sexta-feira, 18 de julho de 2008

O ESPORTE COMO IDENTIDADE NACIONAL

A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos, os amantes do esporte em geral antecipam as generosas doses de emoção que uma competição desta magnitude pode proporcionar. Talvez a maior de todas as sensações a serem experimentadas será o novo encontro da sociedade brasileira com o seu país, a identificação, no esforço de cada atleta verde-amarelo, da noção recentemente tão aviltada, de que há um Brasil que dá certo, de uma nação que sabe, ao mesmo tempo, ser apaixonada e eficiente.
No momento em que o esporte mais uma vez nos resgatará de nosso rodriguiano complexo de vira-latas, que nossa classe dirigente insiste em nos impor, uma outra figura do mesmo Nelson Rodrigues me inspirou a criar este blog: a Pátria de Chuteiras. A perfeita figura criada por esse inigualável cronista desportivo descrevia a seleção brasileira de futebol como o refúgio de nosso nacionalismo, o espelho e a janela do país que admirávamos e que talvez pudéssemos efetivamente nos tornar.
O tempo passou e a cada quatro anos a sentença inapelável se confirma: a Copa do Mundo é o evento que mais mobiliza o país, que verdadeiramente irmana brasileiros na ocupação das ruas e na partilha de um objeto de amor coletivo, a seleção de futebol.
Entretanto, assim como na economia deixamos as monoculturas da cana, do ouro e do café, sem deixarmos de explorá-las cada vez melhor (veja o caso do álcool combustível, orgulho da tecnologia energética nacional), no esporte também deixamos de ser dependentes exclusivos de uma só atividade e, se cada Copa cria um frenesi quase religioso nos torcedores, conseguimos reproduzir o sincretismo dos templos, encruzilhadas e praias, levando nossa fé na "amarelinha" dos campos para as quadras, piscinas e pistas, para tentarmos afirmar nosso valor também em outros esportes.
Esta afirmação nacional se revela de forma inequívoca em outra constatação de ouvi uma vez de Armando Nogueira, outro ícone da crônica esportiva. Ressalvada a imprecisão da citação feita em cima de uma memória de programa de televisão perdido nos anos, diz ele que feliz é o país que celebra heróis forjados nos verdes campos de futebol, em vez dos sangrentos campos de batalha.
Pois é no mesmo Brasil que ri e desconfia de todas as figuras de sua história política que se produz um rol cintilante de desportistas elevados ao patamar de reis e rainhas, aos quais se devota um respeito e uma admiração genuína.
A partir de hoje, a pretensão deste blogueiro neófito e torcedor inveterado será de mostrar como o esporte é um dos mais fortes, senão o maior, elemento de identidade nacional brasileira e, na esteira desta constatação, de apontar caminhos pelos quais ele pode ser uma poderosa ferramenta de cidadania e de transformação social, não só redimindo histórias individuais, mas criando possibilidades de projetos que possam ser vividos comunitariamente, como foram os Jogos Pan-Americanos de 2007 e como serão a Copa de 2014 e, quem sabe, os Jogos Olímpicos de 2016. A partir de agora, a idéia é dividir idéias sobre as competições em si, as expectativas e as lições que possam inspirar o Brasil do futuro, no esporte e na vida.

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