terça-feira, 8 de julho de 2014

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 1 x 7 ALEMANHA: A Colheita é Obrigatória.

Vejo futebol desde cedo. O primeiro jogo que lembro é Flamengo 3 x 2 Atlético/MG, final do Brasileiro de 1980. Portanto, tenho 32 anos de torcida. Nunca vi um time tomar cinco gols em 30 minutos. Tomamos um baile. É uma humilhação para o resto dos tempos, a culminância da balbúrdia e do desmando que toma o futebol brasileiro. Mas isto é material para outro post. Eis as notas:

JÚLIO CESAR: talvez, o menos culpado do desastre de hoje. Aliás, salvou pelo menos duas bolas que aumentariam o vexame. - 7,0

MAICON: perdido no apoio. - 3,0

DANTE: totalmente envolvido na maioria dos gols. - 2,0

DAVID LUIZ: ainda que tenha tentado até o final, quando o time toma sete gols, o zagueiro não pode ter boa nota. - 3,0

MARCELO: o corner que gerou o primeiro gol saiu de erro seu, que teve correr de volta e ceder o escanteio. Vários dos gols saíram pela esquerda. - 2,5

FERNANDINHO: horrível. Perdeu bolas, errou botes, não ajudou na armação. - ZERO

PAULINHO: entrou melhor, buscou o ataque, mas ainda assim, a Alemanha continuou dominando o meio-campo. - 3,5

OSCAR: injustamente vaiado, foi outro que buscou o jogo. Começou a partida empenhando-se em roubar bola, como sempre. Acabou marcando o gol de "honra" (como se houvesse alguma restante no dia de hoje) - 5,0

HULK: também errou tudo que tentou. Outro com desempenho horroroso. - ZERO

RAMIRES: mais um substituto que buscou alguma reação, mas deixando o meio-campo para a Alemanha. - 3,5

BERNARD: não produziu nada no primeiro tempo, ainda conseguiu algumas jogadas no segundo. - 4,0

FRED: absolutamente nulo, culminando uma Copa para esquecer. - ZERO

WILLIAN: muita firula, pouco resultado. - 2,0

LUIS FELIPE SCOLARI: pecou pela soberba, montou o time completamente errado, pela presunção de achar que poderia fazer frente à Alemanha. Está visivelmente superado, como praticamente TODOS os treinadores brasileiros pretensamente de ponta. - ZERO

segunda-feira, 7 de julho de 2014

SELEÇÃO DAS QUARTAS

Como sempre, a seleção das Quartas-de-Final, em cima da hora das semis (e já está bom, pois saiu antes do primeiro jogo!!). Vamos de novo de 4-4-2:

NAVAS (Costa Rica): como o goleiro que o Van Gaal tirou da cartola pôs os Ticos fora da semifinal, Navas fica novamente à frente do gol da Seleção da Rodada. Foi ele o responsável pela Costa Rica ter mantido a invencibilidade no Mundial. Parou o ataque da Holanda.

KUYT (Holanda): dedicação total ao time. Embora tenha atuado com mais ênfase no apoio, é impressionante lembrar que o holandês é atacante de origem.

KOMPANY (Bélgica): comanda com incrível segurança a zaga belga. Ainda que tenha tomado uma caneta de Higuaín e não tenha conseguido mandar os "hermanos" para casa, mostrou grande categoria e dominância quase todo o tempo do jogo.

DAVID LUIZ (Brasil): simplesmente sensacional. Faz uma Copa incrível. Comandou a zaga junto a Thiago Silva e marcou um golaço. Se conseguirmos o Hexa, é sério candidato a ser o craque do Mundial.

MARCELO (Brasil): um pouco por falta de concorrência e um pouco pelos méritos inquestionáveis na opção que dá para a saída de jogo brasileira, o lateral do Real Madrid volta mais uma vez a figurar na seleção da rodada.

FERNANDINHO (Brasil): voltou a mostrar uma impressionante consistência na mescla entre proteção à zaga (anulou James Rodriguez quase o tempo todo) e apoio à armação.

MASCHERANO (Argentina): discretamente vai se consolidando como um dos melhores volantes da Copa. Assim como fez no jogo contra a Suíça, dominou novamente o meio-campo e soube participar eficientemente da distribuição de jogo.

