quarta-feira, 10 de junho de 2015

DEFESA MONOTEMÁTICA

Outro dia, compartilhei no Facebook um link para uma reportagem que citava uma revista francesa que, antes da final da Champions League, cogitava seriamente se Messi já seria maior do que Pelé. Não li o artigo da aludida revista, pois não estava disponível, mas lembrei de outra reportagem semelhante, veiculada pela Placar há alguns anos. O periódico brasileiro, diante do impacto avassalador que o argentino causa no mundo do futebol, tentou criar parâmetros objetivos para compará-lo a Pelé. O primeiro deles era o número de gols, e a projeção que se fazia é que a quantidade de tentos de Messi acabaria muito próxima do Atleta do Século XX.

Outro critério era a contagem de títulos, pontuando-se cada um diferentemente de acordo com sua importância. E aí que reside a grande questão. O grande trunfo que se levanta quando comparava-se Pelé a Maradona, e agora a Messi, é a quantidade de Copas do Mundo conquistadas por cada um. Com Maradona era fácil, pois além de ter feito muito menos gols do que o nosso Rei (e também menos do que já fez o Messi), a sua carreira em clubes ficou muito aquém do que as realizações do Pelé pelo Santos. E, em seleções, a comparação também é favorável ao mito brasileiro.

Com efeito, embora tenha alçado o Napoli a uma posição que ele jamais ocupara no cenário italiano, Maradona ganhou dois títulos nacionais por lá, além de uma Copa UEFA, a antecessora da morna UEFA Europa League. Jamais ganhou uma Libertadores ou atuou num clube com a ampla dominância detida pelo Santos na década de 1960.

Entretanto, quando a comparação é feita com Messi, a situação se complica. Ah... mas o Messi ainda não ganhou uma Copa. A própria Placar, com o seu critério objetivo, deixou clara a insustentabilidade desta defesa monotemática. Com a conquista do último sábado, este já é o terceiro título da Champions League do argentino. Em vitórias continentais com clubes, ele já está à frente de Pelé, que só ganhou duas Libertadores com o alvinegro praiano.

Ah... mas ele não ganhou uma Copa do Mundo. Mas ganhou uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos, e encanta o mundo todos os meses, com pelo menos uma apresentação espetacular ou uma jogada antológica. Em tempo real, com replays infinitos na Internet. E a cores. E na Europa, que sempre foi o centro do mundo no futebol.

Não estou falando que Messi é melhor do que Pelé. Não é, basta ver "Pelé Eterno" para constatar que o Rei continua sendo ele. Mas estamos próximos de incorporarmos outra síndrome de Santos Dumont. Todos nós crescemos aprendendo que o avião foi inventado por um brasileiro, Alberto Santos Dumont, que teria feito o 14 Bis voar em 1906, na frente de centenas de franceses e de câmeras que filmaram seu feito. Pois bem, TODOS os demais países do mundo atribuem a invenção aos Irmãos Wright, americanos que teriam voado em 1903, num aeroplano que se jogou de um barranco, com registro apenas fotográfico.

Depois de 100 anos, um brasileiro conseguiu montar uma réplica de 14 Bis e fazê-la voar. Ao que consta nenhum americano fez o mesmo com o modelo dos Wright. E daí? Ninguém, além de nós, acredita no ineditismo de Santos Dumont, e muita gente ignora que ele tenha sequer existido.

Pois bem, nossa irresponsabilidade histórica e nossa fixação patológica em Copas do Mundo pode levar o Pelé para o mesmo canto do mineiro de chapéu amassado. De que adianta nos apegarmos ao relato de cronistas cada vez mais raros, que contam apenas com a memória para afirmar que Pelé era inigualável? Ele fez sucesso em duas Copas (em 1962 ele jogou apenas uma partida) e estraçalhou num time escondido na periferia global.

Ah... mas o Messi não ganhou uma Copa do Mundo. Copas ocorrem a cada quatro anos, são espetaculares, muitas vezes inigualáveis. Mas o futebol se constrói a cada semana, com as façanhas que os jogadores fazem pelo ou contra seu time de coração. O argentino faz isto por um dos clubes mais populares do planeta. A cores. Com repetição na Internet. Ele não precisa ganhar uma Copa do Mundo. Na pontuação proposta pela Placar, bastava ganhar mais duas ou três Champions League, e seu escore ultrapassaria o Pelé e suas três Copas. Já ganhou mais uma, deixando o Boateng deitado no caminho.

