como disse Sandra Pires na transmissão, ter ganho a partida por 2 x 0. Mas uma prata que recompensa um time que se classificou no último sprint do Circuito Mundial, superou os então campeões olímpicos e mostrou um potencial para voltar ainda mais alto em 2012.

Seguindo o vôo olímpico, passamos da areia para a quadra, onde homens e mulheres continuam a encantar o mundo pairando no ar e enterrando bolas nos campos adversários. Nossas Seleções de Vôlei são exemplos de dedicação e superação, de traumas psicológicos e de limitações físicas, impondo-se sobre adversários mais altos e mais ricos.

Abastecido por inspiração e transpiração, nosso vôlei supersônico ainda se sustenta pela exemplar organização de sua Confederação, que sustenta um ciclo de mais de 25 anos na elite do esporte mundial.

Falando de vôos, a viagem se dirige para o Ninho do Pássaro, onde nossas equipes de revezamento, masculino e feminino, por pouco não alcançam duas medalhas de bronze, mas que voaram baixo na tentativa de se aproximar dos super-homens e super-mulheres de países que lhes dão muito mais estrutura do que o Brasil.

O destino reservou para Maurren Maggi a alegria maior do dia de hoje. A primeira campeã olímpica brasileira em prova individual; a primeira medalha feminina do Atletismo chegou de um vôo encantado, feito de suor e lágrimas, marcado pela redenção de uma história tisnada pelo doping, mas coroada pelo exemplo de preparo mental e físico, pelo modelo de coragem, que a levou a retornar ao esporte, e a elevou a cada salto, em que Maurren buscava não a mera defesa de uma posição, mas atingir uma marca ainda maior.

Para sair do chão e tentar voar, é preciso coragem. Para se erguer sobre a multidão, o medo tem que ficar debaixo dos pés. Debaixo dos pés que correm atrás das grandes potências; que queimam em areias com as cores de todas as medalhas; que decolam e só pousam depois da bola estar no chão do adversário. Dos pés que cobrem, com saltos e vôos, distâncias que nos levam à glória olímpica.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

LONGE DO FIASCO

Com os Jogos chegando à reta final e algumas esperanças de ouro olímpico do Brasil se esvaindo em meio ao despreparo psicológico, ou pura e simplesmente sucumbindo diante de adversários mais fortes, começam a surgir as vozes que apontam para um fiasco do país nas Olimpíadas.

Embora não tenha procuração do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), cumpre colocar as coisas nos seus devidos lugares. Hoje, antes mesmo das decisões de ouro e bronze no Vôlei de Praia Masculino, o Brasil já tem 10 medalhas garantidas. Vejamos: já conquistamos 8 medalhas (1 de ouro, 2 de prata e 5 de bronze), mas temos duas medalhas garantidas por estarmos nas finais do Vôlei de Praia Masculino e do Vôlei de Quadra Feminino. Já são 10.

Mas temos reais chances de conquistar o bronze no mesmo Vôlei de Praia e alguma medalha no Vôlei de Quadra Masculino. Além disso, ainda há possibilidades com o Futebol Masculino, Natália Falavigna no Taekwondo e Maurren Maggi no atletismo. se ganharmos estas cinco medalhas, igualaríamos nosso melhor desempenho quantitativo, que foi cravado em Atlanta 1996, com 15 medalhas.

Isto ainda ficaria aquém da previsão mais conservadora que fiz no blog (Palpitão 2), mas está longe de ser um fiasco para um país que, há apenas quatro Jogos atrás, em Barcelona 1992, ganhou apenas 3 medalhas.

Há muito a ser melhorado, especialmente se considerarmos que este ciclo olímpico foi integralmente coberto com verbas da Lei Piva, mas desde que a atual gestão de Carlos Arthur Nuzman assumiu o COB, o país nunca mais ganhou menos do que 10 medalhas (15 em Atlanta, 12 em Sydney, 10 em Atenas e já 10 garantidas em Pequim), enquanto que o máximo conquistado antes tinham sido as 8 medalhas em Los Angeles 1984.

Há uma matéria do Mário Sabino na Veja da semana passada que fala que uma potência olímpica se estabelece no patamar de mais de 20 medalhas olímpicas ("A China quer o Primeiro Lugar", Revista Veja, nº2073, pag.124, agosto 2008). Estamos no meio do caminho. Temos que andar mais, e mais rápido, mas estamos longe dos medíocres e irrelevantes.

DE NOVO OS NERVOS, DE NOVO A OMISSÃO

Mais uma vez estou aqui ruminando uma derrota. As meninas do futebol bateram na trave de novo. O que aconteceu?

No meu entender, são duas coisas. A primeira está dentro do campo: nosso time não sabe ser campeão. Aliás, cabe destacar a afirmação de PC Vasconcellos, na transmissão do Sportv, que apontou para o fato de que a Seleção Brasileira pode ser pior do que a americana. Nós temos duas jogadoras fora de série, o resto do time é de boa qualidade, mas não tem uma estrturura tática.

Mais grave do que isto, nosso time feminino parece ainda estar acometido da síndrome identificada pelo cronista que inspira o título deste blog, Nelson Rodrigues. De fato, quando chegam à decisão, as meninas da Seleção Brasileira aparentam padecer do velho "complexo de vira-lata".

Tal circunstância fica bem clara nas entrevistas pós-jogo, em que Bárbara e Marta questionavam-se o que faltava à Seleção nos jogos finais. Ora, se elas mesmo não sabem o que acontece, deve se tratar de algo muito recôndito, que as impede de jogar normalmente quando a partida encerra a afirmação final da qualidade do trabalho feito pelo time.

Por outro lado - o de fora do campo - voltamos, pela terceira vez, a falar do heroísmo dessas meninas ao se manterem entre as três principais potências do futebol feminino sem um campeonato minimamente estruturado.

Neste ponto, cabe destacar que, se os nervos - ou o inconsciente, como exposto acima - nos traem dentro de campo, a omissão nos impede de ir além nesta modalidade. Não é possível que a CBF não consiga conceber um modelo que viabilize economicamente um campeonato nacional de futebol feminino, ainda que seja de seleções estaduais.

A falta de preparo psicológico para decidir passa pela falta de experiência em partidas decisivas. Como reiteradamente dito na transmissão do Sportv, o Brasil tem um time de futebol feminino, que circunstancialmente é muito bom. Alemanha e EUA têm ligas organizadas, estrutura esportiva que renova, recicla e aprimora as habilidades das atletas, técnicos e dirigentes da modalidade.

Mas este segundo assunto dará "pano para manga" mais adiante.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

SALVE AS MULHERES!

Independentemente do resultado final do Brasil nestes Jogos Olímpicos, um ponto a celebrar é a participação das mulheres.

Já temos duas conquistas inéditas, com Katelyn Quadros no Judô e Fernanda e Isabel na vela. O vôlei de praia pode manter a tradição de trazer medalhas com o bronze por que brigam Renata e Talita hoje à noite.

Para o ouro, nossa maior esperança no atletismo é Maurren Maggi (aparenta estar melhor do que Jadel Gregório), e ainda temos uma boa chance com Natália Falavigna no Taekwondo.

Nos esportes coletivos, as seleções de vôlei e de futebol aparecem com chances maiores do que nunca, esperemos que os nervos ajudem.

Por fim, as menções honrosas à Poliana Okimoto e Ana Cunha, que quase beliscaram uma medalha na Maratona Aquática, e às meninas do handebol, que perderam a vaga para a fase seguinte no detalhe.

domingo, 17 de agosto de 2008

PSICOLOGIA DESPORTIVA: O NOVO PASSO

Lendo o excelente novo blog do Marcelo Barreto, jornalista do Sportv, assim como ouvindo reiteradas considerações sobre o tema na cobertura das Olimpíadas, acho que devo abordar o tema da hora: a eventual falta de preparo psicológico de nossos atletas.

Os brasileiros que chegam como favoritos nos Jogos, já há algumas edições, não conseguem, via de regra, confirmar sua condição e acabam não conquistando o resultado esperado.

O que falta? Como explicar a discrepância entre o desempenho de certos atletas ou equipes nos Jogos Olímpicos e nos Mundiais e outras competições que o precedem?

Tomando o exemplo concreto dos Jogos de Pequim, em que o problema atacou nossos judocas e nossos ginastas, vê-se que, no caso mais recente, que "vitimou" Diego Hypólito, a tendência que tenho visto é que se considere o episódio como uma fatalidade. De fato, como já destaquei em post anterior (Dores do Crescimento), quedas são uma circunstância mais comum do que se pensa na Ginástica de alto nível. O risco assumido pelos atletas é enorme e exige nada menos do que a perfeição na execução dos movimentos que compõem a série. Como não são máquinas, os ginastas acabarão penando com uma queda numa hora decisiva.