POGBA (França): foi quem tentou levar Les Bleues à frente. Fez uma grande Copa e dominou o meio-campo francês.

SNEIJDER (Holanda): está crescendo na reta final. Aparece mais no apoio ao ataque e se firmou como a referência na distribuição de jogo da Holanda.

ROBBEN (Holanda): continua aterrorizante em suas desabaladas carreiras pelo lado do campo. Um verdadeiro azougue que perturba a defesa adversária do começo ao fim do jogo. Até agora, é o melhor da Copa, até porque James Rodriguez não conseguiu aparecer contra o Brasil.

MÜLLER (Alemanha): outro monstro. Movimenta-se por todo o campo, arma o jogo, puxa contra-ataques, ajuda a defesa e faz gol (embora tenha passado em branco neste mata-mata).

JOACHIM LÖW (Alemanha): embora Van Gaal tenha ganhado destaque na mídia pela ousadia de trocar o goleiro, fato é que a Holanda penou para conseguir passar pela Costa Rica. Já a Alemanha dominou completamente a França, jogou o que era preciso para chegar à quarta semifinal seguida. Méritos para um técnico que soube convocar e sabe variar a escalação e o esquema de acordo com a necessidade de cada partida.





sábado, 5 de julho de 2014

UMA AUSÊNCIA, OUTRA METÁFORA

A contusão de Neymar tomou proporção de verdadeiro drama nacional. Já vi inclusive gente protestando contra a preocupação do país com o destino de uma só pessoa. Um recado a estes: deixem de ser chatos. Tentar negar o poder de mobilização da Copa é ignorar a história e, mais do que isto, fechar os olhos à realidade com que já estamos convivendo há mais de vinte dias. E não é só aqui no Brasil. O Mundo para a cada quatro anos.

Posta esta premissa, a lesão de Neymar e a falta que ele fará ao nosso time é uma boa oportunidade para termos um aprendizado como Nação. Em certa medida, a presença dele em campo reforçava um vício brasileiro. Não só no futebol, mas na vida como um todo. É evidente que nosso time tem limitações; que o planejamento para esta Copa foi no mínimo criticável, na medida em que fomos resgatar um treinador já na sua curva descendente, depois de inventarmos um técnico que visivelmente não tinha currículo para comandar a Seleção. Entretanto, o fato de contarmos com Neymar em nossas linhas criava o sentimento de que as coisas poderiam ser resolvidas "magicamente". Jogar-se-ia a bola para ele e sua capacidade individual resolveria nossos problemas.

Fazendo jus à nossa herança cultural, reproduzimos em tudo, e também no futebol, o Sebastianismo que assombrou nossos patrícios por muito tempo. Explica-se: Dom Sebastião era um Rei de Portugal que desapareceu durante as Cruzadas e, durante muito tempo, nutriu-se a lenda de que ele retornaria para liderar os portugueses. Ou seja, Dom Sebastião voltaria para, magicamente, resolver os problemas da Nação.

Durante muito tempo, confiamos os destinos da Nação aos "Defensores Perpétuos", a projetos de "Generalíssimos", a "Pais dos Pobres" ou aos "Nossos Guias". Estamos sempre à procura do pai que nos conduzirá a "Terra Prometida". No futebol, a extrema fortuna de termos contado com Pelé nos fez todos viúvas do gênio que venceria as partidas sozinho; que, também magicamente, instilaria a arte vista em 1958, 1962 e 1970 em elencos muito distintos daqueles que cercavam o "nosso" Rei.

Atravessamos um longo deserto de 24 anos até aprendermos que somente com o trabalho duro e um time organizado voltaríamos a vencer. E ainda assim creditamos a conquista de 1994 majoritariamente a Romário. A conquista de 2002, tendo contado com três jogadores singulares (Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo - e este nem acho que seja o gênio que muita gente diz que é), reforçou nossa crença em soluções fantásticas.

Pois bem, Neymar era prova de que Deus seria brasileiro, tendo nos agraciado com mais um fora-de-série. E bola nele que ele resolve.