Temos que deixar a defesa monotemática para a CBF, que ainda acredita que o futebol brasileiro é espetacular porque ganhou 5 Copas do Mundo. Só temos um produto global no esporte, a nossa Seleção. Nunca soubemos construir uma liga nacional que se projetasse internacionalmente, pouca gente conhece nossos clubes. Enquanto não dermos este passo, e com ele resgatarmos a mitologia que construiu monstros sagrados na história futebolística, Pelé terá cada vez menos chances na comparação. Não podemos deixar que ele se transforme em outro Santos Dumont. Devemos isto ao Rei.

domingo, 8 de março de 2015

RUMO À SÉRIE C

Novamente, passei um longo tempo sem escrever neste bloguinho. Vicissitudes de quem trabalha muito. Mas vamos ao que interessa: quando criei este blog, minha intenção era traduzir a identificação que o Brasil e os brasileiros têm com o esporte e como este seria um excelente veículo para a expressarmos um patriotismo saudável.

Sempre defendi aqui que o esporte era um espelho de nossas qualidades e uma janela para nossas aspirações coletivas. O esporte sempre foi um elemento catalisador do que podemos ter de melhor e, nos últimos anos, parecia ser a vitrine pela qual mostraríamos que finalmente estávamos cumprindo nosso destino de "país do futuro". Tínhamos ganho o direito de sediar, em sequência, uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A confiança da FIFA e do COI mostrava que, contrariando a frase atribuída ao General De Gaulle, éramos vistos como um país sério.

Mesmo com as críticas e as ressalvas de vários setores (meu irmão, jornalista esportivo, sempre teve reservas a tais iniciativas), acreditava que o compromisso em entregar dois eventos deste porte seria uma alavanca para alcançarmos novos padrões de gestão pública e de gestão esportiva; que o envolvimento do país em projetos caros ao imaginário popular (o Brasil como uma potência esportiva, traduzindo nossa vocação para sermos uma grande nação) seria um vetor de melhoramento em diversas áreas.

Entretanto, a Copa passou e nos deixou alguns elefantes brancos, uma seleção desmoralizada e um rastro de suspeitas. Os Jogos Olímpicos se aproximam e continuamos na rotina de atrasos, aditivos, desmentidos e críticas internacionais à nossa atávica incapacidade de honrar nossa palavra.

Mais do que isso, a Copa passou e o futebol brasileiro regrediu quase vinte anos, reelegendo figuras notórias para os mesmos cargos, voltando à mesquinharia de sempre e à falta de visão que agora nos faz perder jogadores para a China e termos menos público do que na ainda incipiente Liga norte-americana de futebol.

Os Jogos Olímpicos se aproximam e vemos que um raro modelo de eficiência administrativa no esporte, a Confederação Brasileira de Vôlei, não estava imune aos desmandos que pululam em todas as outras federações, clubes e confederações ao redor do país. E, enquanto isso, uma esgrimista confessa publicamente sua vergonha em competir pelo país.

A premissa deste blog está correta: o esporte é realmente o espelho de nossa nação. Mas a imagem ali refletida é muito feia. Tenho andado muito desesperançoso, e a cada dia vejo que nos afundamos nos erros de sempre. Grita-se muito - e com razão - contra a corrupção nas esferas governamentais, mas os políticos não vêm de Marte, saem da sociedade que temos. E um setor que traduz de modo contundente os vícios do povo brasileiro é justamente o esporte. A falência de clubes e os desmandos de federações nada têm a ver com o setor público, mas com nosso patrimonialismo e nossa quase inexistente afeição à institucionalidade e à democracia.

O acentuado declínio técnico de nosso futebol, a modalidade de preferência nacional, é consequência direta de anos em que acreditamos que não precisamos planejar nada; de décadas em que confiamos que o talento continuaria a brotar da terra, sem que qualquer trabalho fosse necessário.

Somos um povo capaz de grandes façanhas, mas só quando a sorte está do nosso lado. Quando precisamos trabalhar duro para construir um caminho seguro para alcançar nossos desejos, fracassamos rotundamente. Durante mais de dez anos, preferimos acreditar que nosso sucesso já estava garantido, que o Pré-Sal era "nosso bilhete para o futuro", que já tínhamos nos transformado numa nação de Primeiro Mundo, ou, na linguagem boleira que um ex-Presidente da República adora, que já tínhamos assegurado nosso lugar na Série A.

Pois bem, agora descobrimos que nunca deixamos a Série B e, pior, começamos a nos preocupar com o risco iminente de nos tornarmos um país de Série C. Não só jogamos fora o trabalho feito para preparar nosso "acesso" à Série A, como estamos abandonando as poucas virtudes que caracterizavam nosso país, rumando em marcha batida para a irrelevância global.

