quinta-feira, 1 de maio de 2014

NÃO GOSTAMOS MAIS DA BOLA?

Iniciada a Libertadores deste ano com seis representantes brasileiros, as Quartas-de-Final terão, na melhor das hipóteses, apenas dois times tupiniquins. Com a queda do Grêmio nesta noite, vimos o quarto brasileiro se despedir da competição continental.

Enquanto cumpria um prazo judicial, observava de rabo de olho a transmissão da partida em que o Tricolor Gaúcho foi eliminado nos pênaltis pelo San Lorenzo. O que me impressionou foi o nervosismo que assolava o moral e as ações do Grêmio. Impressionado porque era visível tal estado emocional, e porque, como rubronegro recém-eliminado em casa, eu sabia exatamente como é a sensação: você olha o time da arquibancada e percebe que ele não sabe o que fazer com a bola. Tanto a torcida quanto o time contam com o desespero. A ânsia de ganhar é, por vezes, tudo o que resta a um time brasileiro para tentar caminhar adiante na Libertadores.

O mal-estar aumenta quando se percebe que os adversários conseguem controlar a posse de bola; que seus cortes acabam sempre achando um companheiro bem colocado; que a bola nunca é entregue de graça para o nosso time. Perceber isto contra uma equipe argentina nem é tão grave, pois eles sempre souberam tocar melhor a bola do que nós.

Entretanto, como disse, fui testemunha presencial da agonia do Flamengo contra o Leon. Mexicanos estão sabendo tocar a bola melhor do que nós!!! Nossos jogadores, quando em situação de pressão pelo resultado, veem a bola queimar-lhes os pés. Ninguém quer conduzir o jogo, construir uma jogada, pensar uma solução enquanto controla a pelota. A questão é empurrá-la para o mais próximo da área, para ver o que acontece.

Lembro-me que, quando criança, a pobreza do futebol inglês era descrita pela compulsão britânica pelos chuveirinhos sobre área, na tentativa de encontrar o grandalhão que iria cabeceá-la para dentro do gol. Pois bem, o índice de cruzamentos que partem da intermediária nunca foi tão grande. Até Daniel Alves, que no Barcelona não ousa livrar-se da bola antes de trocar passe com seus companheiros, é, quando veste verde-amarelo, grande entusiasta do cruzamento dez passos após a linha do meio-campo...

Parece que definitivamente deixamos de gostar de ficar com a bola. Não sabemos mais o que fazer com ela. Perdemos intimidade com a esférica, quase a estamos chamando de Vossa Excelência. Temos que voltar a conviver com a bola, amar seu toque, ansiar por ficar com ela e por tê-la para brincar com nossos amigos. Sem isto, o futebol brasileiro será uma imagem desbotada num baú que guarda as memórias cada vez mais longínquas de uma paixão que, pela falta de intimidade, esfriou na rotina de jogos sem graça.

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