Mas agora estamos sem Neymar. E vamos encarar a Alemanha. E temos também que encarar a realidade: ao contrário do que se repetiu a vida inteira, não somos mais o país do futebol. São os alemães os verdadeiros "donos da bola". Em Copas, podem não ter ido a todas, mas são eles que têm mais jogos realizados e que estiveram mais presentes entre os quatro primeiros (13, em 18 Copas). São eles também que têm o campeonato que põe mais gente no estádio, em todo o Mundo; e são eles que têm o maior número de jogadores federados.

Mais do que isto, são eles que estão jogando bem. Agora são Götze e Müller que dominam a bola com categoria; são Schweinsteiger e Özil que distribuem o jogo com inteligência e precisão.

Em suma, eles são melhores. São mais organizados. E são simpáticos, souberam chegar no nosso país e integrar-se às nossas tradições e idiossincrasias. Não dá nem para odiá-los, como fazemos com os argentinos, cuja torcida com frequência se comporta da pior forma possível.

E agora? Agora vamos ter que superá-los com o que temos. Cada jogador terá que dar 110%, pois não contamos mais com o craque que tudo resolveria. Se perdermos, não haverá vilão a ser execrado; não haverá um heroi sobre o qual depositarmos a culpa por não ter decidido sozinho. Se perdermos, perderemos todos. Juntos.

E juntos também venceremos, se vencermos. Esta é a oportunidade de abraçarmos a metáfora criada para nós. Temos um mundo de desvantagens para os alemães, tanto dentro, quanto fora do campo. Mas uma vitória na próxima terça seria um poderoso símbolo coletivo de superação, de união e empenho. Sem mágica.

Será a vitória da solidariedade, em que um corre pelo outro, como foi dito momentos antes da Seleção entrar em campo ontem. E em que todos correm por aquele que não pode mais correr. Da mesma forma que deveria ocorrer aqui fora.

E por que deveriam fazê-lo? Porque é uma Copa, e nestes momentos nossa identidade nacional exige que sejamos bons como raramente somos em outras horas. E mais do que uma Copa, é o Mundial que estamos tendo em casa; o torneio organizado para que tivéssemos a oportunidade de resgatar um dos maiores traumas coletivos da nacionalidade. Temos a oportunidade de fazer a festa que mais gostamos de celebrar, todos juntos. Jogadores e torcedores. Time e povo.

Mas, como estamos em casa, a vantagem e a razão da ânsia quase insuportável de glória só se justificam se, além dos jogadores, cada um de nós faça a sua parte. Argentinos estão tirando onda nas arquibancadas. Os alemães fazem mais barulho que nós em qualquer jogo. A torcida não poderá ficar somente assistindo a partida, vai ter que jogar junto. O dever cívico de terça-feira é sair rouco do Mineirão.

Estamos sem o Capitão; sem o craque e o avô de um de nossos melhores jogadores acabou de falecer. O adversário é o melhor time da Copa. Mas a noite mais escura precede o nascer do sol.

Chega de metáforas. Vamos 'pra cima deles Brasil!!

RESENHÃO DO BARBALHO/BRASIL 2 x 1 COLÔMBIA: Entre a Alegria e a Dor.

Como todos já sabem, o jogo de hoje, que poderia marcar uma atuação pouco melhor da Seleção, acabou sob uma nota triste, a lesão do nosso Menino de Ouro, que não mais jogará nesta Copa. Mas este é um assunto para outro post. Agora, o que importa é a cornetagem:

JÚLIO CÉSAR: não podia fazer outra coisa no pênalti e saiu bem do gol, todas as vezes que foi acionado. - 6,5

MAICON: embora não tenha feito um grande jogo, tem a vantagem de não comprometer, como é hábito do antigo titular. - 6,0

THIAGO SILVA: premiado com o gol, foi um gigante na zaga e muito mal advertido pelo árbitro. - 9,5

DAVID LUIZ: ainda melhor do que seu parceiro de defesa. Fez um golaço e arrasta a torcida a cada jogada. - 10,0

MARCELO: continua sendo uma boa alternativa para a saída de bola, além de estar cumprindo bem suas funções defensivas. - 7,5