Mas por que os nossos casos sempre são nas Olimpíadas? Primeiro, porque os fatos não são exatamente estes. A cobertura da imprensa só se dá de forma ampla e detalhada na época dos Jogos. Quantas vezes será que Jade, Diego e Daiane não cometeram faltas que lhes tiraram pontos preciosos em competições internacionais das quais não houve mais do que uma nota na pé da penúltima página da seção de esportes dos jornais?

Em segundo lugar, novamente a atenção pública. Em nenhum momento, nem nos Mundiais que conquistaram (e neste caso se enquadra até mesmo o Judô que teve seu campeonato sediado aqui no Brasil em 2007), os atletas brasileiros estão em tanta evidência como neste período. A pressão aumenta exponencialmente. São muitas as exigências extra-desportivas e as novas fontes de pressão, por parte de patrocinadores, torcedores, jornalistas ou apenas curiosos que se julgam, até mesmo de boa-fé, aptos a comentar ou dar conselhos sobre o desempenho dos atletas.

Bernardinho, paradigma de treinador, sempre fala da necessidade do estabelecimento do foco do desportista na sua atividade; na mentalização e na concentração absoluta para a execução de cada movimento.

Suspeito que, no caso de Diego, ele possa ter antecipado, já na última diagonal de sua série, que sua tarefa estava praticamente terminada, que o esforço de anos de treino estava prestes a ser justamente premiado. É neste momento em que o atleta se desconcentra e não tem a percepção dos movimentos que deve fazer.

Mas isto pode ser outro "pitaco" de curioso de que falei três parágrafos acima...

No Judô, outras considerações. Tiago Camilo simplesmente foi superado por um atleta que lutou melhor. Já João Derly e Luciano Corrêa pareceram visivelmente contidos no papel de favoritos. Em momento algum impuseram sua condição de campeões mundiais, deixando que os adversários conduzissem os combates.

A questão da preparação psicológica passa por estes temas: a mente e o espírito dos atletas de ponta deve estar condicionada a só pensar na tarefa a ser feita, não em suas consequências. Deve-se pensar na melhor execução possível para as manobras de sua modalidade. Neste ponto, um exemplo notável são as medalhas de bronze de Leandro Guilheiro e Katelyn Quadros. Suas expressões, até o final, foram de absoluta concentração, foco exclusivo na preservação de energia, contenção de emoções e antecipação de estratégias para enfrentar seus adversários.

Outro ponto merecedor de atenção é a postura que deve cercar a assunção da condição de favorito. O limite entre a prepotência e a segurança e a própria imposição psicológica que o atleta mais qualificado deve projetar sobre seu oponente, como vantagem competitiva. Neste caso, já é unânime o modelo estabelecido por Cesar Cielo, que não teve medo de afirmar que ganharia - como ganhou - os 50m livres.

Era esta a mesma postura do Romário, quando garantia que iria marcar os gols necessários; quando prometeu que iria conquistar o tetra.

Por fim, a nossa culpa como torcedores. Vendo o Diego Hypólito pedir, como outros já o fizeram, desculpas pelo seu desempenho, tive a certeza que a pressão que o país põe sobre seus atletas é quase insuportável. Como afirmei no post que inaugura este blog, o esporte talvez seja um dos únicos campos em que o brasileiro consegue exercer seu orgulho nacional.

Os atletas sabem disto, sentem na pele, vêem nos olhos e ouvem nas palavras de quem os aproxima neste período.

Parte disto só se resolve com o maior desenvolvimento da cultura desportiva no país, em que somente um "salvador da pátria" para algumas modalidades, mas na qual tenhamos quantidade suficiente para extrair qualidade de forma constante, tal como fazemos no futebol.

A outra parte só será superada com o treinamento psicológico, com uma maior seriedade em trabalhar o velho lema latino que inspira a prática desportiva: mens sana in corpore sano.

SEM DESCULPAS

Complementando o post anterior, comento a entrevista de Diego Hypólito após a prova em que um erro no final tirou a sua medalha. Muito abatido, mas com muita coragem, prestou seus esclarecimentos aos jornalistas e, ao fim, pediu desculpas pela decepção provocada na torcida.

Indago: por que pedir desculpas? Ele não tirou o lugar de ninguém; foi só ele que treinou e renunciou às diversas coisas da juventude. Ele rigorosamente não deve nada a ninguém. Portanto, também não deve desculpas.

Saibamos reconhecer seu esforço e compreender as vicissitudes de um esporte que é realmente cruel, de modo a desempenhar nosso papel como torcedores, dando força ao Diego Hypólito para que ele supere este momento horrível e possa dar a volta por cima em Londres 2012.

DORES DO CRESCIMENTO

Estou aqui, para usar uma metáfora futebolística bem ao gosto do Presidente Lula, como aquele torcedor que vê seu time perder o título no último minuto de jogo. A queda do Diego Hypólito no final do último exercício foi uma ducha de água fria comparável à refugada do Baloubet du Rouet em Sydney.

A depressão de um torcedor inveterado como eu num momento como este é algo quase insuportável. E é aí que, num exercício que acho que todos nós deveríamos fazer, tentei me colocar no lugar do próprio atleta, e então percebo que nossa eventual decepção, sentimento que nos incomoda, é algo infinitamente menor do que deve assolar aquele que passou toda a vida treinando e se preparando, para que tudo acabe numa fração de segundo.

Esta situação é especialmente cruel na Ginástica Artística, em que os atletas de ponta trabalham com um nível de risco altíssimo, em que a chance de pontuação mais elevada caminha lado a lado com a possibilidade de que um erro mínimo ponha tudo a perder.

Pela segunda oportunidade seguida, os brasileiros se vêem frustrados nas esperanças geradas por dois ginastas brilhantes, que dominavam suas modalidades até então. Mas tal circunstância, como se viu na própria competição de solo, acompanha a realidade desse esporte. Se queremos nos tornar torcedores de Ginástica, temos que conviver com este fato.

Vendo a competição feminina do salto, a constatação acima foi confirmada, ao se ver a atleta chinesa, Feng Chei, favoritíssima, cair de joelhos na segunda passagem.

O que explicaria o insucesso de Diego Hypólito? Talvez uma falta de concentração, ao ver que a série tinha sido executada com perfeição; talvez a ansiedade inconsciente para terminar seu caminho rumo ao momento de consagração. Não se pode afirmar com certeza. Tudo isto pode passar na cabeça de um jovem de 20 anos, que estréia na maior competição esportiva do planeta.

Resumindo: shit happens. Ainda mais na Ginástica.

As grandes frustrações que vivemos decorrem do crescimento de nossos atletas neste esporte. Olimpíadas não são a mesma coisa que campeonatos mundiais. Os resultados dos mundiais e outras competições criam expectativas que antes não tínhamos. O problema que os Jogos Olímpicos são coisa absolutamente distinta, com uma pressão infinitamente maior.

Estou vendo a competição do cavalo com alças. Aconteceu de novo com o atleta americano, que se encaminhava para fazer uma apresentação espetacular, que provavelmente lhe daria a medalha de ouro. Caiu em meio aos exercícios.

Somente há pouco começamos a ter ginastas de alto nível, que brigam efetivamente por medalhas. Estas decepções são do jogo. São as dores do crescimento do esporte brasileiro.

SÍNDROME DO JUVENAL

Instigado por post anterior, o Beto me responde o que seria a "Síndrome do Juvenal" por e-mail, sem postar o comentário.

A referida síndrome se baseia na anedota, já conhecida, do homem que bateria o recorde mundial de relações sexuais seguidas, o Juvenal. Marcada tarde de gala no Maracanã, o desafio que se impunha seria a conjunção carnal com 1.000 mulheres em sequência.

Iniciados os "trabalhos", conforme Juvenal ia marcando seus "gols", a torcida ia ao delírio, crescendo na celebração daquele que representaria a excelência da masculinidade nacional. Entretanto, ao completar a 999a. relação, Juvenal pára, alegando cansaço.

Ao que se segue o coro implacável do Maracanã lotado: "bicha, bicha, bicha".

Ou seja, a pressão para nunca falhar acaba minando a força dos nossos melhores atletas, seguidamente acossados pelo descrédito, não importa quantas conquistas prévias tenham obtido.

Embora possa ser uma explicação, tenho cá minhas dúvidas quanto ao pleno acerto da tese. Abro para discussão.

A PROVA-SÍNTESE: O BRASIL OLÍMPICO QUE QUEREMOS SER

Escrevo mais de 24 horas depois do momento sublime proporcionado por Cesar Cielo no dia 15/08/2008 (ou seria 16?). O ímpeto de lançar um post imediatamente depois foi quase irresistível, mas as noites de judô cobraram seu tributo e, depois de me emocionar profundamente com o "Cesão", acabei dormindo com o controle remoto na mão.

