sábado, 25 de outubro de 2014

PORQUE ANTES DE DESPORTIVA, É A PÁTRIA.

Relutei muito em usar este bloguinho para falar de eleição, pois dentre minha meia dúzia de leitores, estatisticamente algum deve ser eleitor da Dilma. Mas o blog veicula minhas ideias a respeito do esporte como fator de identidade nacional, e acho que um espaço que tem "pátria" no nome não pode se furtar a tomar posição.

Para tanto, estava escrevendo um post enorme, que provavelmente ninguém iria ler. Estava tão grande que o blog travou duas vezes. Na segunda, como não conseguia fazê-lo voltar a funcionar, fui navegar no Face e vi, postado pelo meu colega Gabriel Quintanilha, um vídeo dé um líder politico canadense discursando após o ataque terrorista ao Parlamento daquele país. E aí me veio a necessidade de apagar todas as análises chaaaatas que eu estava fazendo, para tentar parafrasear o referido parlamentar do Canadá. Lá, ele falava que mato de terror não poderia mudar a forma pela qual a sociedade canadense vive. Que uma violência daquela não poderia ditar a vida nos espaços publicos do Canadá.

Eles têm razões para se orgulharem do que são e do que fizeram. Nós, nem tanto. Somos ainda uma sociedade muito desigual e, pior, pouco afeita à convivência democrática. Esta é a dura realidade. E, pior do que isto, parecemos querer nos condenar eternamente à uma adolescência política, em que esperamos iluminados guias para nos conduzir a um paraíso na Terra.

O impeachment de Collor e o governo de coalizão que se formou em torno de Itamar Franco pareciam apontar para um momento de maturidade, em que teríamos renunciado definitivamente às "soluções mágicas", às "balas de prata" e aos voluntarismos que pautaram a Republica desde o seu nascedouro. O Plano Real, o governo FHC e a própria eleição de Lula confirmavam está impressão: previsibilidade, responsabilidade e alternância pacífica de poder.

Entretanto, as coisas visivelmente degringolaram. Os 8 anos mais ganhos pelos PT nos brindaram com a volta desenfreada do patrimonialismo e da velha política de conchavos entre os grandes, e do voto de cabresto para com o resto da população.

O discurso canadense é de perseverança na sua identidade nacional, na preservação do caráter democrático daquele país. O nosso deve ser de retomada de nossa transformação.

Temos pouco do que nos orgulhar de nossa história política, mas estávamos no caminho para reconstruí-la. O patriotismo constitucional que já citei aqui neste blog, é a resposta alemã para a vergonha do holocausto. Eles se orgulham de terem formado uma democracia constitucional dos escombros do terror nazista.

Nós também temos esta oportunidade. Depois de um Império construído sobre as costas de escravos, de uma República fundada por uma quartelada é pontuada por mais de 35 anos de ditaduras diversas (Floriano, Vargas e Regime Militar), estamos mantendo um sistema democrático, um Estado de Direito constitucional há mais de 25 anos, isto tudo aliado à nossa tradição de consenso e de solução pacífica dos conflitos.

Pois bem, voto Aécio, não porque ele é um santo, mas justamente porque ele se assume humano diante dos desafios de governar o Brasil. Porque ele representa uma tradição de respeito democrático que teve seu ápice na capacidade de articulação de seu avô, Tancredo Neves, que derrubou a ditadura sem pegar em armas. Porque ele se opõe a um partido que aposta na divisão dos brasileiros e que mal consegue disfarçar sua vocação autoritária.

Precisamos de alguém com compromisso induvidoso com a manutenção da ordem constitucional; de um candidato que não se disponha a transigir com valores democráticos; de um Presidente avesso a voluntarismos, que busque consensos institucionais, em vez de flertar com aventuras plebiscitárias e tentações bolivarianas.

No Canadá, o discurso é para manter a identidade de que os faz uma nação orgulhosa do que é. Aqui, o voto é 45, para seguirmos mudando nossa história, para buscarmos o orgulho do país que ainda podemos ser.

Voto Aécio, porque ele não promete me salvar, mas porque ele se compromete em pôr o Estado para me servir, como deve ser. Passamos a nossa história republicana buscando messias que nos redimiriam dos nossos pecados nacionais. Como já dito em outras paragens, somente nossas obras nos redimirão. Temos um governo que nos diz que melhorou a nossa vida, e que, na esteira dos absolutistas franceses, depois dele, só há o dilúvio.

Ninguém melhorou a minha, a sua ou a nossa vida. NÓS fazemos isto a cada dia, com nossas pequenas e grandes escolhas. Não acredito em quem me promete que tem consigo a MINHA salvação. Meus risos e minhas dores são fatos da MINHA vida e do meu trabalho, não são uma dádiva de um Governo. Assim é com cada um de nós.

Não quero "pais do povo" cobrando adesão incondicional. O Brasil trocou seu destino várias vezes em busca de uma tutela milagrosa que nunca veio, e nunca virá. Chega de originalidades históricas; chega de aventuras governamentais. Passou da hora de amadurecermos como Nação. Precisamos de um governo que nos trate como adultos, responsável e transparentemente, e não de alguém que nos aconselhe a trancar a porta com medo do bicho-papão.

Eu voto Aécio. #forabolivarianos

terça-feira, 8 de julho de 2014

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 1 x 7 ALEMANHA: A Colheita é Obrigatória.

Vejo futebol desde cedo. O primeiro jogo que lembro é Flamengo 3 x 2 Atlético/MG, final do Brasileiro de 1980. Portanto, tenho 32 anos de torcida. Nunca vi um time tomar cinco gols em 30 minutos. Tomamos um baile. É uma humilhação para o resto dos tempos, a culminância da balbúrdia e do desmando que toma o futebol brasileiro. Mas isto é material para outro post. Eis as notas:

JÚLIO CESAR: talvez, o menos culpado do desastre de hoje. Aliás, salvou pelo menos duas bolas que aumentariam o vexame. - 7,0

MAICON: perdido no apoio. - 3,0

DANTE: totalmente envolvido na maioria dos gols. - 2,0

DAVID LUIZ: ainda que tenha tentado até o final, quando o time toma sete gols, o zagueiro não pode ter boa nota. - 3,0

MARCELO: o corner que gerou o primeiro gol saiu de erro seu, que teve correr de volta e ceder o escanteio. Vários dos gols saíram pela esquerda. - 2,5

FERNANDINHO: horrível. Perdeu bolas, errou botes, não ajudou na armação. - ZERO

PAULINHO: entrou melhor, buscou o ataque, mas ainda assim, a Alemanha continuou dominando o meio-campo. - 3,5

OSCAR: injustamente vaiado, foi outro que buscou o jogo. Começou a partida empenhando-se em roubar bola, como sempre. Acabou marcando o gol de "honra" (como se houvesse alguma restante no dia de hoje) - 5,0

HULK: também errou tudo que tentou. Outro com desempenho horroroso. - ZERO

RAMIRES: mais um substituto que buscou alguma reação, mas deixando o meio-campo para a Alemanha. - 3,5

BERNARD: não produziu nada no primeiro tempo, ainda conseguiu algumas jogadas no segundo. - 4,0

FRED: absolutamente nulo, culminando uma Copa para esquecer. - ZERO

WILLIAN: muita firula, pouco resultado. - 2,0

LUIS FELIPE SCOLARI: pecou pela soberba, montou o time completamente errado, pela presunção de achar que poderia fazer frente à Alemanha. Está visivelmente superado, como praticamente TODOS os treinadores brasileiros pretensamente de ponta. - ZERO

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SELEÇÃO DAS QUARTAS

Como sempre, a seleção das Quartas-de-Final, em cima da hora das semis (e já está bom, pois saiu antes do primeiro jogo!!). Vamos de novo de 4-4-2:

NAVAS (Costa Rica): como o goleiro que o Van Gaal tirou da cartola pôs os Ticos fora da semifinal, Navas fica novamente à frente do gol da Seleção da Rodada. Foi ele o responsável pela Costa Rica ter mantido a invencibilidade no Mundial. Parou o ataque da Holanda.

KUYT (Holanda): dedicação total ao time. Embora tenha atuado com mais ênfase no apoio, é impressionante lembrar que o holandês é atacante de origem.

KOMPANY (Bélgica): comanda com incrível segurança a zaga belga. Ainda que tenha tomado uma caneta de Higuaín e não tenha conseguido mandar os "hermanos" para casa, mostrou grande categoria e dominância quase todo o tempo do jogo.

DAVID LUIZ (Brasil): simplesmente sensacional. Faz uma Copa incrível. Comandou a zaga junto a Thiago Silva e marcou um golaço. Se conseguirmos o Hexa, é sério candidato a ser o craque do Mundial.

MARCELO (Brasil): um pouco por falta de concorrência e um pouco pelos méritos inquestionáveis na opção que dá para a saída de jogo brasileira, o lateral do Real Madrid volta mais uma vez a figurar na seleção da rodada.

FERNANDINHO (Brasil): voltou a mostrar uma impressionante consistência na mescla entre proteção à zaga (anulou James Rodriguez quase o tempo todo) e apoio à armação.

MASCHERANO (Argentina): discretamente vai se consolidando como um dos melhores volantes da Copa. Assim como fez no jogo contra a Suíça, dominou novamente o meio-campo e soube participar eficientemente da distribuição de jogo.

POGBA (França): foi quem tentou levar Les Bleues à frente. Fez uma grande Copa e dominou o meio-campo francês.

SNEIJDER (Holanda): está crescendo na reta final. Aparece mais no apoio ao ataque e se firmou como a referência na distribuição de jogo da Holanda.

ROBBEN (Holanda): continua aterrorizante em suas desabaladas carreiras pelo lado do campo. Um verdadeiro azougue que perturba a defesa adversária do começo ao fim do jogo. Até agora, é o melhor da Copa, até porque James Rodriguez não conseguiu aparecer contra o Brasil.

MÜLLER (Alemanha): outro monstro. Movimenta-se por todo o campo, arma o jogo, puxa contra-ataques, ajuda a defesa e faz gol (embora tenha passado em branco neste mata-mata).

JOACHIM LÖW (Alemanha): embora Van Gaal tenha ganhado destaque na mídia pela ousadia de trocar o goleiro, fato é que a Holanda penou para conseguir passar pela Costa Rica. Já a Alemanha dominou completamente a França, jogou o que era preciso para chegar à quarta semifinal seguida. Méritos para um técnico que soube convocar e sabe variar a escalação e o esquema de acordo com a necessidade de cada partida.





sábado, 5 de julho de 2014

UMA AUSÊNCIA, OUTRA METÁFORA

A contusão de Neymar tomou proporção de verdadeiro drama nacional. Já vi inclusive gente protestando contra a preocupação do país com o destino de uma só pessoa. Um recado a estes: deixem de ser chatos. Tentar negar o poder de mobilização da Copa é ignorar a história e, mais do que isto, fechar os olhos à realidade com que já estamos convivendo há mais de vinte dias. E não é só aqui no Brasil. O Mundo para a cada quatro anos.

Posta esta premissa, a lesão de Neymar e a falta que ele fará ao nosso time é uma boa oportunidade para termos um aprendizado como Nação. Em certa medida, a presença dele em campo reforçava um vício brasileiro. Não só no futebol, mas na vida como um todo. É evidente que nosso time tem limitações; que o planejamento para esta Copa foi no mínimo criticável, na medida em que fomos resgatar um treinador já na sua curva descendente, depois de inventarmos um técnico que visivelmente não tinha currículo para comandar a Seleção. Entretanto, o fato de contarmos com Neymar em nossas linhas criava o sentimento de que as coisas poderiam ser resolvidas "magicamente". Jogar-se-ia a bola para ele e sua capacidade individual resolveria nossos problemas.

Fazendo jus à nossa herança cultural, reproduzimos em tudo, e também no futebol, o Sebastianismo que assombrou nossos patrícios por muito tempo. Explica-se: Dom Sebastião era um Rei de Portugal que desapareceu durante as Cruzadas e, durante muito tempo, nutriu-se a lenda de que ele retornaria para liderar os portugueses. Ou seja, Dom Sebastião voltaria para, magicamente, resolver os problemas da Nação.

Durante muito tempo, confiamos os destinos da Nação aos "Defensores Perpétuos", a projetos de "Generalíssimos", a "Pais dos Pobres" ou aos "Nossos Guias". Estamos sempre à procura do pai que nos conduzirá a "Terra Prometida". No futebol, a extrema fortuna de termos contado com Pelé nos fez todos viúvas do gênio que venceria as partidas sozinho; que, também magicamente, instilaria a arte vista em 1958, 1962 e 1970 em elencos muito distintos daqueles que cercavam o "nosso" Rei.