Já estamos vendo isto no nosso esporte predileto. Certamente teremos um alento no ano que vem, porque confio na gestão do Comitê Olímpico Brasileiro e na força da torcida nos Jogos Olímpicos que disputaremos em casa. Mas, e depois?

Pior do que isto: com o quadro dantesco que vivemos na política e na economia, associado aos atrasos que já acumulamos em nossas obrigações com relação à organização do referido megaevento, pelo que seremos lembrados no futuro da história esportiva? Pretendíamos ser uma nova versão dos Jogos de Barcelona, mas corremos o sério risco de estarmos relegados ao rebotalho que acolheu o legado nefasto dos Jogos de Atenas...

Desculpem o tom pessimista do post, mas, parafraseando o personagem de Al Pacino em Perfume de Mulher, estou muito velho e muito cansado para seguir acreditando que "sou brasileiro e não desisto nunca", uma peça de ufanismo tolo e que remete claramente ao ideário bolorento do Regime Militar, inusitadamente resgatado por um partido que construiu sua (falsa) imagem num pretenso combate ao autoritarismo.

Ainda na esteira do mesmo antológico discurso cinematográfico, o país inteiro remete à figura com que o personagem de Al Pacino se descreve: sempre tivemos claros diante de nós os dois caminhos que poderíamos seguir, e invariavelmente escolhemos o errado. Sempre seguimos pela trilha mais fácil, aquela que sedutoramente nos dizia que estávamos predestinados ao sucesso, sem qualquer necessidade de trabalho duro. Os frutos estamos colhendo agora. O futebol no Brasil é a primeira modalidade que se esfarela diante de nossos olhos, assim como o país vai se desfazendo na sua infra-estrutura, na sua institucionalidade política, na sua sustentabilidade econômica.

Pegamos a trilha mais fácil, aquela bem larga, sem qualquer aclive. Mas estamos descobrindo que o pouco esforço para percorrê-la aponta para baixo. Estamos rumo à Série C.

sábado, 25 de outubro de 2014

PORQUE ANTES DE DESPORTIVA, É A PÁTRIA.

Relutei muito em usar este bloguinho para falar de eleição, pois dentre minha meia dúzia de leitores, estatisticamente algum deve ser eleitor da Dilma. Mas o blog veicula minhas ideias a respeito do esporte como fator de identidade nacional, e acho que um espaço que tem "pátria" no nome não pode se furtar a tomar posição.

Para tanto, estava escrevendo um post enorme, que provavelmente ninguém iria ler. Estava tão grande que o blog travou duas vezes. Na segunda, como não conseguia fazê-lo voltar a funcionar, fui navegar no Face e vi, postado pelo meu colega Gabriel Quintanilha, um vídeo dé um líder politico canadense discursando após o ataque terrorista ao Parlamento daquele país. E aí me veio a necessidade de apagar todas as análises chaaaatas que eu estava fazendo, para tentar parafrasear o referido parlamentar do Canadá. Lá, ele falava que mato de terror não poderia mudar a forma pela qual a sociedade canadense vive. Que uma violência daquela não poderia ditar a vida nos espaços publicos do Canadá.

Eles têm razões para se orgulharem do que são e do que fizeram. Nós, nem tanto. Somos ainda uma sociedade muito desigual e, pior, pouco afeita à convivência democrática. Esta é a dura realidade. E, pior do que isto, parecemos querer nos condenar eternamente à uma adolescência política, em que esperamos iluminados guias para nos conduzir a um paraíso na Terra.

O impeachment de Collor e o governo de coalizão que se formou em torno de Itamar Franco pareciam apontar para um momento de maturidade, em que teríamos renunciado definitivamente às "soluções mágicas", às "balas de prata" e aos voluntarismos que pautaram a Republica desde o seu nascedouro. O Plano Real, o governo FHC e a própria eleição de Lula confirmavam está impressão: previsibilidade, responsabilidade e alternância pacífica de poder.

Entretanto, as coisas visivelmente degringolaram. Os 8 anos mais ganhos pelos PT nos brindaram com a volta desenfreada do patrimonialismo e da velha política de conchavos entre os grandes, e do voto de cabresto para com o resto da população.

O discurso canadense é de perseverança na sua identidade nacional, na preservação do caráter democrático daquele país. O nosso deve ser de retomada de nossa transformação.

Temos pouco do que nos orgulhar de nossa história política, mas estávamos no caminho para reconstruí-la. O patriotismo constitucional que já citei aqui neste blog, é a resposta alemã para a vergonha do holocausto. Eles se orgulham de terem formado uma democracia constitucional dos escombros do terror nazista.

