segunda-feira, 16 de maio de 2011

MARCA NO SUVACO

Como tenho pouca coisa para fazer, há pouco mais de um mês me matriculei num curso on line de gestão esportiva. Em meio aos interessantes debates travados entre alunos e professores, um dos alunos, Rafael, chamou a atenção para notícia veiculada na internet (http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/05/clubes-brasileiros-vendem-menos-e-arrecadam-mais-com-patrocinios.html).

A referida notícia faz um paralelo entre a arrecadação dos clubes brasileiros entre 2009 e 2010 e destaca que houve menos vendas de jogadores para o exterior, com os patrocínios dos uniformes passando a ocupar posto de destaque no conjunto de receitas do futebol brasileiro.

Diante do debate proposto, reproduzo minhas considerações feitas no curso, pois olhando a composição das receitas e o histórico relatado na matéria, parece-me que mais do que diversificar as fontes de receitas (e isto não se pode negar que esteja ocorrendo), os clubes estão trocando uma solução fácil por outra para custearem suas atividades.

O que quero dizer é que, em vez de estruturar um plano de desenvolvimento de marketing calcado no imenso valor das marcas que detêm, os clubes acharam outra "galinha dos ovos de ouro": suas camisas.

Em outras palavras, trocam a venda de jogadores pela exploração exaustiva dos espaços nos seus uniformes, vulgarizando-os até não mais poder.
Não sou saudoso da época em que os uniformes eram "imaculados", sem qualquer patrocínio, mas o que acontece hoje é um exagero.

Os clubes tem duas, ou às vezes três marcas estampadas na frente da camisa, mal se distinguem as cores do clube. Além, disto, é marca no ombro, na manga, atrás do calção e nas axilas, isto é, fazem propaganda até no traseiro e no suvaco!!!
Ao meu ver, tratam os uniformes de futebol como um macacão de Fórmula 1, quando os primeiros são espaços de valor incomensuravelmente maior.

Não raro as camisas dos clubes são referidas como "mantos sagrados", objetos de devoção dos torcedores e de incessantes debates a cada troca de modelo (que hoje em dia ocorrem cada vez mais rápido).

O que os clubes estão fazendo, ao lotarem estes espaços, é apequenar o valor deste produto, "comoditizá-lo".

A equiparação da camisa ao commodity acontece quando não se vende a inserção num objeto de culto, numa "embalagem" de sucesso; mas alugam-se somente centímetros sobre um pano qualquer. O valor vai depender da área ocupada sobre um retalho de uma camisa.

É neste sentido que vejo uma mera "troca de guarda": saem os jogadores (igualmente comoditizados, vendidos como mera matéria prima para a Europa, que os trabalham e os transformam em marcas capazes de arrastar milhões - de pessoas e em dinheiro); entram os uniformes, igualmente aviltados, vendidos como peças avulsas, não como um dos principais produtos de um conjunto de valores, sensações e experiências, fatores cada vez mais preciosos não só no mundo do entretenimento, mas no setor de serviços em geral.

Um comentário:

Felipe Barbalho disse...

Realmente, as camisas estão se transformando em trapos... É cada coisa bizarra, colocada de qualquer jeito. Parece até que os responsáveis pela venda e inserção das marcas nos mantos são estagiários. As próprias empresas que colocam dinheiros deveriam exigir uma distribuição mais elegante.
Sobre administração, arrecadação e dívidas de clubes brasileiros, interessante também dar uma olhada nos recentes posts do blog do Emerson Gonçalves:
http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo
Beijos!