Atravessamos um longo deserto de 24 anos até aprendermos que somente com o trabalho duro e um time organizado voltaríamos a vencer. E ainda assim creditamos a conquista de 1994 majoritariamente a Romário. A conquista de 2002, tendo contado com três jogadores singulares (Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo - e este nem acho que seja o gênio que muita gente diz que é), reforçou nossa crença em soluções fantásticas.

Pois bem, Neymar era prova de que Deus seria brasileiro, tendo nos agraciado com mais um fora-de-série. E bola nele que ele resolve.

Mas agora estamos sem Neymar. E vamos encarar a Alemanha. E temos também que encarar a realidade: ao contrário do que se repetiu a vida inteira, não somos mais o país do futebol. São os alemães os verdadeiros "donos da bola". Em Copas, podem não ter ido a todas, mas são eles que têm mais jogos realizados e que estiveram mais presentes entre os quatro primeiros (13, em 18 Copas). São eles também que têm o campeonato que põe mais gente no estádio, em todo o Mundo; e são eles que têm o maior número de jogadores federados.

Mais do que isto, são eles que estão jogando bem. Agora são Götze e Müller que dominam a bola com categoria; são Schweinsteiger e Özil que distribuem o jogo com inteligência e precisão.

Em suma, eles são melhores. São mais organizados. E são simpáticos, souberam chegar no nosso país e integrar-se às nossas tradições e idiossincrasias. Não dá nem para odiá-los, como fazemos com os argentinos, cuja torcida com frequência se comporta da pior forma possível.

E agora? Agora vamos ter que superá-los com o que temos. Cada jogador terá que dar 110%, pois não contamos mais com o craque que tudo resolveria. Se perdermos, não haverá vilão a ser execrado; não haverá um heroi sobre o qual depositarmos a culpa por não ter decidido sozinho. Se perdermos, perderemos todos. Juntos.

E juntos também venceremos, se vencermos. Esta é a oportunidade de abraçarmos a metáfora criada para nós. Temos um mundo de desvantagens para os alemães, tanto dentro, quanto fora do campo. Mas uma vitória na próxima terça seria um poderoso símbolo coletivo de superação, de união e empenho. Sem mágica.

Será a vitória da solidariedade, em que um corre pelo outro, como foi dito momentos antes da Seleção entrar em campo ontem. E em que todos correm por aquele que não pode mais correr. Da mesma forma que deveria ocorrer aqui fora.

E por que deveriam fazê-lo? Porque é uma Copa, e nestes momentos nossa identidade nacional exige que sejamos bons como raramente somos em outras horas. E mais do que uma Copa, é o Mundial que estamos tendo em casa; o torneio organizado para que tivéssemos a oportunidade de resgatar um dos maiores traumas coletivos da nacionalidade. Temos a oportunidade de fazer a festa que mais gostamos de celebrar, todos juntos. Jogadores e torcedores. Time e povo.

Mas, como estamos em casa, a vantagem e a razão da ânsia quase insuportável de glória só se justificam se, além dos jogadores, cada um de nós faça a sua parte. Argentinos estão tirando onda nas arquibancadas. Os alemães fazem mais barulho que nós em qualquer jogo. A torcida não poderá ficar somente assistindo a partida, vai ter que jogar junto. O dever cívico de terça-feira é sair rouco do Mineirão.

Estamos sem o Capitão; sem o craque e o avô de um de nossos melhores jogadores acabou de falecer. O adversário é o melhor time da Copa. Mas a noite mais escura precede o nascer do sol.

Chega de metáforas. Vamos 'pra cima deles Brasil!!

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 2 x 1 COLÔMBIA: Entre a Alegria e a Dor.

Como todos já sabem, o jogo de hoje, que poderia marcar uma atuação pouco melhor da Seleção, acabou sob uma nota triste, a lesão do nosso Menino de Ouro, que não mais jogará nesta Copa. Mas este é um assunto para outro post. Agora, o que importa é a cornetagem:

JÚLIO CÉSAR: não podia fazer outra coisa no pênalti e saiu bem do gol, todas as vezes que foi acionado. - 6,5

MAICON: embora não tenha feito um grande jogo, tem a vantagem de não comprometer, como é hábito do antigo titular. - 6,0

THIAGO SILVA: premiado com o gol, foi um gigante na zaga e muito mal advertido pelo árbitro. - 9,5

DAVID LUIZ: ainda melhor do que seu parceiro de defesa. Fez um golaço e arrasta a torcida a cada jogada. - 10,0

MARCELO: continua sendo uma boa alternativa para a saída de bola, além de estar cumprindo bem suas funções defensivas. - 7,5

FERNANDINHO: um ótimo primeiro tempo. Sacrificou-se para não deixar James Rodriguez jogar. - 7,0

PAULINHO: começou bem, mas perdeu fôlego no segundo tempo. - 6,0

HERNANES: não teve tempo de mostrar a cadência que venho pedindo (e que espero que ele tenha) - SEM NOTA

HULK: muito atuante no primeiro tempo, começou a errar tudo no segundo - 6,5

RAMIRES: o empenho de sempre, mas que não parece acrescentar muita coisa ao meio-campo - 5,5

OSCAR: continua sendo um excelente ladrão de bola, dedica-se a todas as jogadas. Hoje centralizou-se quando o time estava com a bola, mostrando uma ligeira melhora em relação às partidas anteriores. Com a contusão de Neymar, pode ser ele o "novo Amarildo". - 7,0

NEYMAR: não é por conta da comoção provocada pela sua lesão que eu vou dourar a pílula. Errou tudo o que tentou. - 3,0

HENRIQUE: contribuiu com um importante bloqueio a um chute colombiano. - 6,5

FRED: está mais participativo, todavia, precisa ameaçar mais a meta adversária. Ainda erra muito na função de pivô. - 5,0

LUIS FELIPE SCOLARI: acertou ao barrar o Daniel Alves, mas precisa ousar mais. A substituição de Hulk por Ramires é muito "quadradinha" - 6,0

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MENOS, DAVID, MENOS...

Lutando contra a síndrome de abstinência desencadeada por dois dias sem jogos, deparei-me com um post que anda circulando pelo Facebook, chegado a mim por dois caminhos diferentes, compartilhados pelos amigos Marcus Vinicius Cruz e Rodrigo Mascarenhas. Trata-se de texto publicado por Dàvid Ranc no site do FREE - Football Research for a Enlarged Europe (como não sei inserir link, aí vai a referência do blog: ), sob o título: A Copa do Mundo de 2014 no Brasil: Melhor Organizada do que os Jogos Olímpicos de Londres 2012?

Pelo que percebi, tal seria a constatação de que todas as críticas à organização e preparação da Copa 2014 foram infundadas e decorrentes de preconceito contra países emergentes. Ainda que efetivamente haja, na Europa e nos EUA, uma carga enorme de estereótipos sobre países como o Brasil, desqualificando antecipadamente nossa capacidade de realização, devemos reconhecer que o processo de preparação da Copa no nosso país mais confirmou do que diminuiu tal percepção...

Não bastasse tanto, achei a análise de uma superficialidade quase infantil, trazendo exemplos que pouco endossam a tese sustentada pelo autor. Vejamos. Vou invocar cada trecho do texto original (em tradução livre) e fazer meus comentários a cada um deles:

"Os estádios não estariam prontos a tempo...Se eu não estiver errado... todos os estádios estão prontos e sendo usados para a Copa": só faltava algum estádio não estar pronto... O fato dos doze (ao contrário dos oito mais racionalmente propostos pela FIFA) estádios estarem prontos é o mínimo que se pode esperar de quem quer sediar uma competição esportiva. Mas o pior é que nem todos os estádios estão prontos, e muito menos a tempo. Todos os estádios estão aptos a receberem partidas, mas não necessariamente prontos. A Arena Corinthians, monumento à irresponsabilidade pública, é o maior exemplo. Há inúmeros pontos da construção por concluir, como fartamente noticiado não pela imprensa europeia, mas pela mídia brasileira, inclusive aquela mais crítica e pretensamente isenta. O Linha de Passe de uma ou duas semanas antes da Copa sentava a marreta no estádio. Não bastasse tanto, quase nenhum dos estádios foi concluído a tempo, muitos deles foram entregues muito após a data-limite de 31/12/2013. Em outras palavras, descumprimos o compromisso assumido quanto à entrega a tempo para realização de testes. Isto para não falar no entorno das arenas...

Depois desta afirmação introdutória, Dàvid Ranc passa a fazer comparações com os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012:

"Muitas sedes estavam quase vazias em muitos dos primeiros eventos olímpicos.": aqui, o Autor compara bananas com laranjas. As competições a que ele se refere são eventos de esportes que ganham destaque somente no programa olímpico, tais como hóquei sobre a grama, tiro esportivo e outros menos cotados. Nada contra, até mesmo considerando a histeria deste escriba, que em 2012 parou para ver até mesmo as competições de tiro com arco, e outro dia mesmo ficou vendo emocionantes disputas de curling. Entretanto, não há como se comparar o apelo de um jogo de Copa do Mundo (ainda que seja Coreia do Sul x Argélia, que por sinal foi excelente!) com eventos de menor expressão numa competição multi-esportiva como os Jogos Olímpicos. Além disso, londrinos estão no circuito habitual de grandes eventos atléticos, ao contrário de brasileiros, que tentaram aproveitar uma oportunidade que não terão nesta mesma geração. Portanto, a demanda por ingressos nada tem a ver com os méritos organizacionais dos brasileiros.

"O Exército teve que ser mobilizado para suprir as falhas da G4S, a empresa privada que o comitê organizador contratou para a segurança dos jogos. Com efeito, G4S não contratou guardas suficientes para os Jogos Olímpicos.": aqui, o autor simplesmente resolveu ignorar os graves episódios de invasão do perímetro do Maracanã, um deles com depredação de parte do setor de imprensa do estádio, em que dezenas de chilenos passaram como uma manada até serem contidos pelos Stewards. Houve inclusive necessidade de mobilização de forças policiais nos jogos seguintes, a fim de prevenir novos episódios.

"O Brasil tem sido acusado de exagerar no controle de manifestações... Todavia, as autoridades britânicas exageraram ainda mias do que o governo brasileiro quando no que tange à segurança. Vejam só: o Exército foi autorizado a instalar mísseis anti-aéreos em propriedades privadas próximas a sedes de eventos olímpicos.": com certeza o Autor (e isto é desculpável) não lê o noticiário da Grande Tijuca. Até mesmo os temíveis mísseis anti-aéreos foram igualmente cogitados. As instalações seriam feitas nas redondezas do Andaraí, bairro que, pela auto-rejeição dos moradores, se torna menor a cada dia. Além disso, o Reino Unido foi alvo de ataques terroristas. Desde quando a preocupação com segurança é um defeito? Chegar a qualquer estádio na Copa 2014 (e eu fui a três diferentes) foi um festival de identificação de diferentes tropas: Guardas Municipais, contingente ordinário de policiais, tropas de choque, Exército, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Fuzileiros Navais...). Aqui, não há um defeito propriamente dito, mas tão somente uma demonstração da miopia que contamina a análise do autor em questão.

"O invasor no desfile da cerimônia de abertura que chocou muita gente na Índia...": no Brasil, até onde vi, não ocorreu uma, mas três invasões de campo. Na última, durante Bélgica e EUA, o engraçadinho ficou quase dois minutos passeando pelo campo até que a segurança conseguisse retirá-lo. Isto para não falar no protesto feito por dois participantes da festa de encerramento da Copa das Confederações no ano passado...

"O Comitê Organizador mostrando uma bandeira sul-coreana no lugar daquela da Coreia do Norte...": neste caso, sempre podemos lembrar do jogo França x Honduras, em que as equipes se perfilaram, cumprindo o protocolo de abertura da partida e... não conseguiram ouvir seus hinos nacionais... E logo com a Marselhesa, um dos hinos mais bonitos e conhecidos do mundo!

Em outras palavras, não estou querendo dizer que a organização da Copa é um fiasco. Como já era esperado, na hora em que a bola rolasse, tudo iria acabar funcionando, ainda que tenhamos que ter decretado dezenas de feriados municipais nos dias de jogo, a fim de garantir um mínimo de operacionalidade às cidades-sede, ao contrário do paraíso da mobilidade urbana pernosticamente prometido pelo Governo.

