sábado, 5 de junho de 2010

HERÓIS E DISSENSO: UM ESPAÇO DE CIVILIZAÇÃO

Quem olhar os comentários feitos ao meu último post ("A Pátria de Chuteiras"), verá que o Beto discorda do texto com o maior cuidado. Nem precisava. Para além de sua condição de leitor nº1 do blog, o que lhe dá crédito para apitar onde for, este espaço é feito para isto mesmo: debater, cornetar, discutir até não poder mais.

Portanto, Beto, fique à vontade.

Suas ponderações relativas a heróis e a supressão do questionamento que eles podem provocar é interessante e, por incrível que possa parecer, eu concordo com vc em parte.

Também não gosto de personalidades que são postas ou se colocam acima de qualquer questionamento, tal como um ou outro presidente... Aliás, este é um problema recorrente do nosso país, que peca por um maniqueísmo exacerbado, endeusando algumas pessoas a um ponto que qualquer contestação é vista quase como heresia.

Isto acontece com as ideias também. Há alguns anos as pessoas públicas só são autorizadas a serem de esquerda. Qualquer pensamento liberal ou - Deus nos livre! - mais conservador é visto como falha de caráter.

Diante deste quadro, é exatamente isto que me encanta no esporte em geral e no futebol em particular - e aqui volto ao passatempo favorito deste blog, que é discordar do Beto (rsrsrsrsrs). Ao contrário do afirmado em seu comentário, é particularmente no futebol em que o dissenso é mais do que bem visto, é estimulado.

O papo de botequim, a profusão de mesas redondas refletem um grau de participação e interesse que não se vê em outras áreas. O status de herói não isenta os jogadores de serem fortemente questionados. Adriano, Ronaldo, Ronaldinho, Zico e até mesmo Pelé que o digam.

Talvez este debate seja um tanto emocional, peque por alguma falta de racionalidade (da qual os cartolas invariavelmente se aproveitam), mas antes isto do que a parvoíce que inunda, por exemplo, nossas vidas políticas e artística. Este envolvimento demonstra o quanto o futebol nos representa, o quanto buscamos a excelência neste campo.

E qual a razão de tal busca? O esporte pode ser a síntese de tudo que buscamos na vida fora dos campos, pistas, piscinas e quadras. Representa a superação individual, a dedicação ao coletivo, a ambição da posteridade.

Com efeito, os atletas são os heróis modernos; são a reedição dos abençoados do Olimpo entre nós. Todavia, no Brasil eles estão sujeitos ao severo escrutínio público (por vezes severo demais).

Se reproduzíssemos este comportamento em outros setores da vida nacional, quem sabe o país não estaria melhor?

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