FERNANDINHO: um ótimo primeiro tempo. Sacrificou-se para não deixar James Rodriguez jogar. - 7,0

PAULINHO: começou bem, mas perdeu fôlego no segundo tempo. - 6,0

HERNANES: não teve tempo de mostrar a cadência que venho pedindo (e que espero que ele tenha) - SEM NOTA

HULK: muito atuante no primeiro tempo, começou a errar tudo no segundo - 6,5

RAMIRES: o empenho de sempre, mas que não parece acrescentar muita coisa ao meio-campo - 5,5

OSCAR: continua sendo um excelente ladrão de bola, dedica-se a todas as jogadas. Hoje centralizou-se quando o time estava com a bola, mostrando uma ligeira melhora em relação às partidas anteriores. Com a contusão de Neymar, pode ser ele o "novo Amarildo". - 7,0

NEYMAR: não é por conta da comoção provocada pela sua lesão que eu vou dourar a pílula. Errou tudo o que tentou. - 3,0

HENRIQUE: contribuiu com um importante bloqueio a um chute colombiano. - 6,5

FRED: está mais participativo, todavia, precisa ameaçar mais a meta adversária. Ainda erra muito na função de pivô. - 5,0

LUIS FELIPE SCOLARI: acertou ao barrar o Daniel Alves, mas precisa ousar mais. A substituição de Hulk por Ramires é muito "quadradinha" - 6,0

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MENOS, DAVID, MENOS...

Lutando contra a síndrome de abstinência desencadeada por dois dias sem jogos, deparei-me com um post que anda circulando pelo Facebook, chegado a mim por dois caminhos diferentes, compartilhados pelos amigos Marcus Vinicius Cruz e Rodrigo Mascarenhas. Trata-se de texto publicado por Dàvid Ranc no site do FREE - Football Research for a Enlarged Europe (como não sei inserir link, aí vai a referência do blog: ), sob o título: A Copa do Mundo de 2014 no Brasil: Melhor Organizada do que os Jogos Olímpicos de Londres 2012?

Pelo que percebi, tal seria a constatação de que todas as críticas à organização e preparação da Copa 2014 foram infundadas e decorrentes de preconceito contra países emergentes. Ainda que efetivamente haja, na Europa e nos EUA, uma carga enorme de estereótipos sobre países como o Brasil, desqualificando antecipadamente nossa capacidade de realização, devemos reconhecer que o processo de preparação da Copa no nosso país mais confirmou do que diminuiu tal percepção...

Não bastasse tanto, achei a análise de uma superficialidade quase infantil, trazendo exemplos que pouco endossam a tese sustentada pelo autor. Vejamos. Vou invocar cada trecho do texto original (em tradução livre) e fazer meus comentários a cada um deles:

"Os estádios não estariam prontos a tempo...Se eu não estiver errado... todos os estádios estão prontos e sendo usados para a Copa": só faltava algum estádio não estar pronto... O fato dos doze (ao contrário dos oito mais racionalmente propostos pela FIFA) estádios estarem prontos é o mínimo que se pode esperar de quem quer sediar uma competição esportiva. Mas o pior é que nem todos os estádios estão prontos, e muito menos a tempo. Todos os estádios estão aptos a receberem partidas, mas não necessariamente prontos. A Arena Corinthians, monumento à irresponsabilidade pública, é o maior exemplo. Há inúmeros pontos da construção por concluir, como fartamente noticiado não pela imprensa europeia, mas pela mídia brasileira, inclusive aquela mais crítica e pretensamente isenta. O Linha de Passe de uma ou duas semanas antes da Copa sentava a marreta no estádio. Não bastasse tanto, quase nenhum dos estádios foi concluído a tempo, muitos deles foram entregues muito após a data-limite de 31/12/2013. Em outras palavras, descumprimos o compromisso assumido quanto à entrega a tempo para realização de testes. Isto para não falar no entorno das arenas...