Ou seja, o diagnóstico amargo que fiz antes da Copa, de que a perdemos fora do campo, continua valendo. Não estamos tomando uma goleada, até porque nosso povo supriu a inépcia governamental de que somos eternamente reféns. Invocar estudos mal-feitos, facilmente rebatíveis num post feito em menos de meia hora, não vai nos ajudar a melhorar para um desafio ainda maior, que está a 764 dias de distância.




quarta-feira, 2 de julho de 2014

SELEÇÃO DAS OITAVAS

Depois de oito partidas muito acima da média desta mesma fase em outras Copas, eis a Seleção das Oitavas de Final, que vai num 4-4-2

JÚLIO CÉSAR (Brasil): a disputa aqui foi acirrada, pois os arqueiros brilharam intensamente em todos os jogos. Defesas em profusão tornaram difícil a escolha que pareceria normal depois da jornada épica (e melodramática) do Mineirão. Quantos concorrentes! Mas eis os critérios de desempate: Ochoa, Benaglio, M'Bohli e Howard fizeram até mais intervenções do que o brasileiro, mas acabaram não conseguindo salvar suas equipes. Navas, da Costa Rica, esteve à frente da meta de time classificado, mas só defendeu um pênalti. Portanto, Júlio César ganha no photochart. Nem tanto pelos pênaltis, mas pela defesa monumental no tempo normal de jogo.

LAYÚN (México): segunda aparição do mexicano numa Seleção deste blog. Apoiou com consistência e o fato dos gols holandeses terem saído ambos de jogadas da esquerda mostram sua eficiência na defesa.

HALLICHE (Argélia): o capitão do time magrebino jogou ao limite da exaustão. Liderou uma defesa que resistiu quase 100 minutos à artilharia alemã.

DAVID LUIZ (Brasil): outro que aparece pela segunda vez. Um leão na zaga, provocou o erro que gerou o gol contra (erroneamente creditado a ele mesmo) do Chile, liderou o time em campo e foi o único a bater o pênalti com segurança.

RODRIGUEZ (Suíça): embora o gol argentino tenha saído de seu lado, a jogada começou na falha do lateral direito. Conteve o ataque argentino durante 117 minutos e ainda tinha força para tentar puxar o contra-ataque.

BRADLEY (EUA): lembra muito o Dunga. Alta eficiência na proteção à zaga e passa cometeram qualidade, além de ser o líder do time.

POGBA (França): dominou o meio-campo contra a Nigéria. Foi um dos poucos da França (ao lado de Valbuena)que mantiveram um alto nível de desempenho desde o início da partida. Premiado com o gol que abriu as portas da classificação.

DI MARÍA (Argentina): um azougue pela direita, o armador que falta ao meio-campo do Brasil. Deu onze chutes contra a Suíça e acertou o gol dez vezes. Acabou como o herói da classificação.

RODRIGUEZ (Colômbia): uma atuação de gala daquele que certamente será a revelação da Copa. Está na frente na disputa pela artilharia e concorre seriamente ao prêmio de melhor da competição. Que ele tenha gasto seu repertório contra o Uruguai...

DE BRUYNE (Bélgica): atazanou a defesa dos EUA. Veloz e preciso nos passes, abriu o caminho da vitória na prorrogação e ainda deu o passe para o segundo gol.

ROBBEN (Holanda): colaborou decisivamente para destruir o México em menos de cinco minutos. Outro concorrente sério ao prêmio de melhor do Mundial.

Treinador/MARC WILMOTS (Belgica): soube encurralar os EUA e dar o golpe de misericórdia ao por um atacante fisicamente inteiro para matar a defesa americana.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O RESGATE DA TERRA SANTA

Escrevo sob os efeitos da sensacional partida entre Bélgica e Estados Unidos. Encerradas as Oitavas de Final, podemos dizer que esta Copa é, dentro do campo, uma das melhores. Afirmo isto não só na esteira do entusiasmo das transmissões televisivas, mas porque após uma Primeira Fase cheia de gols, emoções e surpresas, a expectativa é de que os jogos fossem mais modorrentos, presos ao habitual medo da eliminação inerente aos jogos mata-mata.

Não foi isto que aconteceu. Embora a média de gols tenha diminuído, todas as partidas tiveram um grau de disputa elevadíssimo e emoção até o último momento. Até mesmo nos embates que terminaram 0x0, como Alemanha x Argélia ontem, houve efetiva busca do gol e atuações que, ainda que não tenham sido tecnicamente primorosas (e muitas o foram), demonstraram um nível de empenho comovente.

Talvez isto tenha a ver com o que ouvi aqui e ali, por vezes com o tom habitualmente protocolar de quem quer agradar sua plateia: os jogadores estariam realmente empolgados pela oportunidade de jogar uma Copa no Brasil. Ainda que haja algum jogo de cena para agradar o público caseiro, posso testemunhar que efetivamente exercemos (pelo menos ainda) este poder sobre os estrangeiros. Morei na Itália por um ano e meio e o encanto dos europeus pela "magia" do futebol brasileiro é genuíno. Como não conseguimos queimar todo o capital acumulado pelas incríveis seleções de 1958, 1962 e 1970, e também acrescentamos alguma mística adicional com os títulos de 1994 e 2002 (especialmente este último, com os estelares Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos), há um resíduo de veneração pelo esporte que se desenvolveu nesta periferia global.

Na esteira desta premissa, o que vejo é que, para além da espetacularização do futebol, decorrente da crescente atenção planetária sobre os diversos torneios, especialmente europeus (a UEFA Champions League sobre todos os demais), há um certo constrangimento em retornar-se ao jogo feio e retrancado que vinha dominando o cenário mundial nas últimas Copas.

Em outras palavras, a "nossa" Copa está boa por uma razão virtuosa e outra nem tanto. Pois além do respeito quase religioso que inspira uma postura mais ofensiva das Seleções que estiveram e ainda estão presentes neste Mundial, a chamada mercantilização do esporte também tem um dedo neste fenômeno. Com efeito, como o futebol virou um negócio que só funciona se houver televisão interessada nele, os jogos naturalmente precisam ser melhor disputados, atrair mais espectadores, os quais, obviamente, não querem elucubrações táticas e prazeres defensivos, mas jogadas espetaculares e gols em profusão.

Então, a busca por audiência e visibilidade (e o consequente dinheiro delas decorrentes) que vêm paulatinamente empurrando os times para frente no campo, acaba se refletindo nas diversas Seleções, que copiam os clubes de sucesso e recrutam jogadores que já se habituaram a jogar mais ofensivamente. Esta razão mundana é potencializada pelo fascínio que a imagem do jogo bonito brasileiro ainda exerce nas demais nações futebolísticas.

E, por conta desta verdadeira "conjunção astral", o que vemos é times altamente dedicados a conquistar uma página que seja num dos capítulos mais interessantes do Livro das Copas. Mesmo aqueles que, sabendo seus limites, fecham-se na defesa e procuram resistir ao avanço das potências de sempre, ainda assim não renunciam à vitória, armando esquemas em que o contra-ataque é feito com a dedicação e a arte necessárias.

Chegou a ser comovente ver o empenho com que times como a Argélia, os EUA, a Suíça e até mesmo o Chile enfrentaram equipes tecnicamente superiores. Já há muito tempo é impressionante (e, para nós brasileiros, assustador) constatar que alemães, ingleses, belgas, mexicanos e outros menos cotados sabem tratar a bola como costumávamos fazer num passado que vai ficando cada vez mais distante.

Em post anterior sobre esta Copa, fiz um paralelo entre futebol e fé. Pois bem, na Copa jogada no país em que nasceu e por quem jogou o maior de todos; no Mundial disputado na terra que serviu de solo para gerações de craques iluminados, vimos Seleções aqui chegarem com a reverência de quem entra em solo sagrado. Este respeito à bola e esta alegria em jogar futebol vêm alegrando nossos corações e já despertam o temor dos torcedores: depois deste júbilo esportivo, como iremos conseguir sobreviver às heresias que se desenrolarão em mais de trinta rodadas de Brasileirão?

Minha esperança é que a visita das 31 caravanas de peregrinos renove nossa fé numa parte importante daquilo que nos faz brasileiros: a alegria de jogar bola, de vê-la rolar em verdes campos. Os atletas e técnicos que estiveram - e ainda estão - por aqui podem ser como os cruzados em busca do resgate da Terra Santa. Que o exemplo deles nos resgate a todos infiéis. Que possamos treinar, jogar, comentar e, principalmente, cobrar um futebol que volte a elevar nossos espíritos.

domingo, 29 de junho de 2014

#PRONTOFALEI

Não tenho Twitter, mas uso a hashtag conhecida daquele microblog para externar algo que está me incomodando profundamente. Que o time está jogando mal é inegável. Não temos meio-campo e o equilíbrio emocional do time preocupa (até porque não temos torcida para empurrar quando é preciso).

Entretanto, para além das críticas abalizadas de quem jogou muita bola, é insuportável o prazer quase sádico de Carlos Alberto Torres em todos os programas a que compareceu nos últimos meses e de Paulo César Caju na coluna bissexta que lhe deram no Globo. Ambos mal disfarçam uma satisfação mórbida em ver que mais um time não ameaça sua superioridade histórica.

Coisa de gente menor, que eles definitivamente não precisam ser. Conquistaram seu lugar na história; têm todo direito à crítica, mas precisam de uma terapia para descobrir que o surgimento de novos campeões não vai apagar o que eles fizeram dentro de campo.

Até porque fora dele está dose...

#prontofalei

O BRASIL PRECISA DE VOCÊ, PIJAMEIRO DE SORTE

O que mais se comenta hoje em dia é que a Seleção não para de chorar. Credita-se isto à falta de preparo psicológico ou ao excesso de pressão. Cheguei a ficar com raiva hoje, ao assistir o "É Campeão", novo programa do Sportv, em que tive que presenciar o prazer sádico do Carlos Alberto Torres em desdenhar deste elenco. Será que ele se sente ameaçado pela imensurável glória que seria conquistar o título em casa? Ele não precisa disto, é um dos símbolos de uma das melhores equipes da história (embora ache que a de 1958 seja superior, pois tinha Pelé E Garrincha no mesmo time).

Tentando baixar a adrenalina do jogo de hoje, estou lendo tudo o que passa pela minha mão e tive o habitual prazer de mais um post no blog do Rica Perrone, um dos melhores cronistas esportivos que temos. Sob o título "Conquistem-na!" (Ainda não sei fazer links no texto...), ele dentre vários outros acertos, procura traduzir a sensação de abandono que nosso escrete sente ao olhar para a arquibancada e ver que o mesmo país que exige a vitória em casa, não lhe dá uma torcida que preste.

O coro coxinha "Eeeeu sou brasileiro, com muito orgulho..." (Ergh!) não consegue animar nem bingo de asilo. Cantar hino só no início não resolve, porque nossos hermanos também aprenderam a fazê-lo (e vaiá-los só nos traz vergonha, nada mais).

O choro do primeiro jogo era a antecipação da energia que nossos atletas esperavam receber. Os que se seguiram é a agonia de quem carrega o país nas costas e não vê ninguém ao lado sequer para dar uma força. A diferença de jogar em casa é contar com a torcida, e nossos jogadores só tem a si mesmo, porque nossa torcida no estádio é patética.

Portanto, você, pijameiro de plantão que teve sorte de conseguir ingresso no sorteio, ou você, que conseguiu assistir jogo in loco com base em "algum esquema maneiro", trate de por esta garganta para funcionar. Os onze lá de baixo precisam que você tire a bunda do assento numerado padrão FIFA, esqueça a porra da cerveja e da pipoca e passe a cumprir seu dever cívico, que é se esgoelar do começo ao fim do jogo, pondo pressão em quem quer que esteja do outro lado. É desta ajuda que os garotos precisam.

Portanto, como bom rubro-negro que, da arquibancada levei times razoáveis a dois títulos brasileiros impensados e à inaudita Copa do Brasil do ano passado, eis algumas adaptações que podem esquentar um pouco a relação entre o time e os milhares de desatentos que têm ido aos jogos:

Nós queremos respeito
E comprometimento.
Eu não sou argentino,
Eu sou é brasileiro.
Ô,ôôôô
Ô, ôôôô...

Brasil, estou sempre contigo,
Somos uma nação,
Não importa onde esteja
Sempre estarei contigo
Com a camisa amarela
E a bandeira na mão
Está copa é nossa,
Vai começar a festa!
Dale, dale, dale, ô
Dale, dale, dale, ô
Dale, dale, dale, ô
Brasil do meu coração!

Eu sempre te amarei,
Onde estiver estarei,
Ó meu Brasil!
Tu és o pentacampeão,
Raça, amor e paixão.
Ó meu Brasil!


