sexta-feira, 17 de junho de 2011

CAMPO DOS SONHOS


Em meio a um turbilhão de trabalho, fiquei mais uma vez distante do blog. Mas volto em grande estilo. Por conta de meu trabalho na Assessoria Jurídica da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer, tive a oportunidade de participar do evento que marcou o 61º aniversário do Maracanã, razoavelmente noticiado pela imprensa e que foi pontuado por uma espécie de "mesa redonda" entre cinco figuras que fizeram história no ex-Maior do Mundo: Maurício, o heroi (agora é sem acento?) que tirou o Botafogo da fila em 1989; Edinho, zagueiraço tricolor, capitão da Seleção na Copa de 1986, autor do gol título carioca de 1980 e o cara que barrou o Aldair na zaga rubronegra do time campeão brasileiro de 1987; Roberto Dinamite, ídolo eterno e atual presidente do Vasco; Petkovic, o sérvio autor do gol de falta mais emocionante da história do velho estádio, aquele que decretou o quarto tricampeonato do Mengão em 2001.

E Ele: Zico, o Messias rubronegro, ídolo de toda uma legião de trintões e quarentões (estou bem na fronteira destas duas faixas), o jogador que tornou minha infância um período imensamente feliz. E, acima, a prova do felicidade pouco contida deste escriba.

Pois bem, nesta noite de realização de um sonho pessoal, em que, além da foto e da breve conversa com o ídolo que marcou a vida de qualquer rubronegro que se preze, ainda consegui levar para casa uma camisa branca do Flamengo com os autógrafos Dele, do Pet e do Edinho (afinal, apesar da identificação tricolor, ele também compõe a galeria de grandes campeões do Esquadrão da Gávea), tive a felicidade de testemunhar uma conversa que merecia, por tudo, ter sido transmitida ao vivo em rede nacional.

A verve de jogadores que tiveram o privilégio de ter o Maracanã como palco de sua arte, o bom humor das provocações e o encanto de histórias conhecidas e inéditas foram o conteúdo perfeito para uma moldura singular, quase surreal: um gigante de concreto, parcialmente demolido, iluminado por holofotes que guiavam o trabalho de centenas de operários metros abaixo do que um dia foi a arquibancada mais vibrante do mundo do futebol.

Como culminância deste roteiro único, a bela condução da conversa por dois mestres da matéria, Maurício Menezes e Sérgio Du Bocage, também velhos conhecidos da torcida carioca, levou os ex-atletas a abrirem seus corações e mostrarem a memória emocional do Maracanã de cada um.

E daí a razão do título deste post. Foi impressionante ver, na resposta dos quatro cariocas do grupo, que a emoção mais marcante de cada um no velho estádio não foi como jogador profissional, mas como torcedor ou jogador das divisões de base. Desde a tentativa frustrada do Edinho de assistir Brasil x Paraguai nas Eliminatórias para a Copa de 1970, até a chegada do Zico horas antes do jogo, só para por os pés na beira do sagrado gramado do Maraca, os quatro cariocas revelaram o encanto que o estádio suscitava em cada um por conta de seu passado como torcedor.

O belo discurso do Roberto, que afirmou existir um verdadeiro espírito do Maracanã pulsando no coração de cada um deles, aliado à descrição do Edinho de uma energia que circunda e brota daquelas arquibancadas, tudo me lembrou o sentimento que inspira a história do belo filme Campo dos Sonhos, estrelado por Kevin Costner, no final da década de 80.

Além de outras considerações, o filme narra muito bem a importância do beisebol na formação da consciência nacional norte-americana, o caráter emocional da reverência aos grandes ídolos daquele esporte. A noite de terça-feira foi exatamente a celebração da mesma importância e das mesmas emoções para todos que tiveram a fortuna de participar do espetáculo que era ver um jogo num Maracanã lotado.

O filme em questão era marcado pela frase ouvida pelo protagonista, ao ser instruído a construir um campo de beisebol em meio ao milharal de sua fazenda: "Construa e eles virão." Pode ser um mantra que inspire a atual reforma, que a oriente para recriar um estádio moderno, mas que mantenha a aura mística que circunda sua história e pontuou cada tarde de domingo destes 61 anos.

"Construa e eles virão." Virão os craques; virão os títulos; virão os nobres e pobres sentimentos que dilaceram o coração dos torcedores. Mas virão principalmente estes torcedores, grandes ou pequenos, mas todos eternas crianças diante do gigante que nos acolhe em tardes e noites de sonho, embaladas por caprichosas bolas que nos regalam júbilos ou nos sonegam a glória a cada jogo.

Nós também temos nosso Campo dos Sonhos.