Nós também temos esta oportunidade. Depois de um Império construído sobre as costas de escravos, de uma República fundada por uma quartelada é pontuada por mais de 35 anos de ditaduras diversas (Floriano, Vargas e Regime Militar), estamos mantendo um sistema democrático, um Estado de Direito constitucional há mais de 25 anos, isto tudo aliado à nossa tradição de consenso e de solução pacífica dos conflitos.

Pois bem, voto Aécio, não porque ele é um santo, mas justamente porque ele se assume humano diante dos desafios de governar o Brasil. Porque ele representa uma tradição de respeito democrático que teve seu ápice na capacidade de articulação de seu avô, Tancredo Neves, que derrubou a ditadura sem pegar em armas. Porque ele se opõe a um partido que aposta na divisão dos brasileiros e que mal consegue disfarçar sua vocação autoritária.

Precisamos de alguém com compromisso induvidoso com a manutenção da ordem constitucional; de um candidato que não se disponha a transigir com valores democráticos; de um Presidente avesso a voluntarismos, que busque consensos institucionais, em vez de flertar com aventuras plebiscitárias e tentações bolivarianas.

No Canadá, o discurso é para manter a identidade de que os faz uma nação orgulhosa do que é. Aqui, o voto é 45, para seguirmos mudando nossa história, para buscarmos o orgulho do país que ainda podemos ser.

Voto Aécio, porque ele não promete me salvar, mas porque ele se compromete em pôr o Estado para me servir, como deve ser. Passamos a nossa história republicana buscando messias que nos redimiriam dos nossos pecados nacionais. Como já dito em outras paragens, somente nossas obras nos redimirão. Temos um governo que nos diz que melhorou a nossa vida, e que, na esteira dos absolutistas franceses, depois dele, só há o dilúvio.

Ninguém melhorou a minha, a sua ou a nossa vida. NÓS fazemos isto a cada dia, com nossas pequenas e grandes escolhas. Não acredito em quem me promete que tem consigo a MINHA salvação. Meus risos e minhas dores são fatos da MINHA vida e do meu trabalho, não são uma dádiva de um Governo. Assim é com cada um de nós.

Não quero "pais do povo" cobrando adesão incondicional. O Brasil trocou seu destino várias vezes em busca de uma tutela milagrosa que nunca veio, e nunca virá. Chega de originalidades históricas; chega de aventuras governamentais. Passou da hora de amadurecermos como Nação. Precisamos de um governo que nos trate como adultos, responsável e transparentemente, e não de alguém que nos aconselhe a trancar a porta com medo do bicho-papão.

Eu voto Aécio. #forabolivarianos

terça-feira, 8 de julho de 2014

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 1 x 7 ALEMANHA: A Colheita é Obrigatória.

Vejo futebol desde cedo. O primeiro jogo que lembro é Flamengo 3 x 2 Atlético/MG, final do Brasileiro de 1980. Portanto, tenho 32 anos de torcida. Nunca vi um time tomar cinco gols em 30 minutos. Tomamos um baile. É uma humilhação para o resto dos tempos, a culminância da balbúrdia e do desmando que toma o futebol brasileiro. Mas isto é material para outro post. Eis as notas:

JÚLIO CESAR: talvez, o menos culpado do desastre de hoje. Aliás, salvou pelo menos duas bolas que aumentariam o vexame. - 7,0

MAICON: perdido no apoio. - 3,0

DANTE: totalmente envolvido na maioria dos gols. - 2,0

DAVID LUIZ: ainda que tenha tentado até o final, quando o time toma sete gols, o zagueiro não pode ter boa nota. - 3,0

MARCELO: o corner que gerou o primeiro gol saiu de erro seu, que teve correr de volta e ceder o escanteio. Vários dos gols saíram pela esquerda. - 2,5

FERNANDINHO: horrível. Perdeu bolas, errou botes, não ajudou na armação. - ZERO

PAULINHO: entrou melhor, buscou o ataque, mas ainda assim, a Alemanha continuou dominando o meio-campo. - 3,5

OSCAR: injustamente vaiado, foi outro que buscou o jogo. Começou a partida empenhando-se em roubar bola, como sempre. Acabou marcando o gol de "honra" (como se houvesse alguma restante no dia de hoje) - 5,0

HULK: também errou tudo que tentou. Outro com desempenho horroroso. - ZERO

RAMIRES: mais um substituto que buscou alguma reação, mas deixando o meio-campo para a Alemanha. - 3,5

BERNARD: não produziu nada no primeiro tempo, ainda conseguiu algumas jogadas no segundo. - 4,0