Se você tem algum canto de seu time, mande para cá. Ficarei feliz em tentar ajudar nossos irmãos pijameiros a torcer decentemente.


sábado, 28 de junho de 2014

A CORAGEM DE MUDAR

É evidente que o time brasileiro não está jogando bem. Ainda que uma análise tranqüila e com mais distância do sofrimento de hoje revele que complicamos uma partida que não era para ter sido tão dura, não da para esconder que estamos jogando sem meio-campo e que não temos centroavantes que estejam à altura do desafio. Isto sem contar o presepeiro do Daniel Alves, que em quatro rodadas só acertou o chute defendido por Bravo hoje. De resto, é a marra de cabelo descolorido.

Portanto, invoco aqui o exemplo radical da final olímpica do vôlei masculino em 2012. Sem saída aparente contra o Brasil, o técnico russo puxou o meio de rede para a ponta e virou o jogo. Prova de que a qualquer momento pode-se tentar um novo caminho. Dos cinco títulos mundiais, quatro foram ganhos com um 4-4-2 (sim, porque Zagalo em 58 e 62, e Rivelino, em 70, eram o quarto homem do meio-campo). Talvez povoar o miolo seja a solução para conter os endiabrados Cuadrado e Rodriguez na próxima sexta.

Neste sentido, prefiro o meio-campo montado em losango, com um volante de contenção, dois armadores que tenham fôlego para apoiar a defesa, e um ponta de lança que se junte ao ataque. Com a suspensão de Luiz Gustavo, o substituto que parece ideal é (agora corro para o abrigo da chuva de críticas que certamente receberei)... Henrique, convocado justamente porque faz a dupla função de zagueiro e volante, além de dar a proteção contra bolas altas presente com o volante do Wolfsburg. Os dois armadores seriam Fernandinho e Hernanes, especialmente este ultimo, que parece ter mais capacidade para cadenciar o jogo quando necessário. Fazendo a ligação com o ataque, Oscar fica mais livre para cumprir sua função principal e pode roubar bolas mais próximo da área adversária.

No ataque, Fred não está funcionando e Jô não parece ser substituto à altura. Portanto, abandone-se o esquema com o homem fixo e deixe-se Neymar e Hulk flutuando livres na frente.

Por fim, enterre-se Daniel Alves no banco e coloque-se um lateral de verdade em campo: Maicon já!!!

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 1 X 1 CHILE: No Sufoco Não Vai Dar

Num momento raro deste blog, faço minha resenha em cima do lance. E repito o título: no sufoco, não vai dar. O time jogou muito mal hoje. Continuamos sem meio-campo e não se vê uma solução para o problema. Não fomos eliminados porque Deus não quis e Júlio César não deixou. Eis as notas:

JÚLIO CESAR: fez uma defesa milagrosa nos 90 minutos, pegou dois pênaltis e ainda teve sorte no fim do jogo, quando a trave o salvou - 10,0

DANIEL ALVES: tirando o chute que quase surpreendeu Bravo no primeiro tempo, desfilou sua marra infinita pelo campo, errando tudo o que tentava, cruzando da intermediária e saindo errado com a bola por mais de uma vez. Já passou da hora de ser barrado - 2,5

THIAGO SILVA: com frequência o vejo atrasado em lances capitais, mas transmite segurança - 5,5

DAVID LUIZ: um gigante. Acho que o gol foi contra, mas estava lá do lado para provocar o erro do adversário. Absoluto na zaga, embora pudesse ter ido no passe que resultou no gol do Chile. Foi quem melhor bateu pênalti no Brasil - 8,0

MARCELO: continua sendo uma das poucas opções de saída decente de bola. - 7,0

LUIZ GUSTAVO: sua suspensão no próximo jogo é uma preocupação. Continua sendo uma garantia à frente da zaga e tem se apresentado para dar opção de jogo. - 7,0

FERNANDINHO: não disse a que veio. Absolutamente apagado, só apareceu quando tomou o cartão amarelo. - 3,5

RAMIRES: também errou tudo o que tentou. Horrível. - 2,5

OSCAR: sacrifica-se pelo time, é talvez o maior ladrão de bola do Brasil, mas não cumpre sua função principal, que é armar o time. - 5,5

WILLIAN: bateu uma falta ridícula para o lado, quando a zaga inteira tinha subido para tentar a cabeçada no ataque. Perdeu o pênalti. - 3,0

HULK: altos e baixos. Foi o jogador que mais tentou e o atacante mais efetivo do Brasil, mas errou bisonhamente no gol do Chile e bateu o pênalti no meio do gol. - 6,0

FRED: não conseguiu acertar uma jogada. Tento ter paciência, mas está difícil - 2,0

JÔ: ruim igual ao Fred. - 2,0

NEYMAR: buscou o jogo no primeiro tempo, mas continua prendendo demais a bola. Voltou a bater mal o pênalti, mas deu sorte e a bola entrou. - 6,0

LUIZ FELIPE SCOLARI: não consegue acertar o meio-campo, esqueceu do Hernanes, mexeu mal. - 3,0

sexta-feira, 27 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/OITAVAS DE FINAL: Oh, Dúvida Cruel.

Seguindo a tradição do blog e a obrigação dos múltiplos bolões em que me inscrevi, descobri-me numa tremenda dúvida em quase todos os confrontos das Oitavas de Final. Eis minha tentativa de adivinhar os resultados.

BRASIL x CHILE: o retrospecto nos altamente favorável e o Chile nunca foi uma seleção que assustasse antes da Copa. Além disso, o jogo contra a Holanda demonstrou os limites do time andino. Entretanto, nossa equipe também não inspira tanta confiança. Apesar de ser um jogo de risco, ainda acredito no Brasil.

COLÔMBIA x URUGUAI: o time da Colômbia é muito técnico, tem jogadores muito talentosos e o Uruguai ficou sem sua estrela maior. Em tese, tudo favorece os colombianos. Entretanto, o desafio posto à Celeste pode ser um poderoso combustível moral para a seleção cisplatina. Na minha opinião, ou a Colômbia leva o jogo fácil no tempo normal, ou a partida vai para os pênaltis.

ALEMANHA x ARGÉLIA: ainda que a Argélia tenha realizado uma das maiores surpresas da primeira fase e seja um time de dedicação comovente, não vejo como fazerem frente à impressionante eficiência germânica. Vitória fácil da Alemanha.

FRANÇA x NIGÉRIA: o time africano mostrou qualidades contra a Argentina, mas a França teve apresentações mais consistentes. Os Bleues são favoritos. Vitória nigeriana só se o jogo for além dos noventa minutos.

HOLANDA x MÉXICO: os holandeses apresentaram o desempenho mais impressionante da primeira fase e parecem ter um contra-ataque irresistível. Para mim, estão com o caminho livre até a semi-final. Entretanto, o México parece disposto a ser a surpresa definitiva da Copa. Se conseguirem embolar o jogo, as chances se aproximam.

COSTA RICA x GRÉCIA: tenho grande simpatia pela zebra da Copa, que mostrou um futebol muito consistente, que em condições normais os tornaria francamente favoritos neste embate. Entretanto, como diz o André Rizek, do Sportv, a Grécia é o time mais chato do planeta. A partida tem jeito de ir para os pênaltis, ou de morrer num gol achado pelos europeus, que se escondem o resto do tempo atrás da linha do meio-campo.

ARGENTINA x SUÍÇA: a Argentina tem um time muito superior, ainda que esteja desfalcada do Agüero. Talvez seja torcida, desejo recôndito dado pelo medo já exposto em posts anteriores, mas ainda nutro a esperança de que a fragilidade da defesa albiceleste dê brecha para um ou mais gols vadios dos suíços, que não deem muita margem para a reação argentina. Mas, olhando isentamente, este desfecho é pouco provável, ainda mais com o Messi do jeito que está jogando.

BÉLGICA x EUA: para mim, os belgas são a maior decepção do Mundial. O tal do Hazard é realmente muito bom jogador e pode desequilibrar, se resolver jogar de verdade. Entretanto, acredito que a disciplina e a organização tática dos americanos devem prevalecer.

Diante da sessão de gatomestrice, teríamos as seguintes Quartas de Final: BRASIL x COLÔMBIA; ALEMANHA x FRANÇA; HOLANDA x GRÉCIA; ARGENTINA x EUA. Será?

A SELEÇÃO DA TERCEIRA RODADA

Antes que comecem as Oitavas de Final e atendendo à intimação do meu amigo virtual Viegas, eis a seleção da terceira rodada:

BUFFON (Itália): aqui, começo divergindo do amigo mencionado acima. Embora Dominguez, do Equador, tenha resistido a um verdadeiro bombardeio do ataque francês, ele me parece um grande peladeiro (ainda que tenha um excelente sentido de colocação). Já Buffon fez três defesas monumentais contra o Uruguai (duas no mesmo lance).

BOATENG (Alemanha): além das funções defensivas da linha de quatro zagueiras montada pelo Joachim Löw, apoiou consistentemente o ataque, criando uma pressão impressionante sobre os EUA.

RAFA MARQUEZ (México): liderou o México contra a Croácia, deslocando-se para frente para furar o bloqueio do time eslavo.

GIMENEZ (Uruguai): ainda que Godín tenha assumido a faixa de capitão e marcado o gol da classificação celeste, o jovem zagueiro deu uma nova agilidade à defesa uruguaia, substituindo não só à altura, mas com sobras, o titular Lugano.

MARCELO (Brasil): numa posição carente em âmbito universal, Marcelo tem mostrado uma qualidade constante, especialmente como opção para a saída de bola da Seleção brasileira.

FERNANDINHO (Brasil): entrou no segundo tempo contra Camarões e mudou o jogo, provavelmente ganhando vaga no time titular.

FEGHOULI (Argélia): jogador-símbolo da dedicação da equipe magrebina. Categoria técnica e entrega à marcação até o final do jogo.

RODRIGUEZ (Colômbia): o pouco que vi do jogo mostrou um jogadoraço, verdadeiro merecedor da camisa dez que enverga. Armou, organizou o jogo e fez um gol maravilhoso ao final.

MESSI (Argentina): novamente desequilibrou em favor de sua seleção. Um craque na verdadeira acepção da palavra.

SHAQIRI (Suíça): fez um golaço de fora da área e outros dois típicos do centroavante técnico, olhando para o goleiro e pondo a bola onde ele não está.

NEYMAR (Brasil): destruiu o jogo no primeiro tempo. Deu dribles, chamou a responsabilidade e marcou duas vezes, abrindo a goleada sobre Camarões.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

SUÁREZ COMO METÁFORA

O grande jogo da última terça foi, como se esperava, Itália e Uruguai. O mata-mata antecipado que despachou o terceiro campeão mundial para casa teve tudo o que se espera de uma partida deste tipo, inclusive a falta de técnica e o jogo truncado. Dentro do drama naturalmente presente nestes embates, todas as manchetes se voltaram para o novo acesso canibal de Luis Suárez.

Vendo as notícias e a crônica sobre o jogo de ontem, cheguei a uma conclusão claramente influenciada pela visão pessoal que tenho sobre história e política.

A Itália reclama muito da expulsão de Marchisio, pela entrada que deu em Arévalo no segundo tempo. Já na transmissão ao vivo percebi que o árbitro imediatamente levou a mão ao bolso de trás, para tirar o cartão vermelho. A falta foi na sua frente e, no replay, vê-se que o italiano vem por cima da bola, com a sola quase na altura do joelho do uruguaio. Neste momento deu-me o clique: a Itália, ontem, parecia ter vestido o tom mais claro de azul, assumindo a catimba que normalmente caracteriza nossos vizinhos cisplatinos.

Enquanto isto, sob a batuta do Maestro Oscar Tabarez, o Uruguai jogava com a cabeça. Sem deixar suas conhecidas garra e paixão de lado, mas sem cair na valentia burra que levou o futebol da Banda Oriental para o buraco por muitos anos. Com a expulsão do meio-campista azzurro, a Celeste tomou conta do jogo e via-se que o gol poderia ser questão de tempo.

Em outras palavras, o Uruguai deixou de lado o destempero que confundia valentia com grosseria e garra com covardia e jogava com inteligência, adotando um comportamento que dá um novo sentido às suas características históricas, abandonando aquilo que, embora natural, era nocivo ao seu jogo. O paralelo que se pode fazer é com a retomada democrática dos países latino-americanos nas décadas de 80 e 90 do Século XX. Depois de mais de um século de caudilhismos diversos, a América Latina parecia tomar a via da política institucionalizada, longe dos personalismos que nos conduziram a anos de desventuras.

