sábado, 19 de julho de 2008

POR UMA MONARQUIA TEOCRÁTICA

Ontem acabou o sonho do basquete masculino voltar aos Jogos Olímpicos. Encurralado por uma equipe muito mais experiente e com mais recursos técnicos, a Seleção Brasileira, juntada aos trancos e barrancos em meio a defecções vergonhosas e outras em tese justificáveis, mostrou uma garra comovente, mas acabou sepultada pelas bolas de três que outrora foram nosso passaporte para a glória.

Ainda que triste, quem acompanha o noticiário esportivo sabia que esta era uma tragédia anunciada. Mesmo depois de duas Olímpiadas em branco na categoria masculina, entremeadas por dois Mundiais com resultados pífios, a Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) seguiu na sua verdadeira cegueira técnica e administrativa, sem ter conseguido organizar um campeonato nacional digno do nome ou mesmo montar uma Seleção com um mínimo de preparação.

Não perdemos a vaga ontem. Perdemos há meses atrás, quando fomos derrotados pela equipe reserva da Argentina no Pré-Olímpico das Américas, em meio a episódios lamentáveis de insubordinação.

Perdemos durante o longuíssimo tempo transcorrido depois do mesmo Pré-Olímpico, sem a definição de um técnico para preparar a Seleção para um torneio que já se mostrava de enfrentamento complicado.

Perdemos pela inépcia dos dirigentes da CBB, que não negociaram com antecedência a participação ou não dos atletas que jogam na NBA e nas ligas européias. É evidente que a CBB não poderia obrigá-los a ir ao Pré-Olímpico, mas se tivesse se mobilizado logo após o torneio continental, o abnegado Moncho Monsalve saberia com quem contar ou não para montar um esquema de jogo.

Como exaustivamente repetido por toda crônica após o jogo de ontem, os atletas que estiveram em quadra não merecem menos do que aplausos, pois honraram o hino e foram "filhos que não fogem à luta". Também digno de homenagens é o técnico Moncho Monsalve, que permaneceu firme na condução da Seleção, mesmo após ser fustigado pelas seguidas deserções que desfiguraram o time que lhe foi prometido quando a CBB o contratou.

Não conheço o Basquete a fundo, mas a impressão que se tem é que a modalidade vai se consumindo numa fogueira de vaidades. Técnicos, cartolas e atletas querem, na verdade, afirmar-se acima de tudo. Os projetos individuais estão sempre em primeiro lugar. Foi assim com os atletas que desertaram e ainda é assim com alguns técnicos que usam as transmissões como tribunas para fustigar a atuação do colega e pregar que somente eles têm a chave para o jogo correto.

Mas, acima de tudo, é assim com a classe dirigente de tal modalidade. A prova cabal é a queda vertiginosa de prestígio do Basquete Masculino no cenário mundial e, mais do que isto, a "surra" que o esporte vem tomando do voleibol, que há muito lhe tomou o segundo lugar na preferência do público nacional.

A politicagem e a incompetência que parecem estar ditando os rumos da CBB ficam claras até mesmo no sucesso isolado da Seleção feminina, que se classificou para os Jogos Olímpicos apesar de não termos um campeonato nacional decente nesta categoria também.

Ouvindo Oscar e Hortência falarem entre ontem e hoje, lembrei-me de suas heróicas tentativas de manter um time de basquete e de organizarem uma Liga Nacional. Olhando a história e o exemplo do Mão Santa (apesar do próprio não gostar do apelido, pois treinou muito para ter os tiros certeiros que tinha) e da nossa eterna Rainha do Basquete, vejo-me obrigado a despir-me das minhas convicções democráticas e afirmar, que no momento atual, a salvação para a modalidade é uma monarquia teocrática, que repouse na capacidade individual de dois ícones congregar em torno de si um esporte que já nos deu três títulos mundiais e cinco medalhas olímpicas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro Fernando.
Peço vênia para discordar. A idéia da monarquia teocrática, proposta por você, jamais daria certo. Imagine transformar o Oscar num tipo de Amenófis IV ou a Hortência numa sacerdotisa do templo. Haveria grande chance dos nossos maiores craques do basquete caírem na barrela. Seria muita crueldade com suas biografias.
Em grande parte do seu texto você aponta o que realmente falta, e é o que abunda no vôlei. Falta ao basquete gestão. Gestão séria e competente que começou com o Bebeto de Freitas, passou pelo Nuzman e continua com o atual presidente da CBV, Ary Graça. Isto sem falar no Bernardinho, no Zé Roberto e na turma da praia. É isso aí.