FRED: absolutamente nulo, culminando uma Copa para esquecer. - ZERO

WILLIAN: muita firula, pouco resultado. - 2,0

LUIS FELIPE SCOLARI: pecou pela soberba, montou o time completamente errado, pela presunção de achar que poderia fazer frente à Alemanha. Está visivelmente superado, como praticamente TODOS os treinadores brasileiros pretensamente de ponta. - ZERO

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SELEÇÃO DAS QUARTAS

Como sempre, a seleção das Quartas-de-Final, em cima da hora das semis (e já está bom, pois saiu antes do primeiro jogo!!). Vamos de novo de 4-4-2:

NAVAS (Costa Rica): como o goleiro que o Van Gaal tirou da cartola pôs os Ticos fora da semifinal, Navas fica novamente à frente do gol da Seleção da Rodada. Foi ele o responsável pela Costa Rica ter mantido a invencibilidade no Mundial. Parou o ataque da Holanda.

KUYT (Holanda): dedicação total ao time. Embora tenha atuado com mais ênfase no apoio, é impressionante lembrar que o holandês é atacante de origem.

KOMPANY (Bélgica): comanda com incrível segurança a zaga belga. Ainda que tenha tomado uma caneta de Higuaín e não tenha conseguido mandar os "hermanos" para casa, mostrou grande categoria e dominância quase todo o tempo do jogo.

DAVID LUIZ (Brasil): simplesmente sensacional. Faz uma Copa incrível. Comandou a zaga junto a Thiago Silva e marcou um golaço. Se conseguirmos o Hexa, é sério candidato a ser o craque do Mundial.

MARCELO (Brasil): um pouco por falta de concorrência e um pouco pelos méritos inquestionáveis na opção que dá para a saída de jogo brasileira, o lateral do Real Madrid volta mais uma vez a figurar na seleção da rodada.

FERNANDINHO (Brasil): voltou a mostrar uma impressionante consistência na mescla entre proteção à zaga (anulou James Rodriguez quase o tempo todo) e apoio à armação.

MASCHERANO (Argentina): discretamente vai se consolidando como um dos melhores volantes da Copa. Assim como fez no jogo contra a Suíça, dominou novamente o meio-campo e soube participar eficientemente da distribuição de jogo.

POGBA (França): foi quem tentou levar Les Bleues à frente. Fez uma grande Copa e dominou o meio-campo francês.

SNEIJDER (Holanda): está crescendo na reta final. Aparece mais no apoio ao ataque e se firmou como a referência na distribuição de jogo da Holanda.

ROBBEN (Holanda): continua aterrorizante em suas desabaladas carreiras pelo lado do campo. Um verdadeiro azougue que perturba a defesa adversária do começo ao fim do jogo. Até agora, é o melhor da Copa, até porque James Rodriguez não conseguiu aparecer contra o Brasil.

MÜLLER (Alemanha): outro monstro. Movimenta-se por todo o campo, arma o jogo, puxa contra-ataques, ajuda a defesa e faz gol (embora tenha passado em branco neste mata-mata).

JOACHIM LÖW (Alemanha): embora Van Gaal tenha ganhado destaque na mídia pela ousadia de trocar o goleiro, fato é que a Holanda penou para conseguir passar pela Costa Rica. Já a Alemanha dominou completamente a França, jogou o que era preciso para chegar à quarta semifinal seguida. Méritos para um técnico que soube convocar e sabe variar a escalação e o esquema de acordo com a necessidade de cada partida.





sábado, 5 de julho de 2014

UMA AUSÊNCIA, OUTRA METÁFORA

A contusão de Neymar tomou proporção de verdadeiro drama nacional. Já vi inclusive gente protestando contra a preocupação do país com o destino de uma só pessoa. Um recado a estes: deixem de ser chatos. Tentar negar o poder de mobilização da Copa é ignorar a história e, mais do que isto, fechar os olhos à realidade com que já estamos convivendo há mais de vinte dias. E não é só aqui no Brasil. O Mundo para a cada quatro anos.

Posta esta premissa, a lesão de Neymar e a falta que ele fará ao nosso time é uma boa oportunidade para termos um aprendizado como Nação. Em certa medida, a presença dele em campo reforçava um vício brasileiro. Não só no futebol, mas na vida como um todo. É evidente que nosso time tem limitações; que o planejamento para esta Copa foi no mínimo criticável, na medida em que fomos resgatar um treinador já na sua curva descendente, depois de inventarmos um técnico que visivelmente não tinha currículo para comandar a Seleção. Entretanto, o fato de contarmos com Neymar em nossas linhas criava o sentimento de que as coisas poderiam ser resolvidas "magicamente". Jogar-se-ia a bola para ele e sua capacidade individual resolveria nossos problemas.