Acordei no sábado em meio ao futebol e ao vôlei (de praia e de quadra) e depois fui cumprir minhas tarefas domésticas, só conseguindo parar agora, após assistir o massacre da Walsh e May-Treanor sobre nossa dupla número 1 no Vôlei de Praia.

Mas a repercussão da conquista no dia de hoje me consolidou a idéia de que a vitória de Cielo nos 50m livres da natação sintetiza as virtudes que se busca encontrar num desportista.

Se as imagens de sexta à noite (sábado de manhã) pudessem ser traduzidas numa palavra, esta seria explosão. A prova dos 50m livres se caracteriza pela explosão imposta aos e pelos atletas, numa profusão de braços e pernas que fazem água jorrar por todos os lados; que provocam um verdadeiro maremoto em piscinas projetadas para não fazer marolas.

Desse torvelinho, surgiu, após pouco mais de vinte segundos, a figura vitoriosa de Cesar Cielo, em nova explosão, agora de emoção, sobre a raia; afundando n'água; socando a piscina; chorando dentro e fora dela.

Esse furor que cerca uma prova e uma vitória dessas faz bem o gosto dos brasileiros, que não ocultamos nossas emoções, mais do que isto, as cultivamos carinhosamente, buscando-as em seu grau mais intenso para conseguirmos extrair momentos únicos de felicidade em cada campo de nossas vidas.

Portanto, a uma primeira vista, a conquista de Cesar Cielo seria a celebração do nacionalmente conhecido "vamo que vamo", a vitória conquistada na marra, na última hora, com uma virada, uma explosão históricas, que redime nosso preparo pouco adequado.

Mas a análise menos superficial revela justamente ao contrário: Cesar Cielo não foi "inventado" de ontem para hoje; não apareceu como um relâmpago surgido do nada. O novo ídolo brasileiro é fruto da abnegação que o levou do aconchego de Santa Bárbara d'Oeste para uma São Paulo gigantesca, especialmente para um menino que vai em busca de treinar com seu ídolo, Gustavo Borges.

O ícone que se cristalizou na noite-madrugada-manhã de meados de agosto de 2008 não se formou em dois ou três dias de apresentação no Cubo d'Água, mas, em anos de dedicação solitária aos treinos em piscinas no Brasil e, depois, nos Estados Unidos, para onde partiu sozinho, sofreu com saudades da família, mas já brilhava intensamente tanto na Natação, como na vida acadêmica, já que fora nadar por uma universidade americana.

A vitória não foi conquistada com paixão, com braços e pernas que se debatem a esmo; mas com razão a cada milésimo de segundo, que se reflete na adequada técnica de cada movimento, e guarda o coração para torná-lo capaz de segurar o fôlego no momento crucial de sua vida desportiva e pessoal.

Ou seja, a paixão explode no momento da vitória, depois de "ver o número um antes do seu nome". Antes só há suor, dedicação, razão, consciência.

A conquista de Cesar Cielo é a conquista de todos os brasileiros, porque ele representa o que um herói olímpico deve refletir: nossa capacidade de ir além de nossos limites; a possibilidade de revelarmos o que temos de melhor, superando nossas fraquezas. Ou seja, nosso povo foi capaz de produzir um que vai além de nós.

Cielo é justamente isto: um herói que nos mostra o caminho a seguir, aquele estreito, íngreme, pedregoso, da dedicação diária, da disciplina, da razão e da concentração. Cesar Cielo é a prova de que se superarmos nossa atávica tendência ao "oba-oba", podemos conquistar o inimaginável e, mais do que isto, podemos extrair nossas já tradicionais alegria e paixão de momentos de razão, dedicação e foco absoluto na tarefa, não no prêmio.

E até no que a vitória de Cielo é só dele, pois o apuro que lhe trouxe duas medalhas e três recordes olímpicos foi obtido no sistema desportivo universitário dos Estados Unidos, ainda assim seu exemplo nos serve de guia, mostrando o caminho do esporte escolar, do esporte universitário como o melhor meio para nos transformarmos efetivamente numa potência olímpica.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

TRADIÇÃO AMEAÇADA NA AREIA

Nossas duas duplas no Vôlei de Praia Feminino se classificaram para as quartas-de-final. O que é uma boa notícia revela, de cara, uma ameça à tradição brasileira na modalidade.

Desde que passou a integrar o programa olímpico, o Vôlei de Praia sempre rendeu medalhas para as mulheres brasileiras: ouro e prata em Atlanta 96; prata e bronze em Sydney 2000 e prata em Atenas 2004.

Agora, no caminho das brasileiras há, de um lado, Walsh e May, ainda invictas em torneios internacionais neste ano; e do outro a dupla australiana que, embora não seja favoritíssima, conta com a Nathalie Cook, atleta que já conhece o caminho do pódio olímpico (foi campeã em 2000 sobre as super-favoritas Adriana Behar e Shelda).

Renata e Talita mostraram muitas inconstâncias no jogo de hoje e Ana Paula e Larissa são uma dupla formada às pressas. Vejo séria ameaça à tradicional coleta de medalhas na areia do Vôlei de Praia e, olhando o quadro como um todo, necessidade de se pensar o que não estamos fazendo para manter nossa hegemonia, pois tivemos duas medalhas nos dois primeiros jogos, sendo que a de ouro de 1996 não se repetiu em 2000; e na última edição, em Atenas, só uma dupla feminina subiu ao pódio.

Torçamos e esperemos que as quartas-de-final sejam um marco de reafirmação das nossas meninas (se vencerem Walsh e May, não vejo quem possa parar Ana Paula e Larissa), mas não vou me surpreender se tiver que tirar mais algumas medalhas da previsão super-otimista do primeiro palpitão, ou mesmo do palpitão 2, com suas expectativas um pouco mais realistas.

JUDÔ: COMEMORAR OU LAMENTAR?

Encerrada a participação do Judô, surge a pergunta: devemos comemorar ou lamentar?

Sob o ponto de vista objetivo - quantitativo -, ganhamos três medalhas, desempenho que não tínhamos desde os Jogos de Los Angeles, em 1984. Entretanto, a expectativa gerada pelo desempenho no Mundial de 2007 acabou dando um sabor amargo aos três bronzes.

Pois bem. Lamentemos: temos três campeões mundiais, dos quais, somente Tiago Camilo ganhou medalha. Veio muito marcado por todos os competidores e não conseguiu reproduzir a verdadeira "avalanche" que o levou ao título mundial. Deu azar numa luta, mas teve brios para buscar o bronze.

Já João Derly e Luciano Corrêa decepcionaram. O primeiro ainda tem a justificativa dos problemas de contusão ao longo de sua preparação. Já o segundo se mostrou muito tímido, sem se impor sobre os adversários. Afinal, ele é ou não o campeão do mundo?

Por outro lado, comemoremos: o Judô se consolida como esporte vencedor no Brasil, mantém a tradição de sempre trazer medalhas (desde 1984) e ainda proporcionou um momento histórico: a primeira medalha individual feminina da história olímpica brasileira.

No saldo, vemos a afirmação de uma modalidade que caminha para uma efetiva popularização (porque não fazermos um Circuito Nacional de Judô, com ampla cobertura, disputa entre clubes e, eventualmente, convidados estrangeiros? - eis um bom tópico para post futuro), mas que ainda precisa galgar um degrau para estar ao lado dos gigantes Japão e França.

O BLOG ESTÁ ESQUENTANDO!

Mais uma vez devo agradecer a minha dezena de leitores, especialmente o Beto, que comenta quase todos os posts, e agora meu irmão, Felipe, que já me deu bronca porque não sei fazer link para o seu blog.

Felipe: sou quase analfabeto em termos internéticos. Já é um fenômeno eu ter conseguido botar este blog de pé - e olha que o Blogger faz quase tudo sozinho...

Quanto aos comentários, convido os outros oito leitores a lê-los e replicá-los. Mas de toda forma, eis questões suscitadas a partir do que já foi dito:

- Beto, o que é síndrome do Juvenal?

- Há paralelo entre a Seleção Masculina de Vôlei com a Seleção da Copa de 2006?

- É aceitável o discurso de que "batemos o recorde sul-americano", "só estar aqui é uma vitória"?
Quebrem o pau!!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

ATITUDE DE CAMPEÃO

Eis que já aparece mais um grande personagem da delegação brasileira nos Jogos de Pequim: César Cielo.

A medalha de bronze conquistada por ele veio com tintas épicas, depois de estar praticamente fora da final com o quinto lugar na sua bateria, e com a chegada rigorosamente ao mesmo tempo que o herói americano Jason Lezak (o último nadador do já mitológico revezamento americano 4x100 livre e, como dito na transmissão de ontem do Sportv, o melhor amigo do Micheal Phelps, com sua impressionante recuperação naquela prova).