Depois desta afirmação introdutória, Dàvid Ranc passa a fazer comparações com os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012:

"Muitas sedes estavam quase vazias em muitos dos primeiros eventos olímpicos.": aqui, o Autor compara bananas com laranjas. As competições a que ele se refere são eventos de esportes que ganham destaque somente no programa olímpico, tais como hóquei sobre a grama, tiro esportivo e outros menos cotados. Nada contra, até mesmo considerando a histeria deste escriba, que em 2012 parou para ver até mesmo as competições de tiro com arco, e outro dia mesmo ficou vendo emocionantes disputas de curling. Entretanto, não há como se comparar o apelo de um jogo de Copa do Mundo (ainda que seja Coreia do Sul x Argélia, que por sinal foi excelente!) com eventos de menor expressão numa competição multi-esportiva como os Jogos Olímpicos. Além disso, londrinos estão no circuito habitual de grandes eventos atléticos, ao contrário de brasileiros, que tentaram aproveitar uma oportunidade que não terão nesta mesma geração. Portanto, a demanda por ingressos nada tem a ver com os méritos organizacionais dos brasileiros.

"O Exército teve que ser mobilizado para suprir as falhas da G4S, a empresa privada que o comitê organizador contratou para a segurança dos jogos. Com efeito, G4S não contratou guardas suficientes para os Jogos Olímpicos.": aqui, o autor simplesmente resolveu ignorar os graves episódios de invasão do perímetro do Maracanã, um deles com depredação de parte do setor de imprensa do estádio, em que dezenas de chilenos passaram como uma manada até serem contidos pelos Stewards. Houve inclusive necessidade de mobilização de forças policiais nos jogos seguintes, a fim de prevenir novos episódios.

"O Brasil tem sido acusado de exagerar no controle de manifestações... Todavia, as autoridades britânicas exageraram ainda mias do que o governo brasileiro quando no que tange à segurança. Vejam só: o Exército foi autorizado a instalar mísseis anti-aéreos em propriedades privadas próximas a sedes de eventos olímpicos.": com certeza o Autor (e isto é desculpável) não lê o noticiário da Grande Tijuca. Até mesmo os temíveis mísseis anti-aéreos foram igualmente cogitados. As instalações seriam feitas nas redondezas do Andaraí, bairro que, pela auto-rejeição dos moradores, se torna menor a cada dia. Além disso, o Reino Unido foi alvo de ataques terroristas. Desde quando a preocupação com segurança é um defeito? Chegar a qualquer estádio na Copa 2014 (e eu fui a três diferentes) foi um festival de identificação de diferentes tropas: Guardas Municipais, contingente ordinário de policiais, tropas de choque, Exército, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, Fuzileiros Navais...). Aqui, não há um defeito propriamente dito, mas tão somente uma demonstração da miopia que contamina a análise do autor em questão.

"O invasor no desfile da cerimônia de abertura que chocou muita gente na Índia...": no Brasil, até onde vi, não ocorreu uma, mas três invasões de campo. Na última, durante Bélgica e EUA, o engraçadinho ficou quase dois minutos passeando pelo campo até que a segurança conseguisse retirá-lo. Isto para não falar no protesto feito por dois participantes da festa de encerramento da Copa das Confederações no ano passado...

"O Comitê Organizador mostrando uma bandeira sul-coreana no lugar daquela da Coreia do Norte...": neste caso, sempre podemos lembrar do jogo França x Honduras, em que as equipes se perfilaram, cumprindo o protocolo de abertura da partida e... não conseguiram ouvir seus hinos nacionais... E logo com a Marselhesa, um dos hinos mais bonitos e conhecidos do mundo!

Em outras palavras, não estou querendo dizer que a organização da Copa é um fiasco. Como já era esperado, na hora em que a bola rolasse, tudo iria acabar funcionando, ainda que tenhamos que ter decretado dezenas de feriados municipais nos dias de jogo, a fim de garantir um mínimo de operacionalidade às cidades-sede, ao contrário do paraíso da mobilidade urbana pernosticamente prometido pelo Governo.

