sábado, 19 de junho de 2010

COMEMORAÇÕES

A destacar dos jogos de sexta-feira são as diferentes comemorações dos gols marcados por Sérvia, Eslovênia e EUA, até porque Argélia e Inglaterra passaram em branco na partida das 15:30h, que de tão horrorosa, não merece comentário algum.

Mas vamos ao tema. Sempre fui fascinado pelas diferentes reações ao que o antigo narrador da Bandeirantes, Alexandre Santos, chamava de "maior momento do futebol". O soco no ar de Pelé; a corrida de Zico em direção da torcida; o punho cerrado de Reinaldo são marcas registradas da obra destes craques, assim como outras expressões de alegria ficaram registradas para sempre nas mentes e nos corações de diferentes gerações de torcedores.

Na Copa não foi diferente: a corrida de braços abertos e rosto transfigurado de Falcão no 2x2 contra a Itália e de Tardelli na final contra a Alemanha, ambos em 1982; a dancinha de Milla junto à bandeira de corner em 1990; a Copa de 1994 foi marcada pela raiva de Maradona junto à câmera, pelo nigeriano Okocha envolvido pela rede do próprio gol que marcara e pelo "embala neném" de Bebeto, Romário e Mazinho contra a Holanda.

O que me chamou a atenção ontem foram justamente três momentos que certamente entrarão para antologia das Copas. Indo pela ordem cronológica, primeiro a comemoração do gol da Sérvia contra a Alemanha. Impressionante a corrida do atleta para o fosso, sua vontade em se jogar em meio à torcida, que por sua vez se projetava em direção ao jogador, numa celebração alucinada de sua paixão pelo país.

O nacionalismo sérvio é uma característica reconhecida ao povo que constituía a maioria na antiga Iugoslávia, sendo até mesmo vetor de atos deploráveis, como a ocupação no Kosovo de consequências humanitárias nefastas. Entretanto, abstraídas as patologias que sempre nos retornam à conhecida máxima de que o "patriotismo é o último refúgio do canalha", é um traço desta população o apego fervoroso às cores e aos valores que os identificam como pertencentes a uma história comum.

É fácil perceber na torcida da Sérvia os braços levantados com as mãos fazendo um "três" com o polegar, o indicador e o médio, sinal distintivo de seu pertencimento à sua nação. Quem quiser rever o mais famoso gol do sérvio mais conhecido do Brasil, Petkovic, verá que ele faz o mesmo sinal com as duas mãos, antes de desabar com as costas no chão após o terceiro gol na final do tricampeonato do Flamengo contra o Vasco.

Realmente fiquei tocado pela mensagem que apreendi da comemoração de ontem de manhã. Parecia que o jogador queria dizer à torcida: ofereço este gol a vocês; esta é a minha contribuição para nossa comunhão nacional.

Saindo da exaltação nacionalista para a brincadeira pura e simples. Desde 2002 tenho uma incontrolável antipatia pelo futebol da seleção da Eslovênia, que me parecia um similar eslavo da insuportável retranca grega, o que era agravado por serem os eslovenos herdeiros de parte do futebol tradicionalmente envolvente da antiga Iugoslávia.

Entretanto, reconheço que a dancinha descompromissada a cada gol tem desfeito a má impressão que eu tinha, trazendo a imagem de um bando de peladeiros que não são grande coisa, mas que adoram jogar bola juntos. Como rematado perna-de-pau que sou, devo confessar que passei a me identificar com os eslovenos...

Por fim, a pilha humana formada em cima de Bradley após o empate americano no mesmo jogo, uma celebração incontida da coroação do esforço que transformou uma derrota de 2x0 num empate que manteve as esperanças dos Estados Unidos na Copa. Uma história de superação com um final triunfante, bem ao gosto hollywoodiano.

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