Não bastasse isto, fiquei impressionado com o destemor de afirmar que iria ganhar os 50m livre, logo após sair da piscina na final dos 100m. Não duvido, até porque em todas as provas dos 100m livre, ele fez a primeira piscina com excelentes tempos.

A confirmação de sua efetiva possibilidade de ganhar o primeiro ouro da natação brasileira veio pela manhã de hoje, quando cravou, por alguns minutos, o recorde olímpico para a prova.

Esperemos que o desempenho se mantenha constante e até mesmo crescente até a final, para que possamos sagrar um legítimo sucessor de Gustavo Borges e Fernando Scherer (até porque ele tem o porte e a técnica do primeiro e a marra saudável do segundo).

ESPERANÇA E MEDO

Antes de mais nada, dou as boas-vindas ao meu novo leitor... meu irmão Felipe, que, honestamente, reproduziu palpites anteriormente formulados em bolões de que participa e publicou seus erros neste blog.

Devo dizer que meu irmão é outro amante do esporte e exerce sua paixão profissionalmente, na medida em que é jornalista esportivo de mão cheia e conduz o blog Zoação no Extra On Line.

Mais uma vez, agradeço a intensa participação do Beto, leitor nº 1 do blog e aproveito a oportunidade para conclamar mais uma vez meus colegas de Procuradoria a participar, agora que há posts com até três (!!!) comentários... (risos)

Bem, depois de mais uma noite em claro, meus comentários hoje vão para o Vôlei Masculino, que perdeu hoje de madrugada para a Rússia, jogando bem (com exceção do quarto e último set, horrível).

O ataque, que andava meio devagar, voltou a mostrar o fulgor que sempre caracterizou as equipes brasileiras em geral e este time em particular. Entretanto, parece que estamos "encurtando" o braço nos momentos decisivos, revelando o que pode ainda ser um trauma pelas derrotas da Liga Mundial. As bolas do Murilo, que deixou cair, com um golpe de vista mal feito, uma bola que veio de manchete, e do André Nascimento, que só deu um "totozinho" numa bola de cheque (é assim que escreve?), puseram a perder um dos dois sets em que o Brasil estava na frente e deixou a Rússia virar.

Vejo, assim, que a Seleção Masculina de Vôlei nos leva, atualmente, a uma zona que está entre a esperança de ver que, com a volta do brilho de nosso ataque, reduzem-se muito as chances de nossos adversários; e o medo de que o próprio medo esteja tomando a alma de nossos jogadores na hora da decisão de cada set mais apertado.

Portanto, mensagem aos nossos caríssimos ídolos do Vôlei: relembrando Churchill (acho que foi ele que disse isto), "não temos nada a temer, senão o próprio medo". O próprio Bernardinho já disse: a Seleção Brasileira de Vôlei não tem nada a provar para ninguém, só tem a obrigação de jogar o seu melhor. Jogando o melhor, tenho a desconfiança que isto já será suficiente.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

TESTEMUNHA SONADA DA CONSISTÊNCIA DE UM ESPORTE

Estou "batendo cabeça" há três dias. Como vários amigos que me relatam o mesmo sentimento, o Judô é uma das modalidades que mais me dá prazer em assistir. A concepção das regras da própria modalidade, que não permite aos atletas que simplesmente deixem de buscar o objetivo principal do esporte, tornando os embates imprevisíveis até o final e compensem o enorme custo em horas de sono que as competições em Pequim estão me cobrando.

Além disso, há o inegável pendor brasileiro para tornar-se amante daqueles esportes em que somos vencedores. Já foi dito várias vezes pela crônica desportiva, não sem alguma razão, que o brasileiro não gosta exatamente de esporte, mas de ganhar.

Embora não concorde integralmente com a afirmação, ou pelo menos com o contexto em que ela é normalmente feita (e isto será objeto de um post mais adiante), devo reconhecer que a consistência com que o Judô conquistou o posto - ainda que provisoriamente - de esporte que mais glórias olímpicas nos proporcionou (ao menos quantitativamente) serve como um grande chamariz para vários espectadores.

De ontem para hoje, por exemplo, comecei a assistir as transmissões por conta da Mayra Aguiar, que infelizmente foi traída pelo seu ímpeto juvenil logo na primeira luta, mas mostrou um destemor que ainda a pode levar a alturas ainda não imaginadas no Judô mundial. Entretanto, qual não foi a surpresa proporcionada pelo Eduardo Silva, que quase beliscou mais um bronze?

Repito: tal desempenho não vem por acaso. A disseminação do Judô em clubes e, principalmente, em um grande número de escolas por todo o país cria a massificação necessária para produzirmos atletas de elite, que já construíram um estilo e uma tradição genuinamente brasileira da modalidade, efetivamente respeitada ao redor do mundo.

Que a motivação criada pelos nossos primeiros heróis em Pequim possa revelar novas Mayras e Eduardos hoje e no futuro.

FIM DE SEMANA PASSADO, NO GLOBO.

Amigos leitores, o excelente serviço da Velox, que me impede de acessar a Internet a partir da minha casa desde sábado, acabou adiando a notícia de que este modesto blog foi indiretamente referido pelo Jornal O Globo.

Quem lê a coluna do Renato Maurício Prado, viu que ele pediu aos leitores que enviassem seus palpites a respeito do desempenho do Brasil nos Jogos de Pequim. Aproveitei o conteúdo do primeiro palpitão publicado neste blog e enviei para aquela coluna, tendo meu otimismo sem limites sido objeto de comentário expresso por parte do jornalista, que expressou seu espanto por meio de vários pontos de exclamação, relatando que a previsão deste blogueiro foi a mais exagerada de todas.

A este propósito, a previsão do palpitão 1 está mais do que defasada, mas as medalhas inesperadas do Judô, com Ketelyn Quadros e Leandro Guilheiro (como alguém que se pretende torcedor olímpico ignora um atleta que foi medalhista nos Jogos de 2004?!), deixam espaço para que o quantitativo de medalhas corresponda à previsão mais realista feita no Palpitão 2.

Hoje, aliás, espero sinceramente que tal expectativa seja superada, com duas medalhas de ouro para Edinanci e Luciano Corrêa. Desejo otimista, mas longe de ser desconectado da realidade.

sábado, 9 de agosto de 2008

AGAMENON QUE SE CUIDE.

Nos últimos dias, recebi várias notícias de novos leitores. Pelo retorno que estou tendo, Agemenon Mendes Pedreira está ameaçado, visto que estou me encaminhando rapidamente para superar sua marca de dezoito leitores.

Para começar, agradeço o colega blogueiro Fábio Buchecha, que faz considerações muito pertinentes sobre o cinismo de alguns setores da intelectualidade nacional, que desfaz do sentimento patriótico despertado por competições desportivas. O link para seu blog está no próprio comentário. Recomendo.

Agradeço a intensa participação do meu amigo Beto, que não deixou o blog inativo nestes dias em que Velox fez a cortesia de privar-me de conexão doméstica à Internet.

Agradeço, por fim, meus colegas de trabalho, especialmente Batata, Rogério, Nicola, Rolim e Ricardo Sadicoff, que têm frequentemente noticiado a leitura dos posts, mas me confidenciaram estar constrangidos em enviar comentários. Conclamo-os: façam os comentários!!! Todos são publicados e já há até gente que não me conhece pessoalmente fazendo menção ao blog, como se vê pela iniciativa do Fábio, acima mencionada.

COMEÇOU!! (Ou Atropelado de Novo)

Começaram os Jogos e eu, blogueiro inconstante, deixei-me atropelar pelos fatos novamente. De todo modo, vamos por parte, cronologicamente.

Primeiro, antes da abertura. O futebol masculino fez uma estréia morna, em que, ainda que se considere o desentrosamento do time, especialmente o meio-campo esteve abaixo do que pode render. Anderson meio escondido, Lucas errando muitos passes. Valeu pela vitória em cima de uma seleção belga que bate com vontade. Decepção mesmo só o Pato, que não rendeu nada.

No dia seguinte, a cerimônia de abertura. Majestosa, impressionante, criativa. Mas mesmo assim, ainda faltou algo. Achei sensacional o número com os tambores no início; os anéis olímpicos pairando no ar do estádio; os bailarinos pintando a tela no meio do campo e o globo que flutuava enquanto pessoas corriam sobre o mesmo em sentidos que desafiavam a gravidade.

Ainda mais impressionante a forma com que se acendeu a pira, elevando o ex-ginasta Li Ning à parte superior do Ninho do Pássaro e fazê-lo correr no ar para acionar um fogo olímpico realmente gigantesco, como nunca se viu.

Tudo muito lindo e perfeito, mas faltou identificação com a mística dos Jogos, tema que sobrou na cerimônia anterior, em Atenas (mas aí também é covardia, os Gregos são os pais das Olimpíadas).

No primeiro dia, eliminações esperadas no Judô; séria preocupação no Basquete feminino, que entregou um jogo que estava ganho, e uma pequena preocupação no Futebol feminino, que ganhou, mas ainda não convenceu.

