sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ingresso no Maracanã: Inaceitável Via Crucis

Como prometido, vou continuar destilando minha raiva. Até porque um verdadeiro calvário espera a mim e a qualquer torcedor que pretenda ver o jogaço que se prenuncia para a próxima quarta-feira.

É simplesmente inconcebível o que se faz com o torcedor no Maracanã. Como disse, fui ao estádio tentar comprar o ingresso no último dia 21/04, para assistir a partida entre o Flamengo e o poderosíssimo esquadrão do Caracas.

Pois bem, minha via crucis começou às 11:30h. Peguei o carro e tentei adquirir os ingressos antes de levar os Barbalhinhos ao Zoológico. Passei em frente à estátua do "Bellini" (na verdade a figura ali representada não é propriamente o capitão da Seleção de 1958, mas a versão acabou pegando) e já fui tomado pela vergonha patriótica.

Um grupo de turistas tirava fotos em frente ao referido monumento, que estava tomado por pichações. O futebol, ao lado da música popular, talvez seja a maior expressão da cultura nacional, e um ponto de referência tradicional do principal estádio do país estava em estado lastimável.

Mais grave do que isto, não se vê qualquer comércio regular em volta do Maracanã. O estádio é o segundo ponto turístico mais visitado do Rio de Janeiro, e não há qualquer plano de aproveitamento de tal potencial. Mas isto já será outro post.

Voltando à minha via crucis, já estava impressionado porque não há sequer uma informação visível a respeito do local para adquirir ingressos. Passei em frente à bilheteria ao lado do Bellini, e nada.

Contornei um quarto do enorme complexo e, com medo de não encontrar vaga disponível, pare o carro um pouco antes do famoso Portão 18 (cuja reputação foi eternizada por uma lenda do folclore político do Estado do Rio de Janeiro, ao se afirmar que o primeiro pedido de cargo a um determinado Governador recém-eleito foi a indicação do porteiro responsável por tal setor, que dá acesso às Tribunas e às cadeiras especiais do Maracanã - daí se vê a cultura lastimável que cerca o estádio).

Vi um pessoal em frente a uma bilheteria e pensei que resolveria a "parada" rapidamente. Ledo engano. Tratava-se de vendas para o jogo do Harlem Globetrotters, que se apresentarão no Maracanãzinho.

Desci toda a rua em busca de outra bilheteria, contornei o Estádio de Atletismo Célio de Barros (um monumento ao desperdício de espaço e da falta de planejamento conjunto, na medida em que o Engenhão tem excelente pista quase que absolutamente ociosa - mas isto já é um terceiro post) e continuei andando mais uns 10 minutos, até encontrar uma bilheteria com uma fila já considerável.

Como tinha horário com a molecada, acabei nem entrando na fila. Voltei somente após a visita ao Zoológico, conforme já disse no meu penúltimo post. A fila estava maior ainda. Uma patrulhinha da PM estava em frente à bilheteria, mas a presença era inútil, pois 30 metros à frente, cinco cambistas impregnavam os ouvidos dos otários que, como eu, entravam na fila para tentar comprar seus ingressos de modo lícito.

Cheguei às 16:20h. Saí às 18:00h. Mais de uma hora e meia para testemunhar cinco guichês vendendo ingressos para centenas de torcedores. O torcedor não tem qualquer informação quanto à fila em que está entrando (somente após uma hora de espera aparece alguém separando quem compraria ingresso de arquibancada de quem pretendia adquirir uma cadeira para assistir ao jogo).

O torcedor não vê quem lhe vende o ingresso, fala a um retângulo de 15cm por 5cm. A burocracia para comprar uma meia entrada é infinita: você tem que apresentar a carteira de estudante, a via original do carnê de pagamento ou da declaração de que está matriculado em curso regular. Falta somente o certificado de reservista ou o atestado de bons antecedentes... Cada um que tenta usufruir o benefício leva mais de 5 minutos para comprar um ingresso. Isto tudo em detrimento do andamento da fila.

Ou seja, o despreparo de quem trabalha; a falta de respeito com o torcedor como consumidor de um espetáculo (??!!) caro são absolutos.

É assim que queremos sediar os dois maiores eventos esportivos do planeta?

Será que vamos repetir a balbúrdia que foi comprar ingressos para qualquer evento um pouco mais concorrido no Pan de 2007?

Sou um entusiasta das Olímpiadas e da Copa, mas cada dia tenho mais dúvidas quanto à efetiva contribuição que tais eventos trarão para o esporte brasileiro. Cada vez mais desconfio de que faremos a maquiagem de sempre e, passado o show para o público mundial, tudo voltará a ser como sempre foi: uma zona.

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