Fazendo jus à nossa herança cultural, reproduzimos em tudo, e também no futebol, o Sebastianismo que assombrou nossos patrícios por muito tempo. Explica-se: Dom Sebastião era um Rei de Portugal que desapareceu durante as Cruzadas e, durante muito tempo, nutriu-se a lenda de que ele retornaria para liderar os portugueses. Ou seja, Dom Sebastião voltaria para, magicamente, resolver os problemas da Nação.

Durante muito tempo, confiamos os destinos da Nação aos "Defensores Perpétuos", a projetos de "Generalíssimos", a "Pais dos Pobres" ou aos "Nossos Guias". Estamos sempre à procura do pai que nos conduzirá a "Terra Prometida". No futebol, a extrema fortuna de termos contado com Pelé nos fez todos viúvas do gênio que venceria as partidas sozinho; que, também magicamente, instilaria a arte vista em 1958, 1962 e 1970 em elencos muito distintos daqueles que cercavam o "nosso" Rei.

Atravessamos um longo deserto de 24 anos até aprendermos que somente com o trabalho duro e um time organizado voltaríamos a vencer. E ainda assim creditamos a conquista de 1994 majoritariamente a Romário. A conquista de 2002, tendo contado com três jogadores singulares (Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo - e este nem acho que seja o gênio que muita gente diz que é), reforçou nossa crença em soluções fantásticas.

Pois bem, Neymar era prova de que Deus seria brasileiro, tendo nos agraciado com mais um fora-de-série. E bola nele que ele resolve.

Mas agora estamos sem Neymar. E vamos encarar a Alemanha. E temos também que encarar a realidade: ao contrário do que se repetiu a vida inteira, não somos mais o país do futebol. São os alemães os verdadeiros "donos da bola". Em Copas, podem não ter ido a todas, mas são eles que têm mais jogos realizados e que estiveram mais presentes entre os quatro primeiros (13, em 18 Copas). São eles também que têm o campeonato que põe mais gente no estádio, em todo o Mundo; e são eles que têm o maior número de jogadores federados.

Mais do que isto, são eles que estão jogando bem. Agora são Götze e Müller que dominam a bola com categoria; são Schweinsteiger e Özil que distribuem o jogo com inteligência e precisão.

Em suma, eles são melhores. São mais organizados. E são simpáticos, souberam chegar no nosso país e integrar-se às nossas tradições e idiossincrasias. Não dá nem para odiá-los, como fazemos com os argentinos, cuja torcida com frequência se comporta da pior forma possível.

E agora? Agora vamos ter que superá-los com o que temos. Cada jogador terá que dar 110%, pois não contamos mais com o craque que tudo resolveria. Se perdermos, não haverá vilão a ser execrado; não haverá um heroi sobre o qual depositarmos a culpa por não ter decidido sozinho. Se perdermos, perderemos todos. Juntos.

E juntos também venceremos, se vencermos. Esta é a oportunidade de abraçarmos a metáfora criada para nós. Temos um mundo de desvantagens para os alemães, tanto dentro, quanto fora do campo. Mas uma vitória na próxima terça seria um poderoso símbolo coletivo de superação, de união e empenho. Sem mágica.

Será a vitória da solidariedade, em que um corre pelo outro, como foi dito momentos antes da Seleção entrar em campo ontem. E em que todos correm por aquele que não pode mais correr. Da mesma forma que deveria ocorrer aqui fora.

E por que deveriam fazê-lo? Porque é uma Copa, e nestes momentos nossa identidade nacional exige que sejamos bons como raramente somos em outras horas. E mais do que uma Copa, é o Mundial que estamos tendo em casa; o torneio organizado para que tivéssemos a oportunidade de resgatar um dos maiores traumas coletivos da nacionalidade. Temos a oportunidade de fazer a festa que mais gostamos de celebrar, todos juntos. Jogadores e torcedores. Time e povo.

Mas, como estamos em casa, a vantagem e a razão da ânsia quase insuportável de glória só se justificam se, além dos jogadores, cada um de nós faça a sua parte. Argentinos estão tirando onda nas arquibancadas. Os alemães fazem mais barulho que nós em qualquer jogo. A torcida não poderá ficar somente assistindo a partida, vai ter que jogar junto. O dever cívico de terça-feira é sair rouco do Mineirão.

Estamos sem o Capitão; sem o craque e o avô de um de nossos melhores jogadores acabou de falecer. O adversário é o melhor time da Copa. Mas a noite mais escura precede o nascer do sol.

Chega de metáforas. Vamos 'pra cima deles Brasil!!

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 2 x 1 COLÔMBIA: Entre a Alegria e a Dor.