Classificação sofrida de Thiago Pereira nos 400m Medley e bonita participação da Gabriela Silva nos 100m Borboleta. Mas as primeiras provas mostram que a vida brasileira na piscina será muito dura. Uma medalha já será um lucro enorme.

Muito boa a primeira aparição de Diego Hypólito, que se classificou em primeiro lugar para as finais do solo. Depois de seu primeiro salto sobre o cavalo, passei a não entender porque não tenta também naquele aparelho, mas se a tática servir para garantir a primeira medalha da Ginástica Brasileira, está valendo.

No mais, estréias tranquilas para as meninas do vôlei de quadra e para Ricardo e Emanuel na areia. Já Ana Paula e Larissa tomaram um susto, mas garantiram também uma vitória.

Bem, é isso aí. Vou tentar não ficar fazendo resumos depois de ser atropelado.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

SINAL DE ALERTA PARA O FUTEBOL FEMININO

Começaram hoje as competições e já com nível de exigência alto para a Equipe Brasileira, que, no futebol feminino, encarou as campeãs mundiais da Alemanha.

Jogo truncado, com chances de parte a parte. Vi o Brasil muito preocupado em marcar, fugindo um pouco de suas características ofensivas. Além disso, o time estava muito "espalhado" em campo, ao contrário de uma seleção alemã compacta, com duas linhas de quatro claramente delineadas em campo.

Vivemos de lampejos individuais, sem demonstrar um sistema de jogo coletivo que desse mais esperança. Entretanto, o nervosismo da estréia adicionado à dificuldade do adversário podem servir de justificativa para uma apresentação que considerei abaixo da média da própria Seleção Feminina de Futebol.

Para complicar, o emparceiramento do grupo aponta que o primeiro da chave em que está o Brasil enfrentará o segundo colocado do grupo em que estão Estados Unidos e Noruega. E o que aconteceu hoje? A Noruega venceu os EUA por 2 a 0 e devem empurrar nossas tradicionais adversárias no futebol feminino para o segundo lugar.

Considerando que a Alemanha no masculino é mestra em jogar com o regulamento da competição debaixo do braço, a passagem para as quartas-de-final podem revelar um obstáculo considerável no caminho das meninas brasileiras.

OLIMPÍADAS, PLURALISMO E PATRIOTISMO

Acabei de assistir o filme oficial dos Jogos de 2004, em Atenas. O que foi concebido como uma grande peça de propaganda individual do Presidente do COI, o belga Jacques Rogge, acaba revelando, para quem o assiste com olhos, digamos, olímpicos, imagens e sentimentos belíssimos.

Devo confessar que cheguei às lágrimas revendo a Cerimônia de Abertura, que evocou o ideal humanista que inspira o Olimpismo e o retorno dessa celebração da humanidade ao seu berço.

Também me emocionei ao ver as tomadas, algumas inéditas, dos momentos de empenho e júbilo dos atletas, inclusive passagens particularmente tocantes para nós brasileiros: o beijo de Ricardo e Emanuel em suas medalhas de ouro, a celebração das meninas do Basquete e a chegada de Vanderlei Cordeiro de Lima no antigo Estádio Olímpico, onde terminou a maratona.

Uma passagem resume bem a beleza e a magia dos Jogos Olímpicos: um dos dirigentes do COI, especificamente responsável pela área de segurança do evento, afirma que a maior proteção das Olimpíadas é a manutenção e a promoção do seu caráter não-sectário, não-religioso, não-político. Em outras palavras, os Jogos são a celebração da natureza plural do gênero humano, em que os triunfos são medidos pelas capacidades essenciais de cada atleta.

Diante de tal constatação, surge a pergunta óbvia: onde há lugar para o patriotismo nesta festa da igualdade entre os povos? (afinal, já foi dito que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas)

A resposta pode estar numa idéia desenvolvida pelo filósofo alemão Jurgen Habermas, que numa discussão sobre a possibilidade da Alemanha, traumatizada pela vergonha do nazismo, desenvolver e demonstrar alguma espécie de nacionalismo. Sua proposta aponta para o conceito de patriotismo constitucional, em que o orgulho de ser alemão deveria residir na capacidade de construir uma sociedade democrática e igualitária depois de afundar na tragédia hitlerista.

Pois bem, o patriotismo desportivo é, talvez, outra das poucas formas saudáveis de nacionalismo, na medida em que o orgulho cidadão é despertado pela celebração de seus heróis olímpicos, pela constatação de que, no panteão de glórias que a cada quatro anos a Humanidade inteira ergue, há um pedaço, maior ou menor, ocupado por alguém que divide algo em comum com cada um de nós.

O patriotismo despertado pelos Jogos merece seu lugar, pois permite que meçamos forças entre nós, sem a necessidade de eliminarmos o adversário, até porque a disputa esportiva pressupõe não só a existência do outro, mas o próprio reconhecimento de seu mérito e de suas virtudes, que só engrandecem nossa eventual vitória.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PALPITÃO 2 (Ou Menos, Fernando, Menos)

Obviamente, o post anterior foi o sonho do torcedor. Eis uma previsão mais realista:

FUTEBOL: 2 de bronze

VÔLEI: 1 de ouro (quadra feminino), 1 de prata (praia masculino) e 2 de bronze (quadra masculino e praia feminino)

JUDÔ: 1 de ouro (Tiago Camilo), 1 de prata (João Derly), 3 de bronze (Luciano Corrêa, João Gabriel Schlittler e Edinanci Silva)

GINÁSTICA ARTÍSTICA: 1 de ouro (Diego Hypólito) e 1 de bronze (Jade Barbosa)

HIPISMO: 1 de bronze (Rodrigo Pessoa)

IATISMO: 2 de ouro (mantenho a aposta original)

TAEKWONDO: 1 de bronze (Natália Falavigna)

ATLETISMO: 1 de prata (Maurren Maggi) e 1 de bronze (Jadel Gregório)

NATAÇÃO: 1 de prata (Cesar Cielo) e 1 de bronze (Thiago Pereira)

TOTAL: 5 de ouro, 4 de prata e 11 de bronze

Como se vê, ainda que se tente ser mais realista, são vinte medalhas, não dando para acreditar em menos pódios do que em Atenas, até porque o COB teve um ciclo olímplico inteiro com recursos da Lei Piva. Um desempenho abaixo daquele apresentado em 2004 seria objeto de severas críticas.

PALPITÃO (Ou Chuva de Ouro, ou ainda, Sonhar não Custa Nada)

Acatando a sugestão da coluna do Renato Maurício Prado, eis meu palpitão, super-otimista, para o desempenho do Brasil nos Jogos: 33 medalhas: 18 de ouro, 3 de prata e 12 de bronze.

Eis a distribuição sonhada por este torcedor:
FUTEBOL: 2 de ouro
VÔLEI DE QUADRA: 2 de ouro
VÔLEI DE PRAIA: 1 de ouro, 1 de prata, 2 de bronze
JUDÔ: 4 de ouro (Tiago Camilo, João Derly, Luciano Corrêa e Edinanci Silva) e 2 de bronze (João Gabriel Schlittler e Mayra Aguiar)
TAEKWONDO: 1 de ouro (Natália Falavigna) e 1 de bronze (Márcio Venceslau)
IATISMO: 2 de ouro (Scheidt/Prada e Bimba)
GINÁSTICA ARTÍSTICA: 2 de ouro (Diego Hypólito e Jade Barbosa/salto), 1 de prata (Jade Barbosa/solo) e 2 de bronze (Jade Barbosa/individual geral e Daiane dos Santos/solo)
ATLETISMO: 2 de ouro (Jadel Gregório e Marilson dos Santos), 1 de prata (Maurren Maggi) e 1 de bronze (Fabiana Murer)
NATAÇÃO: 1 de ouro e 1 de prata (Cesar Cielo) e 3 de bronze (2 com Thiago Pereira e 1 com Kaio Márcio)
HIPISMO: 1 de ouro (Rodrigo Pessoa) e 1 de bronze (concurso de saltos por equipe)

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 12: Atropelado pelo Renato Maurício Prado)

Seguindo o que já virou uma tradição do blog, fui novamente "atropelado" pelos acontecimentos. Estava eu muito pimpão, desenrolando uma longa série de prognósticos neste veículo que atinge cinco leitores, quando me deparei com a coluna do Renato Maurício Prado no Globo de hoje, em que ele faz um grande apanhado de suas previsões para os Jogos.

Em meu benefício, grande parte de suas considerações coincide com os meus palpites.

Entretanto, tendo ele feito de uma tacada só o que eu estava estendendo ao longo de mais de uma semana, não me resta outra alternativa a não ser fechar a série de uma vez. Vamos lá:

HIPISMO: Rodrigo Pessoa é um dos candidatos ao ouro, muito embora Rufus seja uma montaria inferior ao célebre Baloubet du Rouet. Vejo chances de repetirmos os dois bronzes de Atlanta e Sydney na competição por equipes.