Mas aí veio Suárez e sua ridícula mordida em Chiellini. Por sorte, o árbitro não viu e o Uruguai ficou com onze até o fim da partida. Mas a atitude do atacante, além de ser eticamente condenável e sequer comportar uma explicação que seja, diante das circunstâncias da partida e do lance, mancha a vitória de sua equipe (porque dá desculpa para que os europeus digam que estão sujeitos à "selvageria" dos sul-americanos), e pior, compromete o futuro do Uruguai na competição, já que um pesado gancho é esperado para o mordedor contumaz, sendo grande a probabilidade de que Suárez não jogue mais nesta Copa.

Neste ponto, outro paralelo. Após abandonar velhos vícios e conseguir uma vantagem competitiva e uma normalidade institucional, alguns países latino-americanos voltaram a acreditar num excepcionalismo quase adolescente, que propõe regimes políticos esdrúxulos, sempre calcados em indivíduos que reciclam o velho caudilhismo que sempre dominou a mentalidade política do continente.

Esta velha tentação latino-americana se personificou (como não poderia deixar de ser, ante nosso fetiche em fulanizar tudo) em Luis Suárez. Além da estupidez marcada no ombro de Chiellini, o atacante abusou do individualismo (olha ele aí de novo!), "fominhando" em dois contra-ataques que poderiam ter matado o jogo antes do fim e acalmado a situação para sua Seleção. Ou seja, depois de uma demonstração de empenho e entrega à sua equipe nacional, conduzindo o Uruguai à vitória contra a Inglaterra, o atleta que se destaca na liga mais estelar do planeta resolveu consagrar-se sozinho, em vez de continuar a servir seu time.

Eis nossa danação de sempre: nosso talento e nossas singularidades, em vez de nos impelirem à frente, são, com frequência a fonte de nossos problemas. A provável ausência de Suárez se constitui em grave desfalque para a Celeste, que terá que encarar uma Colômbia que vem sendo um sucesso de crítica e de público. Que seu esforço para superá-lo seja uma boa lição não só para os uruguaios, mas todos nós, latino-americanos. Dentro e fora do campo.

A SELEÇÃO DA SEGUNDA RODADA

Com este post, sigo duas tradições do blog: a primeira é fazer seleções de cada rodada da Copa. A segunda é o atraso na repercussão dos fatos. Mas, afinal, sou advogado e não jornalista, e acabo cumprindo tudo em cima da hora... De toda forma, antes que a terceira rodada passe da metade, segue minha seleção da segunda rodada, de novo no 4-3-3:

OCHOA (México): fechou o gol contra o Brasil, fez uma defesa estilo "Gordon Banks" e mostrou boa colocação e reflexos que deixaram o placar no zero.

UCHIDA (Japão): se a seleção do Sol Nascente não conseguiu marcar contra a Grécia, não foi por falta de apoio no setor direito. O lateral nipônico se apresenta com velocidade e, ao contrário de Daniel Alves, cruza com precisão.

THIAGO SILVA (Brasil): o habitual monstro na zaga. Segurou as investidas do México e mostrou porque é um dos melhores defensores do mundo.

MANOLAS (Grécia): outra razão para o 0x0 entre Grécia e Japão, foi incansável em assegurar a habitual retranca helênica.

PRANIJC (Croácia): apoiou com frequência e foi premiado com gol sobre Camarões.

BRADLEY (EUA): o cão de guarda do meio-campo americano teve participação ativa no jogo contra Portugal e quase marcou um gol.

VIDAL (Chile): liderou a vitória da Roja legítima contra a Fúria reciclada.

CUADRADO (Colômbia): faz a ligação entre meio-campo e ataque de forma magistral. É um dos vários talentos que povoam o time da Colômbia.

ROBBEN (Holanda): está destruindo no ataque holandês. Até agora, é o melhor jogador da Copa, um verdadeiro Usain Bolt que joga bola.

BENZEMA (França): lidera uma equipe que vai correndo por fora. Ainda que tenha enfrentado adversários abaixo da crítica, cumpriu o que se espera de um campeão mundial, e o atacante vem fazendo uma grande Copa.

SUÁREZ (Uruguai): marcou os dois gols da vitória que ressuscitou a Celeste no Mundial. Um com grande categoria, deslocando conscientemente o goleiro inglês com um preciso golpe de cabeça; e outro uma patada de quem não tem medo de decidir.

JORGE PINTO (Costa Rica): num time sem grandes destaques individuais, está protagonizando o milagre desta Copa. Deu um baile no time que é a síntese do futebol tático, a Itália.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

SELEÇÃO DA PRIMEIRA RODADA

Mantendo outra tradição iniciada na Copa de 2010, escalo minha seleção dos melhores da primeira rodada, montada num 4-3-3 clássico e lembrando que o jogo do Brasil contra o México não contou, pois era da segunda rodada:

NAVAS (Costa Rica): antes da zebra galopar no Castelão, o goleiro costarriquenho parou o ataque celeste com defesas notáveis.

LAYÚN (México): apoiou com grande eficiência. Pelo seu lado foram criados os dois gols mal anulados contra Camarões.

HUMMELS (Alemanha): zagueiro seguro, que não deixou o ataque de Portugal se criar. Acabou premiado com um gol.

DAVID LUIZ (Brasil): absoluto na zaga contra a Croácia, não perdeu uma jogada, tendo iniciado os trabalhos com a virilidade necessária numa dividida com menos de um minuto de jogo.

BLIND (Holanda): três passes para gol no massacre laranja sobre a Espanha. Dois deles de mais de 30 metros. Precisa explicar mais?

LAHM (Alemanha): já frequenta esta lista desde a Copa passada, mas agora figura no meio-campo. Referência na armação e na proteção à zaga do melhor time do Mundial até agora.

PIRLO (Itália): um armador clássico. Tão bom que faz o time jogar até quando não toca na bola, como no lance do gol de Marchisio contra a Inglaterra.

OSCAR (Brasil): injustiçado na premiação da FIFA quando da escolha do melhor jogador de Brasil x Croácia. Desarmou, driblou, participou das jogadas dos dois primeiros gols e fez um golaço de bico no final do jogo.

ROBBEN (Holanda): um monstro. Destruiu a defesa espanhola com seus piques e, em ambos os gols, teve grande categoria para se livrar dos zagueiros.

VAN PERSIE (Holanda): um golaço de peixinho, movimentação constante e precisão no arremate do segundo gol. Um centroavante moderno.

MÜLLER (Alemanha): se o jogo tivesse sido no domingo, teria pedido música no Fantástico. Com 24 anos já tem 8 gols em Copas do Mundo. Jogador polivalente, com jeitão de peladeiro, agora comandando o ataque alemão.

Treinador/JOACHIM LÖW: mantém a Alemanha em altíssimo nível. Amarrou Portugal de modo irremediável.

E CRESCE O MEDO

Já tinha externado minha preocupação com o caminho altamente favorável que se desenha para a Argentina. Achava inclusive que o europeu mais fraco tinha caído no seu grupo, impressão que já tinha se desfeito com os amistosos pré-Copa da Bósnia. E o valor de mais este filhote da ex-Iugoslávia se confirmou na primeira rodada, quando fez um jogo duro com os bicampeões mundiais.

Entretanto, as dificuldades da Argentina na referida partida parecem reforçar o medo que tenho dos hermanos nesta Copa. A boa fortuna que os tinha agraciado no sorteio os bafejou novamente, no gol contra que abriu o placar em favor dos albicelestes. Este tipo de sorte costuma acompanhar os campeões...

O time não jogou tão bem, mas Messi tranquilizou o jogo com um golaço. Passou pelo adversário mais difícil do grupo e agora pode embalar nos próximos três embates. Sim, três embates, pois já vejo a Argentina classificada em primeiro lugar e jogando com Suíça e Equador, que não devem oferecer qualquer resistência. Ou seja, complicação somente nas quartas-de-final. Que medo...

domingo, 15 de junho de 2014

O PODER DA FÉ

Assistindo a um vídeo que anda bombando na Internet, no qual O inglês John Oliver explica o que é a Copa para os americanos, ele, para mostrar que o futebol é um tanto importante para o "resto" do mundo, passa diversos trechos de reportagens que afirmam, repetidamente, que futebol é uma religião, o que poderia ser confirmado pela conhecida afirmação de Juca Kfouri, ao lembrar que seu pai se declarava como "católico apostólico corintiano".

Pois bem, se futebol é uma religião, a Copa seria uma espécie de "ramadã" esportivo, em que multidões se destinam a um país específico para celebrar sua fé.

E somente a fé pode explicar o que aconteceu ontem entre Uruguai e Costa Rica. Ainda que a Celeste Olímpica não seja mais o time de quatro anos atrás, que reconquistou seu lugar enterre os grandes com o quarto lugar na ultima Copa, era efetivamente inimaginável uma vitória tão eloqüente dos centro-americanos.

Entretanto, a demonstração de coesão e empenho do time costarriquenho, de sua dominância sobre um adversário teórica, mas nitidamente superior, é um dos milagres próprios do futebol, mas que ficam mais recorrentes neste período "santo" da Copa. A crença de que a superação é necessária para trazer glória ao seu país faz com que os atletas efetivamente dêem mais do que 100% em cada jogo; superem seus limites em busca da bênção de uma vitória em Copa do Mundo.

Ontem foi o dia do milagre da Costa Rica. Pode ser que sua alegria fique por aí. Mas será um momento eterno na história futebolística daquele pequeno país. Um jogo de culto na memória de seus torcedores.

sábado, 14 de junho de 2014

DEVAGAR COM O ANDOR

O segundo dia da Copa revelou uma surpresa que chocou o mundo: a goleada da Holanda sobre a Espanha, 5x1. Ninguém, nem mesmo os holandeses, esperava um resultado destes. A vice-campeã mundial, apesar de feito o passeio habitual nas eliminatórias, vinha de amistosos muito ruins, além de ter feito uma Eurocopa desastrosa, onde perdeu os três jogos. Ainda que fosse um clássico mundial, do qual fosse possível esperar até mesmo uma vitória da equipe laranja (que ontem jogou num estranho, mas bonito, azul), cogitar de um chocolate como o de ontem era impossível.

Ainda mais depois do primeiro gol da Espanha. Entretanto, depois da Holanda fazer 3x1 (com um gol irregular, é bom que se diga), os atuais campeões mundiais se perderam completamente. O quinto gol é uma prova da desarrumação de ultime que depende fundamentalmente de sua compactarão e de sua organização tática.

Agora, todo mundo se apressa a cravar a Holanda como favorita e decretar a morte da Espanha. Devagar com andor. Nem a Holanda vai ressuscitar o carrossel de 1974 (até porque não acho que o Van Gaal tenha capacidade para isto), nem Lá Roja já está com as passagens de volta compradas. Embora o Chile esteja numa situação confortável para jogar pelo empate contra a Espanha, podendo até perder para a Holanda se conseguir tirar ponto dos espanhóis na segunda rodada, estes continuam a ser francamente favoritos, até porque os Sul-americanos não sabem jogar na retranca.

Portanto, cuidado, a Espanha começa a aparecer mais nítida em nosso radar. Tudo vai depender do próximo jogo no Maracanã. Se houver uma reação da Espanha, a goleada pode ficar para trás. Caso a apatia de ontem volte a aparecer, a chance de termos um adversário mais palatavel na segunda fase.

Agora, aqui entre nós, que fase, Casillas!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

RESENHÃO DO BARBALHO/DIA 1: Festa, Vaia e Jogo

Reeditando a tradição que pretendi inaugurar nos blogs da Copa de 2010, vou lançar notas a cada jogo do Brasil, até para atender ao pedido de meu amigo Bruno Dubeux (e, como ele é meu Chefe duas vezes, no trabalho e como Presidente da minha associação de classe, pedido dele é uma ordem).