Ou seja, o diagnóstico amargo que fiz antes da Copa, de que a perdemos fora do campo, continua valendo. Não estamos tomando uma goleada, até porque nosso povo supriu a inépcia governamental de que somos eternamente reféns. Invocar estudos mal-feitos, facilmente rebatíveis num post feito em menos de meia hora, não vai nos ajudar a melhorar para um desafio ainda maior, que está a 764 dias de distância.




quarta-feira, 2 de julho de 2014

SELEÇÃO DAS OITAVAS

Depois de oito partidas muito acima da média desta mesma fase em outras Copas, eis a Seleção das Oitavas de Final, que vai num 4-4-2

JÚLIO CÉSAR (Brasil): a disputa aqui foi acirrada, pois os arqueiros brilharam intensamente em todos os jogos. Defesas em profusão tornaram difícil a escolha que pareceria normal depois da jornada épica (e melodramática) do Mineirão. Quantos concorrentes! Mas eis os critérios de desempate: Ochoa, Benaglio, M'Bohli e Howard fizeram até mais intervenções do que o brasileiro, mas acabaram não conseguindo salvar suas equipes. Navas, da Costa Rica, esteve à frente da meta de time classificado, mas só defendeu um pênalti. Portanto, Júlio César ganha no photochart. Nem tanto pelos pênaltis, mas pela defesa monumental no tempo normal de jogo.

LAYÚN (México): segunda aparição do mexicano numa Seleção deste blog. Apoiou com consistência e o fato dos gols holandeses terem saído ambos de jogadas da esquerda mostram sua eficiência na defesa.

HALLICHE (Argélia): o capitão do time magrebino jogou ao limite da exaustão. Liderou uma defesa que resistiu quase 100 minutos à artilharia alemã.

DAVID LUIZ (Brasil): outro que aparece pela segunda vez. Um leão na zaga, provocou o erro que gerou o gol contra (erroneamente creditado a ele mesmo) do Chile, liderou o time em campo e foi o único a bater o pênalti com segurança.

RODRIGUEZ (Suíça): embora o gol argentino tenha saído de seu lado, a jogada começou na falha do lateral direito. Conteve o ataque argentino durante 117 minutos e ainda tinha força para tentar puxar o contra-ataque.

BRADLEY (EUA): lembra muito o Dunga. Alta eficiência na proteção à zaga e passa cometeram qualidade, além de ser o líder do time.

POGBA (França): dominou o meio-campo contra a Nigéria. Foi um dos poucos da França (ao lado de Valbuena)que mantiveram um alto nível de desempenho desde o início da partida. Premiado com o gol que abriu as portas da classificação.

DI MARÍA (Argentina): um azougue pela direita, o armador que falta ao meio-campo do Brasil. Deu onze chutes contra a Suíça e acertou o gol dez vezes. Acabou como o herói da classificação.

RODRIGUEZ (Colômbia): uma atuação de gala daquele que certamente será a revelação da Copa. Está na frente na disputa pela artilharia e concorre seriamente ao prêmio de melhor da competição. Que ele tenha gasto seu repertório contra o Uruguai...

DE BRUYNE (Bélgica): atazanou a defesa dos EUA. Veloz e preciso nos passes, abriu o caminho da vitória na prorrogação e ainda deu o passe para o segundo gol.

ROBBEN (Holanda): colaborou decisivamente para destruir o México em menos de cinco minutos. Outro concorrente sério ao prêmio de melhor do Mundial.

Treinador/MARC WILMOTS (Belgica): soube encurralar os EUA e dar o golpe de misericórdia ao por um atacante fisicamente inteiro para matar a defesa americana.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O RESGATE DA TERRA SANTA

Escrevo sob os efeitos da sensacional partida entre Bélgica e Estados Unidos. Encerradas as Oitavas de Final, podemos dizer que esta Copa é, dentro do campo, uma das melhores. Afirmo isto não só na esteira do entusiasmo das transmissões televisivas, mas porque após uma Primeira Fase cheia de gols, emoções e surpresas, a expectativa é de que os jogos fossem mais modorrentos, presos ao habitual medo da eliminação inerente aos jogos mata-mata.

Não foi isto que aconteceu. Embora a média de gols tenha diminuído, todas as partidas tiveram um grau de disputa elevadíssimo e emoção até o último momento. Até mesmo nos embates que terminaram 0x0, como Alemanha x Argélia ontem, houve efetiva busca do gol e atuações que, ainda que não tenham sido tecnicamente primorosas (e muitas o foram), demonstraram um nível de empenho comovente.

