segunda-feira, 5 de maio de 2014

NEM UM POUCO FANTÁSTICO

Numa semana pontuada por tocantes depoimentos de toda uma geração que foi inspirada pela carreira de Ayrton Senna e várias demonstrações de saudade de um esportista que resgatava a estima do brasileiro, num período em que estávamos carentes de ídolos e de vitórias, criei, a partir da chamada do Fantástico, uma expectativa para a matéria que anunciava a memória do programa que cobriu, há 20 anos, a morte do tricampeão.

Pois bem, qual não foi minha decepção, quando vi que a abertura do segmento no programa foi feita... entre sorrisos!!! A proposta inicial não era falar da sua carreira vitoriosa de Senna, mas do acidente que lhe tirou a vida... E Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos sorriam ao iniciar a chamada de um programa que cobriu uma das maiores tragédias emocionais do país.

Para além da absoluta inadequação do comportamento dos apresentadores, o conteúdo da matéria foi decepcionante. Só buscou-se o depoimento de Fátima Bernardes, quando havia todo um elenco de grandes jornalistas que poderiam recriar o clima do programa original, se era esta realmente a proposta. Mas buscou-se uma entrevista insossa com três garotos tirados não se sabe de onde, entremeados por imagens e depoimentos soltos, sem qualquer resgate do ambiente de consternação e incredulidade que se abatia naquele triste domingo.

Culminando o descuido imperdoável da produção e da direção do programa, encerrou-se o que deveria ser uma homenagem a um campeão com a imagem da derrota definitiva, o acidente, o socorro inútil e a remoção de Senna da curva Tamburello. Nada pior.

Se a ideia era relembrar o que um ícone esportivo como Ayrton foi para toda uma Nação, não poderia haver escolha mais lamentável de abordagem. Se a intenção era recuperar os bastidores de um programa difícil como foi aquele de 01/05/1994, a sua concepção foi ruim e preguiçosa.

Desperdiçou-se a oportunidade de se reavivar, para uma nova geração, o mito esportivo que Senna representou; a sua profunda identificação com um ideal de nacionalidade vencedora, uma ética do trabalho que tanto nos faz falta hoje e mais uma vez.

Ao contrário do belíssimo tributo que o Sportv prestou ao longo de sua programação da ultima quinta-feira, o Fantástico de hoje passou o limite da falta de capricho. A desfiguração do Tema da Vitória, ao fundo das imagens do corpo inerte de Senna sendo removido, foi um tapa na cara de uma geração que se emociona com seus acordes e vive a saudade da perda do homem que carregava nossa bandeirinha nas manhãs e madrugadas de domingo.

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