Antes das notas, porém, comentários sobre o ato inaugural da nossa Copa. Antes de mais nada, repito: no que depender do que ocorre fora das quatro linhas, esta passará longe do que a propaganda oficial quer ridiculamente apelidar de "Copa das Copas". Como diria Jack, o estripador, vamos por parte:

a) O Itaquerão: para desespero do Marketing do Corinthians, vou chamar o estádio pelo apelido. Um pela revolta contra as condições em que o alvinegro paulista conseguiu sua arena, um "presente" dado por um governo que não teve qualquer vergonha de malbaratar todas as condições habituais de financiamento público, só porque o "Seu Guia" torce pelo clube. Mais do que isto, também é punição pela incapacidade de obter um patrocinador de naming right (embora o Marketing do Corinthians seja, disparado, um dos melhores dos clubes brasileiros, muitos anos-luz adiante da grande maioria dos concorrentes). Pois bem, embora tenha uma arquitetura bastante diferente, tenho sentimentos conflitantes sobre se gosto ou não do estádio. É moderno, arrojado, mas realmente parece uma impressora. Além disso, as duas arquibancadas provisórias, que custaram os olhos da cara para viabilizar o jogo de abertura da Copa, são horrendas, destoam do resto do conjunto. O que interessa: segundo as notícias, o funcionamento da arena deixou a desejar, tanto no que já anunciado acesso à Internet, quanto no oferecimento de produtos e serviços nos bares. Não bastasse tanto, os refletores apagaram duas vezes durante a partida. Até o final da Copa, serão mais três jogos que acabarão já sem luz natural... Oremos.

b) A Festa de Abertura: numa só palavra: ridícula. O som estava horrível; o acabamento das alegorias deprimente (tinha um índio com cinto de segurança dentro de uma canoa!!!!); o roteiro sofrível (o árbitro-mirim expulsou os dançarinos de campo, talvez já reconhecendo o nível indigente do espetáculo) e o dimensionamento da quantidade de figurantes foi claramente ruim, deixando a impressão de falta de gente para o show. Mas o pior ficou para o play back mal feito por Claudia Leitte, J-Lo e o Paulo Gustavo pescando siri (isto sem falar no defeito do elevador que deveria levar estes dois últimos para o palco...). Não bastasse tanto, o pontapé inicial do portador do exoesqueleto, largamente anunciado antes da Copa, quase não foi captado pelas câmeras. A direção do espetáculo não lhe deu nenhum destaque. Lamentável.

c) As Vaias: postei algumas vezes no Face e aqui cabe novamente a distinção. Sou contra vaiar (e muito menos xingar) uma autoridade em solenidade oficial. O jogo inaugural era um evento desta natureza. A Presidente da República, por mais inepta que seja (e acredito com força nesta debilidade gerencial da Dilma, tanto que não votei nela), estava lá na condição de Chefe do Estado Brasileiro (e não como Chefe de -des-Governo), ou seja, representante da Nação. Não interessa se não votei, ou grande parte do estádio também não tenha votado nela. Ela é a Presidente (e não presidenta, como Chefe de Estado ela devia se dar ao respeito e preservar a língua pátria) e ponto. Insultá-la depõe mais contra nós do que contra ela. Passamos a imagem de um povo mal educado (o que realmente somos). Entretanto, irrita o duplo padrão de amplos setores esquerdistas da imprensa brasileira. Não pode xingar a Presidente, mas pode a FIFA. Também tenho minhas críticas à entidade, mas seria educado tratar mal uma visita?

Feita uma looonguíssima introdução, eis o que interessa. As cornetadas do Barbalho:

JÚLIO CÉSAR: emocionei-me e, ao mesmo tempo, preocupei-me com seu choro sincero. Devo concordar com a ressalva de vários colegas meus com relação à estabilidade emocional do nosso goleiro. Mas tenho muita fé nele. É um dos melhores de nossa história, e ontem, quando exigido, correspondeu. - 7,5

DANIEL ALVES: no mesmo nível da festa de abertura. Horrível. Errou tudo. O gol saiu nas suas costas. Continuo achando que tem muita marra para pouco futebol. Minha última resenha de 2010 desceu a lenha no baiano. Começo 2014 do mesmo jeito - 3,0

TIAGO SILVA: discreto, não comprometeu. Parece-me muito nervoso, desde antes da Copa, mas sempre lembro que Renato Gaúcho falava que ele seria o melhor zagueiro do mundo. - 6,5

DAVID LUIZ: foi muito bem. Seguro, não lembro de ter perdido nenhuma jogada. No primeiro lance, dividiu com vontade com um croata, para mostrar como a jiripoca iria cantar lá atrás. - 7,5

MARCELO: sem culpa no gol contra, não se abateu e foi uma boa opção de saída de jogo - 7,0

LUIZ GUSTAVO: já vai provando porque é o homem de confiança do Felipão. Carregou um piano enorme e até foi uma alternativa razoável de distribuição do jogo. Um dos melhores do time - 8,0

PAULINHO: decepcionante. Até começou bem, mas depois sumiu. Não fechou o meio-campo, nem foi uma opção de ataque. - 5,0

HERNANES: entrou no lugar de Paulinho, não acrescentou muita coisa, mas também não comprometeu. - 6,0

OSCAR: melhor em campo. Deu combate, roubou bolas, driblou, armou incansavelmente. Participou dos dois primeiros gols e lembrou Ronaldo e Romário com seu gol de bico. - 9,5

HULK: cumpriu bem sua função tática. Acabou sacrificado na parte ofensiva, mas cumpriu bem o papel de conter o lateral direito croata. - 6,5

BERNARD: substituiu Hulk para dar mais força ao ataque. Efetivamente agrediu mais a defesa croata, mas nada de muito espetacular. - 6,5

FRED: sumido, só apareceu quando simulou - com sucesso - o pênalti. - 5,5

NEYMAR: chamou o jogo e assumiu a responsabilidade de craque do time. Fez dois gols e foi crucial na vitória. Perde pontos em três questões: continua prendendo demais a bola (embora já tenha melhorado em comparação aos últimos amistosos), tomou um cartão idiota e desnecessário, e bateu o pênalti muito mal. Mas, repito, depois de Oscar, foi um dos melhores do time - 8,5

RAMIRES: entrou por pouco tempo, mas teve tempo de fazer o desarme precioso que resultou no gol do Oscar - 7,0

FELIPÃO: mexeu muito bem no time e, após a partida, mostrou porque é um líder nato. Trouxe a torcida para o seu lado, elogiando o público paulista; não expôs o time, recusando-se a dizer o que estava errado na Seleção antes de falar com seus jogadores; e destacou enfaticamente a atuação de Oscar, que vinha sendo posto em xeque pela imprensa. Ressalvo uma certa frouxidão do meio-campo, que deixou a Croácia tocar a bola livremente em alguns momentos. - 8,0

quinta-feira, 12 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO A: Três Esfinges para o Brasil

Depois de sessões intermináveis de gatomestrices, que só a minha esposa tem paciência de comentar, deixei a análise do grupo para o final. E eis que me aflige o mistério. Não sei se é cautela de um torcedor cabreiro, ou até temoroso das reais possibilidades de nossa Seleção, mas a primeira imagem que me veio à cabeça foi a de um grupo traiçoeiro.

Até mesmo após o sorteio, não consegui ver uma opinião mais incisiva sobre os concorrentes do Brasil na primeira fase. Que somos os favoritos para ficar com a primeira vaga, ninguém duvida. Entretanto, todos os outros três times representam algum grau de ameaça para nossa equipe.

A Croácia parece ser um dos europeus mais fracos que vieram à Copa, mas é herdeira do futebol vistoso da Iugoslávia e tem um meio campo muito ajustado. O México é uma pedra no nosso sapato, nos tirou a sempre perseguida medalha de ouro olímpica e estava ensaiando uma recuperação sob o novo técnico. Todavia, os últimos jogos voltaram a mostrar um time claudicante. Já os camaroneses vêm com as confusões de sempre: briga por premiação, rixas entre o elenco e o técnico e falta de entrosamento de sua estrela com o resto do time. Mas, embora nunca mais tenham brilhado como em 1990, não há como desprezar um time com nomes como Eto'o, Song e outros atletas que disputam os torneios europeus.

O que se vê, portanto, é que o Brasil enfrenta seleções absolutamente misteriosas, que tanto podem deixar o caminho aberto para que o Brasil pegue impulso com vitórias convincentes, ou podem ser uma dura pedreira que se põe entre nós e a sonhada redenção da tragédia de 1950. Em suma, como diz o dono do Urublog, Arthur Muhlenberg, sapatinho máximo. Seriedade e dedicação devem garantir a Seleção em primeiro lugar.

Para a segunda vaga, tinha o México como favorito, mas, para isto, os Tricolores aztecas precisarão melhorar muito para não cederem espaço para o perigoso time da Croácia. Já Camarões parece estar um pouco abaixo dos demais e sua crônica desorganização parece eliminar quase que totalmente suas possibilidades.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO G: O Verdadeiro Grupo da Morte

Enquanto grande parte da imprensa e a totalidade dos pijameiros que saem da toca a cada quatro anos se assustam (não sem alguma razão) com o Grupo D e seus três campeões mundiais, para mim, o verdadeiro Grupo da Morte é o G. Desde o sorteio estou espantado com o equilíbrio desta chave, que, para começar, conta com A seleção favorita para este Mundial: a Alemanha.

Embora tenha amarelado duas vezes para a Espanha e outras duas para a Itália (na Copa de 2006, em casa; e na última Euro, ambas na semifinal), a Alemanha, para mim, se tornou o verdadeiro país do futebol. Têm o campeonato de melhor média de público; uma Federação que efetivamente trabalha em prol do esporte e, mais importante, uma geração espetacular, a qual, embora ainda jovem, já tem duas Copas de experiência. Que outra equipe pode contar com nomes como Neuer, Lahm, Schweinsteiger, Thomas Muller, Khedira, Özil, Götze e Podolski (e este tem andado no banco!!!)?

Por incrível que pareça, o que pode complicar este timaço são duas coisas que historicamente favoreceram os alemães: a defesa parece não estar à altura do resto do elenco, e o estado físico dos atletas foi prejudicado pela estafante temporada europeia, que causou baixas importantes neste ano. Nada obstante, os tricampeões mundiais são francamente favoritos para levar a primeira vaga.

Para a segunda vaga, Portugal poderia estar um pouco mais à frente, especialmente por contar com Cristiano Ronaldo, mas a suspeita de uma contusão mais grave deixa tal prognóstico em suspenso. Neste contexto, o equilíbrio do grupo se acirra quando se vê que Gana, embora envelhecida, começa a apresentar um futebol consistente em nível mundial (já é a terceira Copa seguida).

No mesmo sentido, os EUA também vêm firmando uma tradição razoável para além da Concacaf. Contam com uma liga nacional consistente; um trabalho de formação de atletas que segue o padrão de eficiência que rege todos os demais esportes norte-americanos e, como se não bastasse, trouxeram Jurgen Klinsmann, o mesmo técnico que começou a formar, em 2006, a incrível geração alemã descrita acima.

Portanto, se CR7 não continuar fazendo as maravilhas que apresentou no Real Madrid, Portugal terá sérias dificuldades para superar os demais concorrentes do grupo, até porque estreia com a Alemanha, e já pode ir para a segunda rodada com a corda no pescoço.

De todo modo, ainda acredito que os patrícios seguirão a Alemanha para as Oitavas.

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO F: Caminho Livre para o Tri?

Citando Regina Duarte em momento glorioso de nossa história política, estou com medo, estou com muito medo. Eles têm o Messi; Eles têm o Papa. Não bastasse tanto, também ficaram com um grupo ainda mais baba do que o da França e com deslocamentos tranquilos durante a Copa. Os argentinos parecem ter o caminho livre até pelo menos as quartas de final. E mesmo nesta fase crítica, onde nós, brasileiros, já ficamos por quatro vezes nas últimas oito copas, eles provavelmente irão cruzar com alguém deste grupo de cinco seleções: Gana, EUA, Portugal, Bélgica ou Rússia. Convenhamos que é melhor do que encarar Itália ou Uruguai, como se desenha no caminho do Brasil...

Neste grupo, cravo com segurança que nossos hermanos ficarão em primeiro, sem qualquer susto. Até algumas semanas atrás, também dava a Nigéria como classificada sem muita preocupação. Entretanto, analisando os últimos resultados da Bósnia, o time parece estar encaixado e, assim como a França, crescendo no momento certo. Arrisco até dizer que podem endurecer na estreia contra a Argentina.

Como a grande façanha do Irã deverá ser marcar gol em alguém, o jogo-chave do grupo parece ser o da segunda rodada, entre africanos e mais um da turma da antiga Iugoslávia, no forno de Cuiabá, o que pode ser um fator que reequilibre um pouco a favor da Nigéria. Mas ainda assim, tendo a acreditar que os estreantes conseguirão passar na outra vaga da chave.

domingo, 8 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO E: A Sorte de não ser Cabeça de Chave

Com a adoção do ranking da FIFA para indicar os cabeças de chave (finalmente ele serviu para algo), várias equipes tradicionalíssimas ficaram em posições ruins no sorteio. Por conta disto, a Holanda acabou reeditando a final de 2010 já na primeira rodada e Inglaterra e Itália dividem um grupo com outro campeão mundial, o Uruguai. Neste rodamoinho provocado pelo critério (justo) da FIFA, quem se deu bem foi a França.

