segunda-feira, 13 de agosto de 2012

BALANÇO EM NOTAS

Como a "cobertura" realizada por este blog nos Jogos que acabaram de se encerrar foi, para dizer o mínimo, rarefeita, eis um apanhado de breves notas, já que este escriba gosta de ter uma opinião sobre tudo que se refere a esportes...

Dois Modelos em Choque
Gosta-se muito de fazer um paralelo entre o esporte e a vida, e, especialmente no Brasil, do potencial realizado pelos nossos atletas e o abismo com que flertam nossas classes dirigentes (ou seríamos nós mesmos?). Pois bem, uma alegoria perfeita é o desempenho pífio do futebol em comparação com o vôlei. Tratam-se de dois esportes separados por uma distância quilométrica no que diz respeito a receitas financeiras. O que explica, então, que tenhamos perdido, no masculino, para uma equipe que representa uma país que jamais conseguiu sequer chegar a uma semifinal em Copa do Mundo? Mais do que isto, o que justifica até hoje não termos uma liga minimamente organizada e estável para as mulheres boleiras do nosso país? Já o vôlei pôs suas duas equipes na terceira final olímpica seguida, obtendo um bicampeonato olímpico no feminino e dando um fecho digno a uma geração inigualável não só no vôlei, mas no cenário dos esportes olímpicos em geral. A explicação que cabe nesta nota - sem prejuízo de voltarmos ao assunto no futuro - é o contraste entre a politicagem e o "oba-oba" que cerca o futebol, e o exemplo de profissionalismo, planejamento e perseverança que acompanha o vôlei há pelo menos três décadas. O Brasil é referência no vôlei, e fornecedor de mão-de-obra no futebol. Eis, no campo das metáforas, os caminhos que se põem para nosso país, no esporte e na vida em geral.

De Volta ao Quadro de Medalhas
Encerradas as competições, volta-se novamente à discussão sobre o desempenho do país no quadro geral de medalhas. Neste ponto, descontada a histeria otimista deste blog, que insiste em cravar mais de 30 medalhas a cada edição dos Jogos, vê-se que a previsão mais realista deste escriba correspondeu ao resultado final: 17 medalhas. Neste caso, é a terceira edição com crescimento constante no total de pódios: 12 em Atenas, 15 em Pequim e 17 em Londres. Apesar do 22º lugar na classificação geral - por conta de nossa rarefeita presença no primeiro lugar, um drama que teremos que superar em algum momento -, saltamos para o 14º posto, empatados com a Hungria, quando se computam todas as medalhas juntas. Na classificação amplamente adotada, estamos atrás das potências de sempre (EUA, China, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha) e países notoriamente mais desenvolvidos que o Brasil sob o ponto de vista social(França, Itália, Austrália, Japão, Holanda, Nova Zelândia e Espanha). Aí são doze. Os outros nove são: Coreia do Sul, Hungria, Cazaquistão, Ucrânia, Cuba, Irã, Jamaica, República Tcheca e Coreia do Norte. Destes, cinco são herdeiros do esquema comunista de propaganda do regime pelo esporte (Hungria, Cazaquistão, Ucrânia, República Tcheca e Cuba, esta última caindo vertiginosamente na classificação, após o fechamento das torneiras soviéticas...) Dos outros quatro, dois tem uma concentração desproporcional num número reduzido de esportes (Jamaica no atletismo, em especial as provas de velocidade; e Irã na luta livre e no levantamento de peso). Por fim, as duas Coreias: a do Norte ainda é inexplicável, preciso olhar a divisão de suas medalhas para ver o que aconteceu (embora seu número total seja muito mais baixo que o brasileiro: 17x6 a nosso favor). Já a do Sul é o exemplo do que poderíamos nos transformar, caso levemos a sério a oportunidade de sediar os Jogos de 2016. Mas também é o sinal eloquente do poder educacional daquele país.

Olímpicos sem Atletas
Parece uma contradição, mas o título traduz o absurdo que é um país trazer 17 medalhas para casa e nenhuma delas ter sido conquistada pelo atletismo. Saiu no Globo: foram R$ 58 milhões só em patrocínio da Caixa Econômica Federal e nem um mísero pódio. Vários atletas tendo desempenho abaixo de suas melhores marcas. Há algo de muito errado na CBAt. Citando Casoy: uma verdadeira vergonha.

Mudar a Faixa
Aqui, o título é deliberadamente ambíguo: em 2016, temos que mudar de faixa, até por compromisso assumido pelo próprio Comitê Olímpico Brasileiro. Deixarmos o círculo dos 30 primeiros, para figurar entre, pelo menos, os 15 primeiros, região em que estão os países que ganham entre 15 e 20 medalhas (a Hungria, 9ª colocada, teve as mesmas 17 medalhas que nós, mas com 8 ouros; o Cazaquistão foi 12º com 13 medalhas e 7 ouros e Cuba ficou em 15º com menos pódios que nós, 14, mas com 5 campeões olímpicos nesta edição de 2012). Para os Jogos de Londres, teríamos que ter ganho outros dois ouros. Escolha-se em vasto cardápio: Guilheiro, Camilo, Rafaela Silva e Mayra Aguiar no judô; Cielo na natação; as duas duplas do vôlei de praia; o futebol masculino; um dos dois match points do vôlei masculino; uma punição a menos do Esquiva no boxe; menos vento na eliminatória do salto com vara...
A outra faixa que tem que mudar é do disco, já arranhado, de que nossos atletas já são vencedores de estar competindo nos Jogos Olímpicos, que não podem ser cobrados. Grande parte dos esportes brasileiros contam com recursos expressivos e já têm contato regular com o cenário internacional de competições. O volume de recursos públicos tende a se manter, com um aumento de recursos privados, além do percentual do valor que os próprios patrocinadores mundiais do COI têm que reservar para preparar a delegação do país-sede. Não podemos continuar com a vitimização infundada dos esportistas brasileiros. Há modalidades sem qualquer investimentos e há federações que podem estar administrando mal os recursos recebidos. Mas dinheiro há. Acabaram as desculpas. O que sempre admirei nos atletas brasileiros foi sua capacidade de superar as adversidades e produzir vitórias e momentos singulares para a população brasileira. A acomodação neste momento só nivelará nosso esporte por baixo, equiparando-o aos "come-e-dorme" das "artes alternativas e libertárias" que vivem de mamar recursos públicos.

Um comentário:

Felipe Barbalho disse...

Ótima análise!