quinta-feira, 21 de abril de 2011

EXEMPLO DE MENTALIDADE COLONIZADA

Agora que deu o comichão, vou aproveitar e despejar todas as ideias que surgem ao longo do dia e não vêm ao blog por falta de tempo.

Este post se desenrola, em parte, do texto postado nesta última madrugada (Odes ao Atraso). Naquele post apontei que o saudosismo acrítico que acomete o público que gira em torno do futebol nos prende a um papel de "fornecedor de matéria-prima", em vez de nos tornarmos produtores de conteúdo.

Um exemplo característico é o lamentável deslumbramento que temos em relação ao futebol europeu. Irrita-me profundamente ver crianças na rua com a camisa do Drogba ou do Messi! Tudo bem que vivemos num mundo globalizado, mas eu não vejo crianças americanas com camisas do Oscar Schmidt ou de qualquer atleta do basquete europeu.

Já falei anteriormente neste blog que o Brasil tinha tudo para ser a NBA do futebol (e isto não é ideia original minha, já vi o Parreira declarando isto em entrevista). Mas para isto, temos que querer importar o modelo de organização e divulgação das ligas europeias. É isto que devemos perseguir.

Entretanto, pretendemos manter nossos "coliseus" e seus folclores regados à amônia, porque isto é mais "autêntico", enquanto a principal rede de TV brasileira, associada ao jornal do mesmo grupo, dá ampla e destacada promoção aos repetidos jogos entre Real Madrid e Barcelona.

Tratam-se de jogos incríveis, com excelentes jogadores? Sim. Mas para mim, que cresci jogando botão com as carinhas dos atletas em atividade no Brasil; que vibrei com as rivalidades que iam se construindo no plano nacional entre meu Flamengo e o Atlético-MG e o São Paulo; entre o Palmeiras e o Grêmio; entre Cruzeiro, Santos e São Paulo, é absolutamente inaceitável ver crianças envergando camisas de times de aluguel de russos de procedência duvidosa e o embevecimento colonizado da crônica com campeonatos que são Gauchões vitaminados.

Afinal, o que é o campeonato espanhol? Barça e Real e mais uma porção indistinta de times médios e pequenos, sem quase nenhuma chance de título. Não parece a dupla Grenal e o resto dos times dos Pampas riograndenses?

Eventualmente posso parar o trabalho para dar uma olhada nas semis da Liga dos Campeões, mas gostaria muito que a própria TV que exalta tanto os torneios europeus tivesse postura ainda mais ativa (até porque reconheço que muito do profissionalismo que temos absorvido vem em decorrência do envolvimento da televisão) na transformação do Brasileirão e da Libertadores em produtos de alcance global.

Quero ver sauditas e vietnamitas não só com a camisa da Seleção, mas envergando o meu Manto Sagrado e as camisas tricolores de São Paulo, Grêmio e Fluminense, as alvinegras de Atlético, Santos e Botafogo, dentre tantos outros uniformes que representam uma História esportiva singular e podem revelar um futuro diferente da indigência que é imposta aos torcedores brasileiros.

Um comentário:

Beto disse...

Caro Fernando.
Pensamos da mesma maneira, pelo menos com relação a esta matéria. Pena que você praticamente não deixou nada para o seu leitor aqui comentar, sua análise é perfeita. Só aqui neste país, infestado pelo complexo de vira-latas, vemos não só crianças, mas adultos também, envergando camisas de times de outros países; nem nossos vizinhos e hermanos cultivam este hábito. Estive lá no ano passado e pude observar; de times: Boca, River e mais um ou outro; seleção, só Argentina, e nós aqui, maior fornecedor de jogadores a cantar em verso e prosa o medíocre futebolzinho inglês que na sarcástica maneira de ver de Nélson Rodrigues nada mais era do que o time do Bonsucesso com rainha e esquadra. No próximo mês começará o nosso brasileirão, seria algum absurdo afirmar que: Fluminense, Flamengo, São Paulo, Santos, Palmeiras, Cruzeiro, Internacional, Grêmio, são reais candidatos ao título; oito times, o que mais se aproxima em disputa da gente é o campeonato italiano normalmente disputado entre três agremiações: Milan, Inter e Juventus; o resto e A ou B, B ou A, exceto no país do futebolzinho nesse, quando não é do Manchester é do United.
Abraços do Beto