TAEKWONDO: Natália Falavigna também é, como dizem os americanos, frontrunner, candidata à medalha de ouro. Márcio Venceslau, se estiver num bom dia, pode beliscar um bronze.

NATAÇÃO: Ao contrário do Renato, sou um otimista, acho que o Thiago Pereira pode se superar e buscar pelo menos uma medalha. Kaio Márcio também tem um jeitão de bronze na sua categoria. As maiores esperanças estão com Cesar Cielo, que tem chances reais nos 50 e 100 metros livres.

ATLETISMO: Com chances de ouro, somente Jadel Gregório e Maurren Maggi, mas sabendo que a luta será duríssima, podendo ambos ficar até mesmo fora do pódio, tal o nível de seus concorrentes. Fabiana Murer talvez possa sonhar com a prata ou o bronze, mas vai ter que estar "na ponta dos cascos". Na maratona, temos Marilson dos Santos que, segundo a Veja (ou a Placar, não me lembro onde li a matéria), pode se beneficiar do ar poluído de Pequim. Seria muito bom encerrarmos os Jogos com o hino nacional, não?

domingo, 3 de agosto de 2008

ERRATA

Só para constar e registrar meu lamentável bloqueio com números: após alertado pelo meu próprio pai (já são cinco os meus leitores: Beto, Rogério, minha sogra, minha esposa e meu pai), percebi que na série de prognósticos passei direto do 4 para o 6...

O que dizer? Sou tão ruim em matemática, que nem contar direito eu sei...

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 11: Ginástica Artística)

Depois de analisar dois esportes que podem aumentar a sua já extensa coleção de medalhas olímpicas, passo a uma modalidade que tem reais chances de conquistar seus primeiros triunfos nos Jogos de Pequim.

Depois da pressão inominável que recaiu sobre Daiane dos Santos na última Olimpíada, nossa Equipe de Ginástica Artística (para mim, outra categoria de nome pernóstico, visto que sempre a conheci como Ginástica Olímpica), tem pelo menos dois nomes com reais chances de medalha: nosso Bicampeão Mundial, Diego Hypólito, no solo; e Jade Barbosa, que pode beliscar medalhas no salto sobre o cavalo, no solo e até mesmo no individual geral, em que obteve um bronze no último Mundial.

Daiane dos Santos, embora tenha sido ofuscada pelo brilho mais recente de Jade, ainda pode surpreender no solo, até porque compete sem a pressão dos Jogos de 2004.

Por fim, espero que a Equipe Feminina chegue às finais. Mais do que isto, é um imenso lucro, embora não seja nada surpreendente, diante da enorme evolução que o esporte tem demonstrado no Brasil.

sábado, 2 de agosto de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 10: Piratas dos Sete Mares)

Se o Judô, como disse no post anterior, pode se tornar a modalidade que mais deu medalhas ao Brasil nos Jogos, uma "ameaça" a este possível reinado (que hoje é do Atletismo) vem dos nossos "piratas" do Iatismo, que não se cansam de colher medalhas dos mares que acolhem as competições olímpicas.

A constância do Iatismo no pódio é anterior àquela do Judô. Desde 1980 a modalidade nos dá pelo menos uma medalha.

Neste ano, as maiores esperanças estão com nosso Bicampeão Robert Scheidt, agora na classe Star, na qual Torben Grael foi nossa referência por muitos anos. Ao seu lado, Bimba tenta confirmar o favoritismo na prancha à vela (que se apresenta nas Olímpiadas sob o enigmático nome de RS:X) e afastar as memórias do pesadelo que lhe privou da medalha na última regata dos Jogos de Atenas.

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 9: Guerreiros do Tatame)

Sempre aproveitando os ganchos que os acontecimentos me dão, este post é feito em homenagem ao comentário de meu amigo Rogério Guimarães, que, no post anterior, teceu comentários sobre a exclusão do Tiago Camilo da lista dos cem atletas de destaque nos Jogos de 2008.

Realmente incompreensível a menção a um judoca que não seja o gaúcho que foi eleito o melhor judoca do ano de 2007, tendo vencido o título mundial de sua categoria com Ippons em todas as lutas. Tiago Camilo é talvez o maior favorito a uma medalha de ouro, não só na delegação brasileira, mas dentre todos os competidores da modalidade.

Mas a Equipe Brasileira de Judô não se resume a Tiago Camilo, vai muito além. Na verdade, o time de judocas tem tudo para catapultar seu esporte ao topo da lista de modalidades que mais deram medalhas para o Brasil.

No masculino, ao lado de Tiago, temos João Derly e Luciano Corrêa como atuais campeões mundiais e naturais favoritos ao ouro. Ainda deve-se ter atenção a João Gabriel Schlittler, prata no Pan de 2007 e bronze no último mundial.

No feminino, temos reais chances de ganhar a primeira medalha, que pode vir na última participação olímpica de Edinanci Silva (como ela mereceria se despedir do palco olímpico com uma medalha!). Mas também pode vir com Daniele Zangrando, que, assim como Edinanci, é medalhista em Mundiais anteriores.

Mas minha maior torcida está com a gaúcha Mayra Aguiar, que com apenas 16 anos não se intimida com nenhuma adversária, como mostrou no Pan do Rio, onde conquistou a medalha de prata. Se conseguir conter a ansiedade normal da juventude, Mayra pode ir muito longe nestes Jogos.

Por fim, vale a pena destacar que para o Judô valem os mesmos comentários que fiz no post relativo ao Handebol (Prognósticos 7). Há muito o Judô mostra uma evolução constante (desde 1984 a modalidade ganha pelo menos uma medalha em cada edição dos Jogos), que se deve muito à sua disseminação nas escolas de todo país, criando uma massa de praticantes e um quadro de competições que produz atletas de alto nível em praticamente todas as categorias.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 8: Glória na Areia)

Para encerrar a avaliação dos esportes coletivos, vamos ao Vôlei de Praia. Introduzido no programa olímpico a partir de 1996, a modalidade nos dá pelo menos uma medalha desde então, tendo sido duas de ouro com Jackeline Silva e Sandra Pires, em Atlanta; e Ricardo e Emanuel, em 2004, nos Jogos de Atenas.

Neste ano, Ricardo e Emanuel têm tudo para se tornarem os 7º e 8º bicampeões olímpicos da história do esporte brasileiro. Já no feminino, a situação de Juliana e Larissa já era complicada antes da lesão da primeira, visto que no caminho da dupla verde-amarela estão as quase intransponíveis Walsh e May-Treanor.

As segundas duplas no masculino e feminino também são fortes e sérias candidatas a medalha, demonstrando também na areia, o caminho de glória pavimentado pelo contínuo planejamento da Confederação Brasileira de Voleibol, que investiu no estabelecimento de um Circuito Nacional que garante mercado para os atletas e garimpa talentos que se transformam em números no quadro de medalhas de cada Olímpiada.

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 7: A Força da Escola)

Ainda no âmbito dos esportes coletivos, das modalidades de quadra, resta ainda palpitar sobre Handebol. No que diz respeito às equipes brasileiras, a masculina está longe de qualquer possibilidade de medalha e deve brigar para fazer uma figura honrosa.

Já a feminina também não se enquadra entre as favoritas, mas o time parece ser mais consistente, podendo, dependendo do dia, produzir alguma surpresa que nos leve a uma posição de maior destaque.

Contudo, o mais importante ao analisar o Handebol não é discutir as chances de medalha ou não, mas constatar que a modalidade é um exemplo claro de como a inserção do esporte na escola pode gerar resultados duradouros. Embora não tenhamos alcançado o status de força mundial, conquistamos as duas medalhas de ouro no último Pan-Americano e temos conseguido seguidas classificações para participar de competições internacionais, mostrando o Handebol uma evolução constante e sólida já ao longo de dois ciclos olímpicos.

E o que isto tem a ver com a escola? Não sei em outros estados, mas no Rio de Janeiro, o Handebol é, silenciosamente, uma das modalidades mais praticadas nos estabelecimentos de ensino. A razão pode estar na facilidade de se adaptar as onipresentes quadras de Futsal para a realização de partidas de Handebol. Deste modo, meninos e meninas podem ter uma iniciação desportiva que fuja do chavão "futebol para moços e vôlei para moças", e criam a massa de iniciados onde serão "garimpados" atletas de alto rendimento.

Este é um tema que certamente explorarei mais adiante, quando já superada a expectativa e as emoções dos Jogos Olímpicos, mas sempre me pergunto como o Brasil, com quase duas centenas de milhões de habitantes, não consegue produzir um contingente mais expressivo de competidores no Atletismo ou na Natação. A ausência de uma política de educação física nas escolas brasileiras é talvez a maior explicação.