Talvez isto tenha a ver com o que ouvi aqui e ali, por vezes com o tom habitualmente protocolar de quem quer agradar sua plateia: os jogadores estariam realmente empolgados pela oportunidade de jogar uma Copa no Brasil. Ainda que haja algum jogo de cena para agradar o público caseiro, posso testemunhar que efetivamente exercemos (pelo menos ainda) este poder sobre os estrangeiros. Morei na Itália por um ano e meio e o encanto dos europeus pela "magia" do futebol brasileiro é genuíno. Como não conseguimos queimar todo o capital acumulado pelas incríveis seleções de 1958, 1962 e 1970, e também acrescentamos alguma mística adicional com os títulos de 1994 e 2002 (especialmente este último, com os estelares Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Roberto Carlos), há um resíduo de veneração pelo esporte que se desenvolveu nesta periferia global.

Na esteira desta premissa, o que vejo é que, para além da espetacularização do futebol, decorrente da crescente atenção planetária sobre os diversos torneios, especialmente europeus (a UEFA Champions League sobre todos os demais), há um certo constrangimento em retornar-se ao jogo feio e retrancado que vinha dominando o cenário mundial nas últimas Copas.

Em outras palavras, a "nossa" Copa está boa por uma razão virtuosa e outra nem tanto. Pois além do respeito quase religioso que inspira uma postura mais ofensiva das Seleções que estiveram e ainda estão presentes neste Mundial, a chamada mercantilização do esporte também tem um dedo neste fenômeno. Com efeito, como o futebol virou um negócio que só funciona se houver televisão interessada nele, os jogos naturalmente precisam ser melhor disputados, atrair mais espectadores, os quais, obviamente, não querem elucubrações táticas e prazeres defensivos, mas jogadas espetaculares e gols em profusão.

Então, a busca por audiência e visibilidade (e o consequente dinheiro delas decorrentes) que vêm paulatinamente empurrando os times para frente no campo, acaba se refletindo nas diversas Seleções, que copiam os clubes de sucesso e recrutam jogadores que já se habituaram a jogar mais ofensivamente. Esta razão mundana é potencializada pelo fascínio que a imagem do jogo bonito brasileiro ainda exerce nas demais nações futebolísticas.

E, por conta desta verdadeira "conjunção astral", o que vemos é times altamente dedicados a conquistar uma página que seja num dos capítulos mais interessantes do Livro das Copas. Mesmo aqueles que, sabendo seus limites, fecham-se na defesa e procuram resistir ao avanço das potências de sempre, ainda assim não renunciam à vitória, armando esquemas em que o contra-ataque é feito com a dedicação e a arte necessárias.

Chegou a ser comovente ver o empenho com que times como a Argélia, os EUA, a Suíça e até mesmo o Chile enfrentaram equipes tecnicamente superiores. Já há muito tempo é impressionante (e, para nós brasileiros, assustador) constatar que alemães, ingleses, belgas, mexicanos e outros menos cotados sabem tratar a bola como costumávamos fazer num passado que vai ficando cada vez mais distante.

Em post anterior sobre esta Copa, fiz um paralelo entre futebol e fé. Pois bem, na Copa jogada no país em que nasceu e por quem jogou o maior de todos; no Mundial disputado na terra que serviu de solo para gerações de craques iluminados, vimos Seleções aqui chegarem com a reverência de quem entra em solo sagrado. Este respeito à bola e esta alegria em jogar futebol vêm alegrando nossos corações e já despertam o temor dos torcedores: depois deste júbilo esportivo, como iremos conseguir sobreviver às heresias que se desenrolarão em mais de trinta rodadas de Brasileirão?

Minha esperança é que a visita das 31 caravanas de peregrinos renove nossa fé numa parte importante daquilo que nos faz brasileiros: a alegria de jogar bola, de vê-la rolar em verdes campos. Os atletas e técnicos que estiveram - e ainda estão - por aqui podem ser como os cruzados em busca do resgate da Terra Santa. Que o exemplo deles nos resgate a todos infiéis. Que possamos treinar, jogar, comentar e, principalmente, cobrar um futebol que volte a elevar nossos espíritos.