Os Bleus poderiam ter ficado no lugar da Holanda, da Inglaterra, da Itália ou até mesmo de Portugal, encarando a Alemanha logo de cara. Entretanto, foram parar no grupo encabeçado pela Suíça, talvez o mais fraco daqueles postos nos líderes de cada chave. Após quatro anos de um certo descrédito, os gauleses cresceram na hora certa, ganhando da Holanda já neste ano e encerrando sua preparação com uma sonora goleada de oito sobre a Jamaica.

Mesmo sem Ribéry, são favoritos destacados para se classificarem em primeiro lugar. E a segunda vaga? Com certeza não ficará com Honduras.

Restam, então, Suíça e Equador. Aqui, novamente, o fator campo pende em favor dos sul-americanos. Para contrabalançar, a equipe helvética parece melhor estruturada e, na média, de melhor nível técnico. Os destaques de cada time, Shaqiri do lado suíço e Valencia, do equatoriano, parecem equivaler-se. A eficiência suíça nos mundiais anteriores recomendaria a opção pelos europeus, mas algo me diz que se há uma Copa para os "hermanos" fazerem uma graça, é esta. Portanto, cravo França e Equador, na ordem.

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO D: Choque de Titãs

A presença da Costa Rica no Grupo D impede, na minha opinião, que esta chave se transforme no chamado Grupo da Morte. Mais adiante falo de onde a foice vai comer solta, pois agora cabe analisar um singularíssimo encontro de três campeões mundiais já na primeira fase. Um deles sobra.

Até a última Copa, o candidato à degola seria o Uruguai. Entretanto, desde 2010 a Celeste Olímpica vem ensaiando um renascimento. Tem um ataque poderosíssimo (muito embora Luisito Suarez não chegue a 100%), a mística de 1950 e lhe dar um impulso adicional e o fator territorial, que pode contribuir para que os uruguaios tenham uma pequena vantagem sobre os seus fortíssimos concorrentes. Além disso, depois de ver o último jogo dos bicampeões mundiais, confirmei que Forlán, ao contrário da maioria dos outros atletas com atuação internacional, joga muito mais na Seleção do que no clube em que estiver eventualmente vinculado. Acredito que nossos irmãos sul-americanos se classificam, ainda que na segunda vaga.

A bomba sobra para Itália e Inglaterra desarmarem. A princípio, a sempre forte Azzurra seria favorita, e acredito que efetivamente tenha vantagem sobre os britânicos. Entretanto, os italianos jogam suas partidas em Manaus, Recife e Natal, o que pode desgastar demais o time, enquanto que a Inglaterra, depois de estrear na estufa da Arena Amazônia, jogará em São Paulo e Belo Horizonte, cidades de clima muito ameno nesta época.

Em resumo, muita coisa dependerá da partida entre os dois, mas, em que pesem as ponderações com relação ao clima e ao desgaste, ainda acredito que passam os tetracampeões, com o Uruguai em segundo.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO C: Quem não tem Falcão, Caça com o Quê?

Seguindo na gatomestrice, lanço meus palpites para o Grupo C. Como disse no post anterior, o fator campo pode favorecer as seleções sul-americanas, e nesta chave a Colômbia despontava como favorita, seguida da Costa do Marfim. A retranca de proporções mitológicas da Grécia e a dedicação exemplar dos japoneses não devem ser suficientes para barrar o jogo mais vistoso dos colombianos e africanos.

Entretanto, o corte de Falcão Garcia pode ter efeito mais sério sobre o ânimo de sua equipe, muito embora esta seja apontada como a melhor geração colombiana desde o time que tinha Valderrama, Rincón e Higuita. Mas resta a incógnita sobre quem preencherá a lacuna deixada pelo craque.

É neste ponto que os "Elefantes" da Costa do Marfim podem se esgueirar para conquistar a liderança da chave. Com um time um pouco envelhecido, mas muito experiente, não só pela atuação de seus principais jogadores nos grandes campeonatos europeus, mas também pela vivência da Copa passada. Começando contra o Japão em Recife, o clima pode ajudar, ainda que o jogo tenha sido marcado para as dez da noite. Enquanto isto, a Colômbia sofrerá com o jogo horroroso da Grécia, que se fecha lá atrás e pode complicar qualquer partida.

Dependendo dos resultados da primeira rodada, os Marfinenses podem jogar pelo empate, empurrando a Colômbia para o segundo lugar.

Ainda que o desnível entre os times não seja tão grande como aquele existente no Grupo B, Japão e Grécia não parecem ter muitos recursos para superar os favoritos. Os helênicos talvez tenham um pouco mais de chance, baseando-se numa defesa forte para arrancar empates e tentar jogar sua sorte justamente contra a equipe asiática.

Por outro lado, o Japão pode ter problemas com o calor das três sedes que o acolherão: Recife, Natal e, principalmente, Cuiabá devem oferecer dificuldades adicionais a uma equipe que já se mostrou abaixo do nível necessário para lograr classificação à fase seguinte de uma Copa.

terça-feira, 3 de junho de 2014

PALPITÃO DO BARBALHÃO/GRUPO B: O Perigo Mora ao Lado

Como é tradição neste bloguinho, faltando dez dias para a Copa, começo a sessão de gato-mestragem. Afinal, qual a utilidade de escrever um blog sobre esporte se não for para dar palpite?

A ideia é analisar cada grupo, acabando por aquele do Brasil. Pela ordem, o grupo que vai indicar o adversário da nossa Seleção nas oitavas, o B.

Pela lógica natural, Espanha e Holanda se classificam, já que Austrália e Chile não devem oferecer grande resistência. Entretanto, o jogo inaugural, que reedita a final da última Copa e deve definir o primeiro da chave, pode ser a esperança do Chile.

Explico: embora a dupla europeia seja visivelmente superior, acredito o fator campo pode favorecer os sul-americano. Como um dos dois vai começar perdendo dois ou três pontos, se o Chile vencer bem da Austrália, pode embalar para fazer jogo duro nas demais rodadas. Já demonstrou que pode fazê-lo na fase de preparação, contra a própria Espanha.

A complicar a Holanda, cinco dias depois de jogar à tarde em Salvador, jogará no frio de Porto Alegre, o que pode comprometer o seu desempenho.

Mas tudo isto pode ser só um desejo deste escriba, já que, como disse no título, o posicionamento dos grupos colocou os vencedores desta chave no caminho do Brasil, já nas Oitavas de Final. Os dois favoritos, Espanha e Holanda, apresentam equipes envelhecidas (os ibéricos mais do que os vice-campeões mundiais), mas estão muito acima dos outros dois adversários. A falta de contundência da atual detentora do Troféu FIFA poderia ser amenizada pela presença de Diego Costa que, assim como outras estrelas, chega a meia-bomba. Ainda assim, este bloguinho crava a Espanha em primeiro e a Holanda em segundo.

E ali do lado já sai uma ameaça grave às aspirações nacionais nesta Copa...

domingo, 1 de junho de 2014

APESAR DE VOCÊ

Faltam onze dias para a Copa do Mundo e tenho visto que, assim como a mim, agride a diversos conhecidos a amargura e o desânimo com que estamos encarando a Copa que deveria ser o Mundial de nossas vidas. Nossa geração está tendo a oportunidade de sediar uma festa inigualável, celebrando o esporte que é traço de nossa cultura nacional, e todos estamos parados, abúlicos, assistindo o roubo de uma de nossas alegrias genuinamente coletivas.

Antes de agora, somente a geração de nossos avós teve a possibilidade de receber uma Copa do Mundo, e mesmo assim antes de termos construído os mais incríveis capítulos da linda história de amor entre o Brasil e o Futebol. Como já disse aqui anteriormente, o sentimento de que perdemos a Copa que poderíamos ter ganho independentemente do resultado em campo está contaminando a ocasional vitória que esperamos a cada quatro anos.

Sim, porque a cada quatro anos, enquanto onze bravos vestem nossas cores em algum lugar do mundo, nós vestimos nossas cores em casa e na rua, choramos e comemoramos juntos o fato de estarmos sob a mesma bandeira, de compartilharmos a paixão por algo tão prosaico como um jogo de bola, mas tão crucial como a reafirmação do orgulho nacional. Torcemos também pelos jogadores, alvos de nossa admiração e de nossas críticas, mas torcemos mais do que tudo por nós mesmos, na medida em que a Seleção é o repositório de tudo aquilo que sublimamos no cotidiano de um país que nos promete muito, mas que sistematicamente nos nega outro tanto.

Já afirmei isto em outras ocasiões neste bloguinho: a Seleção é o Brasil que nos ensina que podemos dar certo; que podemos ter qualidade no que fazemos, sem nos despir do espírito que nos faz brasileiros. É isto que está escondido por trás de cada gol feito ou sofrido.

Há algum tempo atrás descobri, com meu compadre Leonardo Espíndola, que eu não era o único maluco que media sua vida tendo como parâmetro as Copas do Mundo. Aprendi que muitas outras pessoas comparavam sua vida com o marco dos quatro anos anteriores. O que fazia, como eu estava nas Copas de 2010, 2006, e assim por diante? Isto pode dar uma nova perspectiva ao caminho que fazemos nestes quadriênios. Se faz sentido para indivíduos, por que não faria para o país como um todo, ainda mais considerando a força de celebração coletiva que tem o futebol?

Neste caso, nossos títulos refletem bem este paralelo. Em 1958 o país vivia no Governo do "Presidente Bossa Nova", Juscelino Kubitschek, um momento de esperança no futuro, de vontade de realização, com a construção de Brasília; com o ímpeto de industrialização e urbanização do Brasil. O momento dos "50 anos em 5". 1962 foi a confirmação da singularidade daquele time maravilhoso (na minha opinião, o maior de todos os tempos, até mesmo do que a Seleção de 1970), mas que, cansado pelo tempo, já mostrava alguns sinais de desgaste. Enquanto dentro do campo soubemos nos reinventar, fora dele caminhávamos para os mesmos erros de sempre...

E aí veio 1970. Ditadura brava e um time espetacular. Como torcer para uma Seleção que poderia ser o espelho de um "Brasil Grande" repudiado por muitos? São vários os relatos de perseguidos políticos que tentaram, mas não resistiram à magia de um esquadrão que encantou o mundo inteiro. E não resistiram porque a Seleção não era daquele ou de qualquer outro Governo. A Seleção é uma expressão do país, o produto acabado (ou às vezes nem tanto) de uma série de valores imateriais que, pertencendo a todos nós, não são de propriedade de ninguém.

Em 1994, tivemos a mais polêmica de nossas conquistas. Um título que chegou a ser comemorado de mau humor por alguns que não reconheciam que o país poderia vencer de muitas formas; que os novos tempos demandavam uma postura mais madura e racional. Muitos dos detratores de então se derramam em elogios para o tique-taque da Espanha de hoje, que nada mais é, na minha humilde opinião, do que a reedição da obsessão pela posse de bola do time de Parreira, com a desvantagem de que eles não tem Romário e Bebeto lá na frente.

E, finalmente, 2002. Depois de um vice-campeonato em que não soubemos reconhecer nossos limites, criando teorias conspiratórias para ocultá-los de nossos olhos, fomos ao Oriente com um técnico que sabia traduzir o sentimento que girava em torno da Seleção. Felipão foi o homem certo na hora certa. Ele resgatou craques em frangalhos e um time humilhado e transformou-os naquilo que sempre foram: o repositório da esperança e da alegria de todo um país. Por um breve mês, testemunhamos novamente o que nossa capacidade de trabalho e superação podem fazer.

Pois bem, depois de passarmos 2006 e 2010 deslumbrados em ilusões de como seríamos inigualáveis ou de como resultados ocasionais nos tornariam imunes a qualquer revés (e olha o paralelo com a vida nacional novamente...), chegamos a 2014 no cenário depressivo que descrevi acima e que todos os meus 5 leitores percebem. Mas estamos, eu e todos com que converso, incomodados com isto. A desilusão com nossa classe política não pode permitir que nos seja levado, além "tudo o que já tinha para ser roubado", também o que não poderiam tomar de nós.

Como falei ali em cima, assim como a Seleção não é de nenhum Governo, a alegria da Copa também não tem cor partidária. É verde-amarela e mais todas as cores que couberem na celebração não de um "Brasil Grande", e não de "um país sem miséria". A alegria da comunhão vivida em cada casa e no meio da rua é de um país de muitas faces, que construiu, à margem do Estado onipresente na nossa vida, um sentimento coletivo em torno de um esporte. O futebol é uma religião pagã que encanta o maior dos católicos e desperta a fé no mais cético dos ateus.