O exemplo do Handebol está aí para quem quiser ver. Ainda vamos vibrar com jogadores que nos encantam com uma bola pesada nas mãos. Talvez não agora, mas vale dar uma olhada nos atletas que saíram das nossas escolas.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 6: Meninas de Ouro)

O post anterior, que reproduz o comentário de um dos meus dois leitores, meu caro amigo Beto, serve como excelente gancho para palpitar sobre as chances da Seleção Feminina de Futebol, este sim, um time que acabará empolgando, quem sabe até mais do que a Masculina.

O excelente desempenho das heróicas meninas do Brasil no último Mundial, em que só perderam a final para a Alemanha, despertou um carinho genuíno na torcida em geral e nos boleiros em especial. De fato, a categoria demonstrada por Marta & Cia. despertou novamente a crônica desportiva e os torcedores mais aficionados para a beleza do futebol bem jogado, fazendo com que a corrente pela vitória da Seleção Feminina seja mais do que uma conquista do Futebol Brasileiro, mas uma verdadeira redenção do próprio Futebol como esporte.

No que diz respeito à competição em si, vejo o Brasil no mesmo nível de EUA e Alemanha, podendo qualquer das três levar o ouro para casa. A China tem um retrospecto interessante, mas parece estar numa curva descendente, embora possa correr por fora com o apoio da torcida.

De qualquer forma, se reproduzirem a categoria e a magia com que nos conquistaram no Pan e no Mundial do ano passado, as meninas do Futebol continuarão valendo ouro para os apaixonados pelo esporte, independentemente da cor da medalha que trouxerem.

INDIFERENÇA OLÍMPICA (Post/Comentário)

Como um dos meus dois leitores (meu ibope não é tão grande como o do Agamenon) teve problemas para enviar seu comentário a respeito da Seleção Masculina de Futebol, seguem abaixo as considerações do Beto, sob a forma de post:

"Uma reflexão sobre o futebol.
"Posso estar errado, mas diferente da seleção principal, a seleção olímpica não consegue cair nas graças do torcedor. Desconheço a(s) razão(ões). Talvez a limitação em vinte e três anos faça o torcedor vê-la como um time de garotos, ou porque sendo a seleção cinco vezes campeã mundial tratada de principal, a olímpica passe a ser vista como secundária, ou apenas porque paixão não dá assim tão facilmente. O fato é: parece que o torcedor pouco se importa com os resultados desta seleção. Meu sentimento quanto à seleção olímpica: total indiferença."

terça-feira, 29 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 4: Vôlei Feminino)

Seguindo nos palpites, passemos ao Vôlei Feminino.

A vitória no Grand Prix deste ano mostrou uma Seleção Brasileira muito consistente e com um banco que, se não tem o número de opções que se apresentam ao Bernardinho na Seleção Masculina, permite ao técnico José Roberto Guimarães algumas variações interessantes.

Entretanto, a conquista deve ser vista com moderação, na medida em que os principais adversários estavam desfalcados.

O time nacional tem tudo para finalmente chegar à final e chances concretas de ganhar o ouro olímpico, mas deve tomar cuidado com a China, que tem tradição e a torcida; a Rússia, que, na hora H, nos venceu nos Jogos de Atenas e no Mundial de 2006; com a Itália, que foi a campeã da última Copa do Mundo; e, finalmente, com Cuba, que embora apresente um time renovado, que ainda não emplacou, sempre é um concorrente ameaçador, especialmente para nós, que também penamos em duas Olimpíadas seguidas com elas (Atlanta 96 e Sydney 2000).

segunda-feira, 28 de julho de 2008

AGRADECIMENTOS

Aproveitando um momento de "gazeta" no trabalho, agradeço a todos os amigos que acessaram o blog e enviaram mensagens a este palpiteiro.

Agradeço especialmente ao Beto, autor do comentário sobre o post do Basquete Masculino.

Conto com a leitura de vocês e, mais importante, as críticas e comentários, até porque o blog foi criado para ser um fórum de discussão, não um monólogo de torcedor.

Abraços a todos.

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 3: A Coroa Ameaçada)

Cinco dias sem postagem. Blogueiro amador é um problema, acaba sendo atropelado pelos fatos.

Pois bem, após a notícia do Robinho, que precipitou meus comentários sobre a Seleção de Futebol Masculino, os eventos do fim de semana me levam a comentar a segunda paixão nacional, a nossa Seleção de Vôlei Masculino.

O resumo das finais da Liga Mundial neste sábado e domingo é o seguinte: tomamos dois "vareios". Não vimos a cor da bola. A pergunta que fica é: e aí, temos o tricampeonato olímpico ameaçado?

Temos, como sempre tivemos, agora só um pouco mais intensamente. A história de que o Brasil não teria concorrentes nos Jogos Olímpicos sempre foi mais fruto do oba-oba que caracteriza a torcida nacional do que propriamente uma observação baseada em fatos. Ganhamos quase tudo na Era Bernardinho? Sim, mas nunca sem fortes adversários.

Os EUA que nos bateram no sábado são uma pedra no sapato da Seleção, tendo, segundo as informações veiculadas após a derrota, nos batido sete vezes desde que nosso "Karpolzinho" assumiu o comando do Vôlei Masculino. A Rússia, que nos tirou pela primeira vez do pódio nos últimos sete anos, já tinha nos vencido aqui mesmo no Brasil na final de uma Liga Mundial.

Para além de tais times, temos o Leste Europeu, mais especificamente, Polônia, Bulgária e Sérvia. Todos times altíssimos e cujo jogo é baseado na força. A Polônia é um time muito jovem, fez um Mundial brilhante e tem a tradição coroada por um título olímpico na década de 70.

A Bulgária já nos fez sofrer mais de uma vez e, como esteve fora da Liga, vem treinando com a bola dos Jogos Olímpicos há mais tempo (e isto parece que faz diferença, por depoimentos dados pelos próprios jogadores, que estranharam o novo modelo).

A Sérvia não nos vencia há oito anos. Ganhou um dos jogos da fase inicial da Liga e, além disso, também tem tradição no esporte, herdada da antiga Iugoslávia.

Além destes times, ainda há a Itália, sempre ameaçadora e que deve estar louca por um título olímipico, que deixa escapar desde 1992.

Portanto, ameaças à coroa do Vôlei Masculino sempre existiram. O problema agora é que os outros times, a poucos dias dos Jogos, passaram a acreditar ser possível ganhar do Brasil e, pior, tem dois vídeos que podem ser exaustivamente estudados para tentar reproduzir a tática de americanos e russos.

Entretanto, a Seleção continua com crédito sobrando. Quedas semelhantes já foram superadas (perda da Liga em 2002 e do Pan em 2003) e o time voltou mais forte. Há pouco tempo para tentar construir uma forma de contornar as táticas que nos pararam este fim de semana? Sim, mas a motivação de encerrar um ciclo de oito anos com chave de ouro (literalmente) e colocar seus nomes no rol de uma das maiores equipes de todos os tempos pode ser um forte catalisador para uma nova alquimia de Bernardinho e dos incríveis atletas do Vôlei Masculino, que, vencendo, transformarão mais uma vez lágrimas em suor, e suor em ouro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (ou palpites de nome pernóstico - 2: E a Seleção Masculina de Futebol?)

Depois de um dia sem postar nada, minha intenção era ir comendo pelas beiradas, falando de modalidades sem tanta atenção da mídia, para mais tarde chegar aos esportes de massa.

Entretanto, o affair Robinho acabou precipitando a abordagem do Futebol logo no segundo post da série.

E então, como ficará a Seleção sem Robinho? Há muito tempo o Robinho é o esteio do time do Dunga, o jogador que servia de referência, especialmente nos jogos em que as demais estrelas (Kaká, Ronaldinho Gaúcho) não estavam presentes. O melhor exemplo foi a Copa América, em que o ex-santista comeu a bola.

Realmente, a falta de um Robinho motivado e inspirado é complicada, mas há jogadores no elenco que podem suprir sua falta. Dos atletas com idade olímpica, Alexandre Pato é nome da vez (aliás, as especulações apontavam para que ele fizesse dupla com Robinho). Rafael Sóbis, embora esteja um ou mais degraus abaixo e há muito não faça uma apresentação que empolgue, também tem o mesmo estilo de jogo.

Além destes dois, ainda há Ronaldinho Gaúcho, que, se efetivamente entrar em forma, pode ser o fator de desequilíbrio que Robinho representava. Talvez até mais do que ele. O problema é que o tempo é cada vez mais curto e a agenda do novo jogador do Milan está cada vez mais cheia, com menos espaço para treinos de verdade. Tomara que eu queime a língua.