Como todos já sabem, o jogo de hoje, que poderia marcar uma atuação pouco melhor da Seleção, acabou sob uma nota triste, a lesão do nosso Menino de Ouro, que não mais jogará nesta Copa. Mas este é um assunto para outro post. Agora, o que importa é a cornetagem:

JÚLIO CÉSAR: não podia fazer outra coisa no pênalti e saiu bem do gol, todas as vezes que foi acionado. - 6,5

MAICON: embora não tenha feito um grande jogo, tem a vantagem de não comprometer, como é hábito do antigo titular. - 6,0

THIAGO SILVA: premiado com o gol, foi um gigante na zaga e muito mal advertido pelo árbitro. - 9,5

DAVID LUIZ: ainda melhor do que seu parceiro de defesa. Fez um golaço e arrasta a torcida a cada jogada. - 10,0

MARCELO: continua sendo uma boa alternativa para a saída de bola, além de estar cumprindo bem suas funções defensivas. - 7,5

FERNANDINHO: um ótimo primeiro tempo. Sacrificou-se para não deixar James Rodriguez jogar. - 7,0

PAULINHO: começou bem, mas perdeu fôlego no segundo tempo. - 6,0

HERNANES: não teve tempo de mostrar a cadência que venho pedindo (e que espero que ele tenha) - SEM NOTA

HULK: muito atuante no primeiro tempo, começou a errar tudo no segundo - 6,5

RAMIRES: o empenho de sempre, mas que não parece acrescentar muita coisa ao meio-campo - 5,5

OSCAR: continua sendo um excelente ladrão de bola, dedica-se a todas as jogadas. Hoje centralizou-se quando o time estava com a bola, mostrando uma ligeira melhora em relação às partidas anteriores. Com a contusão de Neymar, pode ser ele o "novo Amarildo". - 7,0

NEYMAR: não é por conta da comoção provocada pela sua lesão que eu vou dourar a pílula. Errou tudo o que tentou. - 3,0

HENRIQUE: contribuiu com um importante bloqueio a um chute colombiano. - 6,5

FRED: está mais participativo, todavia, precisa ameaçar mais a meta adversária. Ainda erra muito na função de pivô. - 5,0

LUIS FELIPE SCOLARI: acertou ao barrar o Daniel Alves, mas precisa ousar mais. A substituição de Hulk por Ramires é muito "quadradinha" - 6,0

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MENOS, DAVID, MENOS...

Lutando contra a síndrome de abstinência desencadeada por dois dias sem jogos, deparei-me com um post que anda circulando pelo Facebook, chegado a mim por dois caminhos diferentes, compartilhados pelos amigos Marcus Vinicius Cruz e Rodrigo Mascarenhas. Trata-se de texto publicado por Dàvid Ranc no site do FREE - Football Research for a Enlarged Europe (como não sei inserir link, aí vai a referência do blog: ), sob o título: A Copa do Mundo de 2014 no Brasil: Melhor Organizada do que os Jogos Olímpicos de Londres 2012?

Pelo que percebi, tal seria a constatação de que todas as críticas à organização e preparação da Copa 2014 foram infundadas e decorrentes de preconceito contra países emergentes. Ainda que efetivamente haja, na Europa e nos EUA, uma carga enorme de estereótipos sobre países como o Brasil, desqualificando antecipadamente nossa capacidade de realização, devemos reconhecer que o processo de preparação da Copa no nosso país mais confirmou do que diminuiu tal percepção...

Não bastasse tanto, achei a análise de uma superficialidade quase infantil, trazendo exemplos que pouco endossam a tese sustentada pelo autor. Vejamos. Vou invocar cada trecho do texto original (em tradução livre) e fazer meus comentários a cada um deles:

"Os estádios não estariam prontos a tempo...Se eu não estiver errado... todos os estádios estão prontos e sendo usados para a Copa": só faltava algum estádio não estar pronto... O fato dos doze (ao contrário dos oito mais racionalmente propostos pela FIFA) estádios estarem prontos é o mínimo que se pode esperar de quem quer sediar uma competição esportiva. Mas o pior é que nem todos os estádios estão prontos, e muito menos a tempo. Todos os estádios estão aptos a receberem partidas, mas não necessariamente prontos. A Arena Corinthians, monumento à irresponsabilidade pública, é o maior exemplo. Há inúmeros pontos da construção por concluir, como fartamente noticiado não pela imprensa europeia, mas pela mídia brasileira, inclusive aquela mais crítica e pretensamente isenta. O Linha de Passe de uma ou duas semanas antes da Copa sentava a marreta no estádio. Não bastasse tanto, quase nenhum dos estádios foi concluído a tempo, muitos deles foram entregues muito após a data-limite de 31/12/2013. Em outras palavras, descumprimos o compromisso assumido quanto à entrega a tempo para realização de testes. Isto para não falar no entorno das arenas...

