quinta-feira, 21 de abril de 2011

ODES AO ATRASO

Hoje pela manhã, durante a curtíssima leitura de jornal que me é possível, deparei-me com o artigo de Pedro Motta Gueiros, no Globo, lamentando que o Maracanã "não é mais nosso".

Pensei comigo: eis um bom tópico para reativar meu blog, novamente travado por conta das inúmeras demandas profissionais. A linha que seguiria no texto acabou se confirmando ao final do jogo do Fluminense hoje à noite.

De fato, é lamentável ver-se, pela enésima vez, as dantescas cenas de jogadores se esmurrando ao final de uma partida, em meio a uma turba de pessoas que nada tem a ver com o jogo. Tudo sob o olhar complacente de outra polícia sulamericana absolutamente comprometida com a parcialidade e tristemente distante da missão que deveria inspirar a atuação de qualquer Força de Segurança.

Estes episódios se repetem ano após ano sob as barbas de uma Conmebol absolutamente incompetente, que nada faz para banir este tipo de comportamento selvagem dos campos da Libertadores.

Entretanto, há que se ter em mente que não dá para se esperar muito de uma entidade que prefere faturar trocados com cartões amarelos, em vez de garantir a higidez e a disciplina das partidas de suas competições.

Com isto, continuamos presos a uma filosofia que vigia há quarenta anos atrás e que várias vezes contribuiu para que o campeão europeu se negasse a disputar o Mundial de Clubes com o vencedor da Libertadores.

E o que isto tem a ver com o Maracanã e o texto do Globo de hoje?

Em comum, a irritação que ambas as posturas me provocam. Evidentemente, ninguém poderá aplaudir o comportamento dos argentinos ao final do jogo de hoje contra o Fluminense, mas muitos louvarão a ode a uma pretensa autenticidade que parece transparecer do artigo do Motta Gueiros.

O articulista, como imagino ser quase todo jornalista esportivo carioca, demonstra ter sido assíduo frequentador do Maracanã, tanto que capta com maestria o sentimento verdadeiramente religioso que inspira a ida de um torcedor de verdade (e não os pijameiros de final de campeonato) ao "ex-Maior do Mundo".

Sinceramente, acreditar que sujeitar o público da geral a bombardeios de cerveja ou de urina possa assegurar alguma sobrevida ao velho Maracanã é algo que não honra a pena do referido jornalista.

Mais do que isto, alguém acha que é saudável ter saudade de ter que ficar no senta-levanta da arquibancada do trecho entre a Jovem Fla e a Raça Rubronegra, porque junto à grade daquele espaço do estádio tem muito mais gente do que a sua real capacidade?

Será que é plausível considerar-se natural que um estádio da magnitude do Maracanã não tivesse um sistema de som decente, em que vc, em jogos da Seleção, por exemplo, não conseguisse ouvir o hino nacional?

Isto para não falar dos hectolitros de urina que se misturavam às pequenas lagoas de água quando chovia durante os jogos...

Sinceramente, é este tipo de saudosismo que não deixa o futebol brasileiro ir para frente, que ainda nos prende a três meses de campeonatos estaduais em que os grandes clubes se afundam financeiramente; que minam o potencial da segunda competição interclubes do planeta, relegando a Libertadores a um papel muito menor do que pode ter em relação à supervalorizada Liga dos Campeões; que nos prende a um papel de fornecedores de matéria-prima (jogadores), em vez de nos libertar para sermos produtores de conteúdo, ou seja, torneios, campeonatos e ligas de alcance e repercussão mundial.

No final das contas, era João Havelange que tinha razão: a solução era implodir o Maracanã. Os ingleses, que ao contrário de nós, ganharam a Copa que fizeram em casa, puseram abaixo o estádio que viu seu único título mundial. Por que nós temos que gastar BILHÕES com a nossa arena-símbolo?

Contudo, Inês estava morta desde o Panamericano. A hora de demolir era aquela. Hoje, depois das centenas de milhões investidos na modernização do Estádio Mário Filho antes de 2007, não poderia o Governo optar por outra coisa que não fosse acabar o processo de remodelação do estádio.

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