De resto, a equipe parece bem convocada, especialmente o meio-campo, que se for bem no Torneio Olímpico, pode fornecer algumas soluções para o time das Eliminatórias, especialmente no que diz respeito aos dois volantes (Hernanes, Lucas e Anderson são jogadores infinitamente melhores do que aqueles que têm povoado o meio-campo da Seleção).

Só não entendi a opção pela convocação do Ramires no lugar do Robinho. Se perdemos um atacante com mais de 23 anos, porque não utilizarmos esta opção. Um centroavante goleador seria bem-vindo, pois, sinceramente, não confio muito no Jô.

Cravando o palpite, devemos passar pela primeira fase, mas não sem sustos. A Bélgica é uma incógnita e a China pode complicar na base da empolgação (torcida não lhes faltará...). A partir das quartas-de-final, o caminho passa a ser bem mais complicado, seja qual for o adversário. Isto sem contar com o cruzamento com a Argentina antes da final...

No geral, a Argentina parece ter um time mais consistente que o nosso. Talvez o jogo que defina a sorte do Brasil seja justamente a semi-final contra os hermanos. Se passarmos, temos tudo para conquistar o ouro inédito.

Menos que o bronze pode por o Dunga mais a perigo do que ele já está.

domingo, 20 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (ou palpites de nome pernóstico -1)

Passando a tratar diretamente das expectativas da Pátria Desportiva nos Jogos de Pequim, vou aproveitar o gancho dado (ou não dado, no caso da Seleção Masculina) pelo post anterior e inicio a série de prognósticos - verdadeiro nome pernóstico para os meus "palpites" - com a Seleção Feminina de Basquete.

O time se mostrou um tanto frágil no Pré-Olímpico e ainda perdeu sua melhor jogadora, a Iziane, justamente afastada pelo técnico Paulo Bassul. Se por um lado é um desfalque, a firmeza na condução do episódio de insubordinação pode unir o grupo.

Acredito que se repetirmos a semi-final do último Mundial já será lucro, ainda mais sem a Janeth em quadra.

sábado, 19 de julho de 2008

POR UMA MONARQUIA TEOCRÁTICA

Ontem acabou o sonho do basquete masculino voltar aos Jogos Olímpicos. Encurralado por uma equipe muito mais experiente e com mais recursos técnicos, a Seleção Brasileira, juntada aos trancos e barrancos em meio a defecções vergonhosas e outras em tese justificáveis, mostrou uma garra comovente, mas acabou sepultada pelas bolas de três que outrora foram nosso passaporte para a glória.

Ainda que triste, quem acompanha o noticiário esportivo sabia que esta era uma tragédia anunciada. Mesmo depois de duas Olímpiadas em branco na categoria masculina, entremeadas por dois Mundiais com resultados pífios, a Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) seguiu na sua verdadeira cegueira técnica e administrativa, sem ter conseguido organizar um campeonato nacional digno do nome ou mesmo montar uma Seleção com um mínimo de preparação.

Não perdemos a vaga ontem. Perdemos há meses atrás, quando fomos derrotados pela equipe reserva da Argentina no Pré-Olímpico das Américas, em meio a episódios lamentáveis de insubordinação.

Perdemos durante o longuíssimo tempo transcorrido depois do mesmo Pré-Olímpico, sem a definição de um técnico para preparar a Seleção para um torneio que já se mostrava de enfrentamento complicado.

Perdemos pela inépcia dos dirigentes da CBB, que não negociaram com antecedência a participação ou não dos atletas que jogam na NBA e nas ligas européias. É evidente que a CBB não poderia obrigá-los a ir ao Pré-Olímpico, mas se tivesse se mobilizado logo após o torneio continental, o abnegado Moncho Monsalve saberia com quem contar ou não para montar um esquema de jogo.

Como exaustivamente repetido por toda crônica após o jogo de ontem, os atletas que estiveram em quadra não merecem menos do que aplausos, pois honraram o hino e foram "filhos que não fogem à luta". Também digno de homenagens é o técnico Moncho Monsalve, que permaneceu firme na condução da Seleção, mesmo após ser fustigado pelas seguidas deserções que desfiguraram o time que lhe foi prometido quando a CBB o contratou.

Não conheço o Basquete a fundo, mas a impressão que se tem é que a modalidade vai se consumindo numa fogueira de vaidades. Técnicos, cartolas e atletas querem, na verdade, afirmar-se acima de tudo. Os projetos individuais estão sempre em primeiro lugar. Foi assim com os atletas que desertaram e ainda é assim com alguns técnicos que usam as transmissões como tribunas para fustigar a atuação do colega e pregar que somente eles têm a chave para o jogo correto.

Mas, acima de tudo, é assim com a classe dirigente de tal modalidade. A prova cabal é a queda vertiginosa de prestígio do Basquete Masculino no cenário mundial e, mais do que isto, a "surra" que o esporte vem tomando do voleibol, que há muito lhe tomou o segundo lugar na preferência do público nacional.

A politicagem e a incompetência que parecem estar ditando os rumos da CBB ficam claras até mesmo no sucesso isolado da Seleção feminina, que se classificou para os Jogos Olímpicos apesar de não termos um campeonato nacional decente nesta categoria também.

Ouvindo Oscar e Hortência falarem entre ontem e hoje, lembrei-me de suas heróicas tentativas de manter um time de basquete e de organizarem uma Liga Nacional. Olhando a história e o exemplo do Mão Santa (apesar do próprio não gostar do apelido, pois treinou muito para ter os tiros certeiros que tinha) e da nossa eterna Rainha do Basquete, vejo-me obrigado a despir-me das minhas convicções democráticas e afirmar, que no momento atual, a salvação para a modalidade é uma monarquia teocrática, que repouse na capacidade individual de dois ícones congregar em torno de si um esporte que já nos deu três títulos mundiais e cinco medalhas olímpicas.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O ESPORTE COMO IDENTIDADE NACIONAL

A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos, os amantes do esporte em geral antecipam as generosas doses de emoção que uma competição desta magnitude pode proporcionar. Talvez a maior de todas as sensações a serem experimentadas será o novo encontro da sociedade brasileira com o seu país, a identificação, no esforço de cada atleta verde-amarelo, da noção recentemente tão aviltada, de que há um Brasil que dá certo, de uma nação que sabe, ao mesmo tempo, ser apaixonada e eficiente.
No momento em que o esporte mais uma vez nos resgatará de nosso rodriguiano complexo de vira-latas, que nossa classe dirigente insiste em nos impor, uma outra figura do mesmo Nelson Rodrigues me inspirou a criar este blog: a Pátria de Chuteiras. A perfeita figura criada por esse inigualável cronista desportivo descrevia a seleção brasileira de futebol como o refúgio de nosso nacionalismo, o espelho e a janela do país que admirávamos e que talvez pudéssemos efetivamente nos tornar.
O tempo passou e a cada quatro anos a sentença inapelável se confirma: a Copa do Mundo é o evento que mais mobiliza o país, que verdadeiramente irmana brasileiros na ocupação das ruas e na partilha de um objeto de amor coletivo, a seleção de futebol.
Entretanto, assim como na economia deixamos as monoculturas da cana, do ouro e do café, sem deixarmos de explorá-las cada vez melhor (veja o caso do álcool combustível, orgulho da tecnologia energética nacional), no esporte também deixamos de ser dependentes exclusivos de uma só atividade e, se cada Copa cria um frenesi quase religioso nos torcedores, conseguimos reproduzir o sincretismo dos templos, encruzilhadas e praias, levando nossa fé na "amarelinha" dos campos para as quadras, piscinas e pistas, para tentarmos afirmar nosso valor também em outros esportes.
Esta afirmação nacional se revela de forma inequívoca em outra constatação de ouvi uma vez de Armando Nogueira, outro ícone da crônica esportiva. Ressalvada a imprecisão da citação feita em cima de uma memória de programa de televisão perdido nos anos, diz ele que feliz é o país que celebra heróis forjados nos verdes campos de futebol, em vez dos sangrentos campos de batalha.
Pois é no mesmo Brasil que ri e desconfia de todas as figuras de sua história política que se produz um rol cintilante de desportistas elevados ao patamar de reis e rainhas, aos quais se devota um respeito e uma admiração genuína.
A partir de hoje, a pretensão deste blogueiro neófito e torcedor inveterado será de mostrar como o esporte é um dos mais fortes, senão o maior, elemento de identidade nacional brasileira e, na esteira desta constatação, de apontar caminhos pelos quais ele pode ser uma poderosa ferramenta de cidadania e de transformação social, não só redimindo histórias individuais, mas criando possibilidades de projetos que possam ser vividos comunitariamente, como foram os Jogos Pan-Americanos de 2007 e como serão a Copa de 2014 e, quem sabe, os Jogos Olímpicos de 2016. A partir de agora, a idéia é dividir idéias sobre as competições em si, as expectativas e as lições que possam inspirar o Brasil do futuro, no esporte e na vida.