Depois desta afirmação introdutória, Dàvid Ranc passa a fazer comparações com os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012:

"Muitas sedes estavam quase vazias em muitos dos primeiros eventos olímpicos.": aqui, o Autor compara bananas com laranjas. As competições a que ele se refere são eventos de esportes que ganham destaque somente no programa olímpico, tais como hóquei sobre a grama, tiro esportivo e outros menos cotados. Nada contra, até mesmo considerando a histeria deste escriba, que em 2012 parou para ver até mesmo as competições de tiro com arco, e outro dia mesmo ficou vendo emocionantes disputas de curling. Entretanto, não há como se comparar o apelo de um jogo de Copa do Mundo (ainda que seja Coreia do Sul x Argélia, que por sinal foi excelente!) com eventos de menor expressão numa competição multi-esportiva como os Jogos Olímpicos. Além disso, londrinos estão no circuito habitual de grandes eventos atléticos, ao contrário de brasileiros, que tentaram aproveitar uma oportunidade que não terão nesta mesma geração. Portanto, a demanda por ingressos nada tem a ver com os méritos organizacionais dos brasileiros.

"O Exército teve que ser mobilizado para suprir as falhas da G4S, a empresa privada que o comitê organizador contratou para a segurança dos jogos. Com efeito, G4S não contratou guardas suficientes para os Jogos Olímpicos.": aqui, o autor simplesmente resolveu ignorar os graves episódios de invasão do perímetro do Maracanã, um deles com depredação de parte do setor de imprensa do estádio, em que dezenas de chilenos passaram como uma manada até serem contidos pelos Stewards. Houve inclusive necessidade de mobilização de forças policiais nos jogos seguintes, a fim de prevenir novos episódios.

"O Brasil tem sido acusado de exagerar no controle de manifestações... Todavia, as autoridades britânicas exageraram ainda mias do que o governo brasileiro quando no que tange à segurança. Vejam só: o Exército foi autorizado a instalar mísseis anti-aéreos em propriedades privadas próximas a sedes de eventos olímpicos.": com certeza o Autor (e isto é desculpável) não lê o noticiário da Grande Tijuca. Até mesmo os temíveis mísseis anti-aéreos foram igualmente cogitados. As instalações seriam feitas nas redondezas do Andaraí, bairro que, pela auto-rejeição dos moradores, se torna menor a cada dia. Além disso, o Reino Unido foi alvo de ataques terroristas. Desde quando a preocupação com segurança é um defeito? Chegar a qualquer estádio na Copa 2014 (e eu fui a três diferentes) foi um festival de identificação de diferentes tropas: Guardas Municipais, contingente ordinário de policiais, tropas de choque, Exército, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Fuzileiros Navais...). Aqui, não há um defeito propriamente dito, mas tão somente uma demonstração da miopia que contamina a análise do autor em questão.

"O invasor no desfile da cerimônia de abertura que chocou muita gente na Índia...": no Brasil, até onde vi, não ocorreu uma, mas três invasões de campo. Na última, durante Bélgica e EUA, o engraçadinho ficou quase dois minutos passeando pelo campo até que a segurança conseguisse retirá-lo. Isto para não falar no protesto feito por dois participantes da festa de encerramento da Copa das Confederações no ano passado...

"O Comitê Organizador mostrando uma bandeira sul-coreana no lugar daquela da Coreia do Norte...": neste caso, sempre podemos lembrar do jogo França x Honduras, em que as equipes se perfilaram, cumprindo o protocolo de abertura da partida e... não conseguiram ouvir seus hinos nacionais... E logo com a Marselhesa, um dos hinos mais bonitos e conhecidos do mundo!

Em outras palavras, não estou querendo dizer que a organização da Copa é um fiasco. Como já era esperado, na hora em que a bola rolasse, tudo iria acabar funcionando, ainda que tenhamos que ter decretado dezenas de feriados municipais nos dias de jogo, a fim de garantir um mínimo de operacionalidade às cidades-sede, ao contrário do paraíso da mobilidade urbana pernosticamente prometido pelo Governo.

Ou seja, o diagnóstico amargo que fiz antes da Copa, de que a perdemos fora do campo, continua valendo. Não estamos tomando uma goleada, até porque nosso povo supriu a inépcia governamental de que somos eternamente reféns. Invocar estudos mal-feitos, facilmente rebatíveis num post feito em menos de meia hora, não vai nos ajudar a melhorar para um desafio ainda maior, que está a 764 dias de distância.