O futebol é nosso, e a alegria que vem com ele não nos é presente de ninguém, além dos onze jogadores em campo. E, embora reafirme a constatação de que perdemos a Copa fora do campo, cabe invocar, curiosa e ironicamente, as palavras de Chico Buarque, de quem não nutro nenhuma admiração política - muito pelo contrário. Mas seu gênio musical gravou versos que, tendo ilustrado muito bem a autonomia do sentimento nacional na década de 1970, poderia muito bem nos inspirar a comemorar, sem constrangimento, a alegria que tentam expropriar da torcida brasileira neste 2014:

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

quinta-feira, 8 de maio de 2014

SELEÇÃO: ESPELHO E JANELA DO BRASIL.

Finalmente atendida a curiosidade do grande público, Felipão convocou os vinte e três que envergarão o sagrado manto amarelo na Copa de 2014. Num clichê muito batido, estão convocados os guerreiros que vão defender a "Pátria de Chuteiras", inspiração explícita e confessada do título deste bloguinho.

Embora a intenção do blog seja estender a análise para as outras modalidades que vêm se incorporando à cultura esportiva brasileira (e por isto o nome Pátria Desportiva), é evidente que o futebol ocupa um espaço majoritário em meus posts. E falando de futebol brasileiro, nossa Seleção é a expressão maior do nosso patriotismo traduzido em empenho atlético.

Em outras oportunidades e, se Deus quiser, num esforço que dará frutos num futuro próximo, já afirmei que a Seleção Brasileira é o nosso único produto global no cenário futebolístico. E assim o é por diversas circunstâncias, muitas delas claramente negativas. Entretanto, o furor que toma conta do país quando se trata de Copa do Mundo transforma o escrete nacional no receptáculo de todas as nossas esperanças e aspirações. E não se fala somente no campo esportivo: ela é o símbolo daquilo tudo que não conseguimos alcançar como Nação.

Já em outra ocasião tive a feliz oportunidade de citar o Professor Luís Roberto Barroso, atual Ministro do Supremo Tribunal Federal e de quem fui aluno. Em passagem já perdida nas muitas leituras que fiz de suas obras, na qual ele se refere à Constituição não só como um reflexo das virtudes e vícios de nosso país, mas também como um meio de antever um futuro desejado, um estado de coisas que transcenda nossas atuais limitações e apresente um Brasil mais justo e evoluído. Neste sentido, sua lição afirma que a Constituição seria, ao mesmo tempo, espelho e janela para os brasileiros.

Assim como a Constituição, a Seleção, como afirmei acima, é um símbolo nacional, e neste sentido também faz o papel simultâneo de espelho e janela.

Minha primeira impressão ao ver os convocados, embora não haja nenhuma surpresa, tendo todos os atletas constado de listas anteriores do técnico gaúcho, foi de identificar uma certa falta de experiência. Todas as especulações que apontavam principalmente para a possibilidade de convocação de Robinho, invocavam, além de sua versatilidade, sua prévia participação em duas Copas do Mundo. Tal informação ficou martelando em minha cabeça, realmente levando-me a pensar que um integrante mais experiente poderia aumentar as possibilidades da Seleção nesta Copa.

Entretanto, Robinho não foi convocado, e fiquei pensando que iremos ao Mundial com um time de garotos.

Não é bem assim. Lendo o perfil dos jogadores, embora somente cinco tenham experiência prévia numa Copa, vários dos estreantes são atletas beirando ou já além da barreira dos 30 anos. Quando se fala em Maxwell, Fernandinho, Hulk e Hernanes, pensa-se que são jogadores com históricos relativamente recentes, quase revelações, mas tratam-se de boleiros com grande rodagem, indivíduos que só chegaram à Seleção depois de gramarem muito por diversos cantos do Mundo, trabalhando silenciosamente até serem reconhecidos.

Neste sentido, a Seleção é a chance de glória para gente que eventualmente seria destinada ao veio mediano dos bastidores. Estes jogadores, jovens ou mais velhos, conseguiram o reconhecimento profissional num dos ambientes competitivos mais exigentes do planeta: o futebol europeu. São os indivíduos excepcionais que conseguiram superar a mediocridade que já atingiu os nossos campos, outrora legendários pela qualidade abundante de seus atletas. Aqui, são o espelho de um Brasil que não consegue evoluir para todos; que, ao contrário, pune o talento e inibe o crescimento individual, só permitindo fagulhas pontuais, exemplos de que as exceções pessoais confirmam a regra geral de um país que poda iniciativas que poderiam transformar nossa sociedade.

A Seleção também é uma ilha de excelência em meio a um futebol depauperado, que desperdiça recursos em profusão, que se perde em politicagem e aborta todas as tentativas de modernização. A Seleção, estampando as letras da CBF no peito, representa uma entidade que foi incapaz de estender o prestígio de sua equipe nacional para os clubes que formam e lançam os jogadores que puseram cada uma das cinco estrelas que encimam seu escudo. Aqui também ela é um espelho de um país em que o Estado não cabe dentro da sociedade; de um país em que o Estado não serve aos seus cidadãos, mas se serve deles.

Ao mesmo tempo, e como já disse antes neste post, a Seleção é a visão daquilo tudo que sempre quisemos ser: ousados, inovadores, reconhecidos. A Seleção é o Brasil que dá certo; é o Brasil de quem se exige nada menos do que o melhor; é o Brasil que reúne a culminância de nossos talentos, que é a recompensa do trabalho de vidas inteiras de seus integrantes. É o Brasil que dá orgulho ao brasileiro.

Num tempo em que o desânimo é generalizado, alio-me a Rica Perrone e mando para longe a chatice daqueles que reeditam em 2014 a tentativa de divorciar a torcida da Seleção, como quiseram, sem sucesso, fazer em 1970. As traficâncias e inépcias que nos fizeram irremediavelmente perder a Copa fora do campo nada tem a ver com os nossos candidatos a heróis que foram convocados hoje. A Pátria de Chuteiras é a nossa janela para aquilo que gostaríamos de ser. Os Párias de Gabinete que nos envergonham são o reflexo de que queremos nos livrar.

Não há, na lista de hoje, nenhuma heresia que será lembrada pelos anos futuros. A nova "Família Scolari" traduz, nas palavras de um saudoso amigo torcedor, "o que temos para hoje". Embora possa não ser o que sonhamos, talvez seja suficiente para resgatar um dos maiores traumas da Nacionalidade. Talvez o pragmatismo que Felipão tenta nos ensinar (pela segunda vez) seja uma janela que se abra para um país mais maduro, que não espera pelas condições ideais, nem pela "revolução" mágica que resolverá todos os nossos problemas.

Comprometer-se com um resultado - como Scolari o fez -, confiar na vitória pelo trabalho e deixar as fantasias de lado pode ser o maior legado que esta Seleção nos deixará.

Torçamos sem culpa. A vitória na Copa não será uma vitória de quem fez este arremedo de evento; assim como não será uma nuvem de fumaça a disfarçar a visão desagradável que temos no espelho. Torcer para esta Seleção, na verdade, pode ser uma aposta na visão de um Brasil que nos inspire a fazer mais por ele.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

NEM UM POUCO FANTÁSTICO

Numa semana pontuada por tocantes depoimentos de toda uma geração que foi inspirada pela carreira de Ayrton Senna e várias demonstrações de saudade de um esportista que resgatava a estima do brasileiro, num período em que estávamos carentes de ídolos e de vitórias, criei, a partir da chamada do Fantástico, uma expectativa para a matéria que anunciava a memória do programa que cobriu, há 20 anos, a morte do tricampeão.

Pois bem, qual não foi minha decepção, quando vi que a abertura do segmento no programa foi feita... entre sorrisos!!! A proposta inicial não era falar da sua carreira vitoriosa de Senna, mas do acidente que lhe tirou a vida... E Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos sorriam ao iniciar a chamada de um programa que cobriu uma das maiores tragédias emocionais do país.

Para além da absoluta inadequação do comportamento dos apresentadores, o conteúdo da matéria foi decepcionante. Só buscou-se o depoimento de Fátima Bernardes, quando havia todo um elenco de grandes jornalistas que poderiam recriar o clima do programa original, se era esta realmente a proposta. Mas buscou-se uma entrevista insossa com três garotos tirados não se sabe de onde, entremeados por imagens e depoimentos soltos, sem qualquer resgate do ambiente de consternação e incredulidade que se abatia naquele triste domingo.

Culminando o descuido imperdoável da produção e da direção do programa, encerrou-se o que deveria ser uma homenagem a um campeão com a imagem da derrota definitiva, o acidente, o socorro inútil e a remoção de Senna da curva Tamburello. Nada pior.

Se a ideia era relembrar o que um ícone esportivo como Ayrton foi para toda uma Nação, não poderia haver escolha mais lamentável de abordagem. Se a intenção era recuperar os bastidores de um programa difícil como foi aquele de 01/05/1994, a sua concepção foi ruim e preguiçosa.

Desperdiçou-se a oportunidade de se reavivar, para uma nova geração, o mito esportivo que Senna representou; a sua profunda identificação com um ideal de nacionalidade vencedora, uma ética do trabalho que tanto nos faz falta hoje e mais uma vez.

Ao contrário do belíssimo tributo que o Sportv prestou ao longo de sua programação da ultima quinta-feira, o Fantástico de hoje passou o limite da falta de capricho. A desfiguração do Tema da Vitória, ao fundo das imagens do corpo inerte de Senna sendo removido, foi um tapa na cara de uma geração que se emociona com seus acordes e vive a saudade da perda do homem que carregava nossa bandeirinha nas manhãs e madrugadas de domingo.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

NÃO GOSTAMOS MAIS DA BOLA?

Iniciada a Libertadores deste ano com seis representantes brasileiros, as Quartas-de-Final terão, na melhor das hipóteses, apenas dois times tupiniquins. Com a queda do Grêmio nesta noite, vimos o quarto brasileiro se despedir da competição continental.

Enquanto cumpria um prazo judicial, observava de rabo de olho a transmissão da partida em que o Tricolor Gaúcho foi eliminado nos pênaltis pelo San Lorenzo. O que me impressionou foi o nervosismo que assolava o moral e as ações do Grêmio. Impressionado porque era visível tal estado emocional, e porque, como rubronegro recém-eliminado em casa, eu sabia exatamente como é a sensação: você olha o time da arquibancada e percebe que ele não sabe o que fazer com a bola. Tanto a torcida quanto o time contam com o desespero. A ânsia de ganhar é, por vezes, tudo o que resta a um time brasileiro para tentar caminhar adiante na Libertadores.

O mal-estar aumenta quando se percebe que os adversários conseguem controlar a posse de bola; que seus cortes acabam sempre achando um companheiro bem colocado; que a bola nunca é entregue de graça para o nosso time. Perceber isto contra uma equipe argentina nem é tão grave, pois eles sempre souberam tocar melhor a bola do que nós.

Entretanto, como disse, fui testemunha presencial da agonia do Flamengo contra o Leon. Mexicanos estão sabendo tocar a bola melhor do que nós!!! Nossos jogadores, quando em situação de pressão pelo resultado, veem a bola queimar-lhes os pés. Ninguém quer conduzir o jogo, construir uma jogada, pensar uma solução enquanto controla a pelota. A questão é empurrá-la para o mais próximo da área, para ver o que acontece.

Lembro-me que, quando criança, a pobreza do futebol inglês era descrita pela compulsão britânica pelos chuveirinhos sobre área, na tentativa de encontrar o grandalhão que iria cabeceá-la para dentro do gol. Pois bem, o índice de cruzamentos que partem da intermediária nunca foi tão grande. Até Daniel Alves, que no Barcelona não ousa livrar-se da bola antes de trocar passe com seus companheiros, é, quando veste verde-amarelo, grande entusiasta do cruzamento dez passos após a linha do meio-campo...

Parece que definitivamente deixamos de gostar de ficar com a bola. Não sabemos mais o que fazer com ela. Perdemos intimidade com a esférica, quase a estamos chamando de Vossa Excelência. Temos que voltar a conviver com a bola, amar seu toque, ansiar por ficar com ela e por tê-la para brincar com nossos amigos. Sem isto, o futebol brasileiro será uma imagem desbotada num baú que guarda as memórias cada vez mais longínquas de uma paixão que, pela falta de intimidade, esfriou na rotina de jogos sem graça.