quinta-feira, 9 de maio de 2013

CAMISA 12 DA GÁVEA

Sei que vou eventualmente "apanhar" muito por conta de tal afirmação, mas trata-se de divagação de um rubronegro apaixonado por seu time. Entre terça e quarta-feiras vi duas passagens na TV que me despertaram para algo que vinha pensando há algum tempo. Vamos aos programas televisivos e, depois, à divagação propriamente dita.

Primeiro foi o filme sobre o tricampeonato mundial do São Paulo, veiculado pela ESPN, em que se dá grande destaque, obviamente, ao Rogério Ceni, verdadeira bandeira do Tricolor Paulista. Tanto pela sua expressão naquele - e no atual - time do São Paulo, quanto pela sua atuação em si no jogo contra o Liverpool, que passou praticamente os 90 minutos bombardeando a meta são-paulina (que diferença para o meu Mengão, que passou o carro sobre um Liverpool consideravelmente mais forte do que aquele de 2005...). Pelo depoimento emocionado do próprio Rogério no final do filme, assim como pela noção consolidada do que ele representa na história do clube, deu-me aquela ponta de inveja saudável da existência de um ídolo deste quilate no time dos outros.

O segundo estímulo veio hoje, quando me arrumava para ir para o trabalho e, ouvindo, como de hábito, o SporTV, deparei-me com a declaração do Bap, Vice-Presidente de Marketing do Flamengo, que, ao apresentar o novo patrocínio da Caixa, afirmou mais uma vez que as contratações virão do dinheiro do programa de sócio-torcedor (aliás, eu já sou. E vc, companheiro rubronegro, já cumpriu seu dever cívico?). Em outras palavras, a atual diretoria do Flamengo confia no poder e no compromisso da Maior Torcida do Mundo para construir um time mais forte.

Nesta hora me veio a imagem da camisa 12, parcialmente aposentada nas hostes da Gávea (parcialmente, porque nos torneios da Conmebol é obrigatória a utilização de tal numeração, sob pena de se perder a inscrição de um jogador), em homenagem à força da torcida. Em outras palavras, a camisa 12 do Flamengo agora é vestida pelo seu torcedor.

Feito este introito, eis meu devaneio: o Flamengo clama por um ídolo, mas daqueles de verdade, efetivamente identificado, nas suas entranhas, com esta Nação Rubronegra dentro da Pátria Desportiva que tanto enalteço aqui neste bloguinho. Depois das decepções com Adriano, R10 e Vagner Love, a torcida precisa de um espelho dentro do campo, alguém que tenha não só a garra que o atual time vem desenvolvendo, mas a estatura que a "urubuzada" naturalmente arrogante atribui ao Clube de Regatas do Flamengo.

Mas o clube está sem dinheiro, a própria diretoria passou a bola para a torcida: institucionalizem sua paixão no programa sócio-torcedor, e nós traremos os craques.

Pois bem, se é para resolver com a camisa 12, nada melhor do que trazer o melhor camisa 12 dos últimos tempos: Júlio César. O goleirão, que vem sendo convocado pelo Scolari - não sem muitas contestações - está parado no banco de um time virtualmente rebaixado no Campeonato Inglês. Para realizar seu sonho de jogar mais uma Copa do Mundo, Júlio César precisará jogar. Embora haja notícias de que ele teria mercado nos clubes da Premier League (fala-se até mesmo em Manchester United ou Arsenal), o risco de ser contratado e não jogar é grande, afinal, goleiro precisa de tempo para consolidar uma nova titularidade.

Dinheiro, vamos combinar, o nosso arqueiro não precisa. Todo mundo gosta de mais um pouco, mas, como se diz comumente, dinheiro não é tudo - especialmente para quem já tem algum, como é o caso de Júlio César. Portanto, porque não juntar o útil (ter maiores chances de ser titular num time de expressão), ao agradável (dar uma de Juninho Pernambucano e voltar ao time de coração, sem cobrar horrores de salário)?

Reativa-se excepcional e temporariamente a camisa 12, entrega-se ao Júlio César como reconhecimento de seu genuíno amor pelo Flamengo e, em paralelo a um salário compatível com a atual política de austeridade da Gávea, arruma-se um esquema de remuneração por resultados, tal como o Vasco fez com o mesmo Juninho.

Agora, minha viagem da madrugada: ainda pode-se cogitar de criar uma ação de marketing específica que gere receita adicional para o goleirão. Fixa-se novamente a ideia de que a camisa 12 é da torcida, e que Júlio César jogará com ela porque ele é o torcedor em campo. Aumenta-se a força do ídolo que ele já é (e o próprio Júlio César historicamente prefere jogar com este número), cria-se um produto com grande capacidade de identificação com a torcida - e, por conseguinte, com elevado potencial de venda -, atribuindo-se uma parte da receita das vendas da camisa para o próprio jogador, complementando sua renda sem comprometer o equilíbrio financeiro do clube.

É bom para o Júlio César, que volta a jogar; é bom para a torcida, que volta a ter um ídolo de verdade em campo; é bom para o time, que conta com um jogador com a rodagem de anos nas ligas mais competitivas da Europa; e é bom para o clube, que reforça uma marca mal explorada (a camisa 12 da Gávea) e dá um estímulo adicional ao necessário envolvimento de sua torcida.

Será que viajei demais?