sexta-feira, 26 de junho de 2009

ADEUS AO BRASIL BRASILEIRO?

Seguindo com o assunto do post anterior, a segunda reflexão proposta pelo artigo do El País é no sentido de que o Brasil a cada ano joga de forma "menos brasileira", estabelecendo o ano de 1994 como marco inicial de tal transformação.

Concordo com a percepção do articulista espanhol, o que, no entanto, não acho necessariamente ruim. A incorporação de um certo sentido tático e de uma aplicação na defesa não empobrecem, ao contrário, tornam nosso futebol mais eficiente.

Discordo, no entanto, com relação à Copa em que assumimos nossa "face europeia" (com reforma ortográfica). Para mim, podemos retroagir a 1986, quando o meio-campo da Seleção no Mundial do México era composto por Alemão, Elzo, Júnior e Sócrates, ou seja, três volantes e somente um armador.

O leitor dirá: o Júnior, volante? Sim... Muito embora fosse craque, Júnior, há 23 anos atrás não poderia ser considerado um armador. Era um lateral que avançou pela meia cancha, mas não deixava de ser um volante. De porte similar ao Falcão, mas volante.

O leitor ainda insistirá: dizer que uma Seleção treinada pelo Telê incorporava elementos europeus em seu esquema é a suprema heresia!!! Prova que o blogueiro em questão não sabe nada de futebol.

Telê podia ser romântico, mas não era burro e não fechava os olhos para as necessárias evoluções no futebol. Aliás, ousaria ir mais além e poderia até mesmo dizer que o recuo de nossas características mais tradicionais já começou em 1982.

De fato, quem tiver um pouco mais de idade vai lembrar do Zé da Galera, personagem do Jô Soares que, de um orelhão, "perturbava" o técnico com o bordão: "Bota ponta, Telê!!" A crítica vinha da insistência do mineiro em jogar no 4-4-2, com apenas um "ponta", o Éder, reservando a outra vaga que seria do ataque para um quarto homem de meio-campo, no caso, Cerezo ou Paulo Isidoro.

Voltando ao ponto: isto é ruim? Não necessariamente. Se não se descaracterizar o time verde-amarelo como aconteceu em 1990, em que a Seleção jogou um futebol indigente, o diálogo do Brasil com a Europa só nos torna mais fortes. Um exemplo importante é justamente nosso último título mundial, em que, jogando com três zagueiros, a Seleção de 2002 reproduziu uma campanha 100% (7 jogos, 7 vitórias) só realizada antes por um outro time em Copas do Mundo, um verdadeiro paradigma do futebol de qualidade: o Brasil de 1970.

Em outro "aliás", cumpre lembrar que aquele time só tinha um atacante de ofício, o Jairzinho. Todos os outros eram os então chamados "pontas-de-lança". Será que os puristas de hoje não achariam o Zagalo (com um "l", por favor) um herege?

No final das contas, apesar do brasileiro ter uma relação diferente, singular mesmo com sua Seleção de futebol, o que importa, em primeiro lugar, é ganhar. Tirando a turma que à época trabalhava na Band, o país inteiro entrou em êxtase na Copa de 1994, com 0x0, pênaltis e tudo mais. Há a demanda pela magia? Sim, mas isto já é tema para um terceiro post, e só mais para frente...

Nenhum comentário: