quinta-feira, 31 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 8: Glória na Areia)

Para encerrar a avaliação dos esportes coletivos, vamos ao Vôlei de Praia. Introduzido no programa olímpico a partir de 1996, a modalidade nos dá pelo menos uma medalha desde então, tendo sido duas de ouro com Jackeline Silva e Sandra Pires, em Atlanta; e Ricardo e Emanuel, em 2004, nos Jogos de Atenas.

Neste ano, Ricardo e Emanuel têm tudo para se tornarem os 7º e 8º bicampeões olímpicos da história do esporte brasileiro. Já no feminino, a situação de Juliana e Larissa já era complicada antes da lesão da primeira, visto que no caminho da dupla verde-amarela estão as quase intransponíveis Walsh e May-Treanor.

As segundas duplas no masculino e feminino também são fortes e sérias candidatas a medalha, demonstrando também na areia, o caminho de glória pavimentado pelo contínuo planejamento da Confederação Brasileira de Voleibol, que investiu no estabelecimento de um Circuito Nacional que garante mercado para os atletas e garimpa talentos que se transformam em números no quadro de medalhas de cada Olímpiada.

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 7: A Força da Escola)

Ainda no âmbito dos esportes coletivos, das modalidades de quadra, resta ainda palpitar sobre Handebol. No que diz respeito às equipes brasileiras, a masculina está longe de qualquer possibilidade de medalha e deve brigar para fazer uma figura honrosa.

Já a feminina também não se enquadra entre as favoritas, mas o time parece ser mais consistente, podendo, dependendo do dia, produzir alguma surpresa que nos leve a uma posição de maior destaque.

Contudo, o mais importante ao analisar o Handebol não é discutir as chances de medalha ou não, mas constatar que a modalidade é um exemplo claro de como a inserção do esporte na escola pode gerar resultados duradouros. Embora não tenhamos alcançado o status de força mundial, conquistamos as duas medalhas de ouro no último Pan-Americano e temos conseguido seguidas classificações para participar de competições internacionais, mostrando o Handebol uma evolução constante e sólida já ao longo de dois ciclos olímpicos.

E o que isto tem a ver com a escola? Não sei em outros estados, mas no Rio de Janeiro, o Handebol é, silenciosamente, uma das modalidades mais praticadas nos estabelecimentos de ensino. A razão pode estar na facilidade de se adaptar as onipresentes quadras de Futsal para a realização de partidas de Handebol. Deste modo, meninos e meninas podem ter uma iniciação desportiva que fuja do chavão "futebol para moços e vôlei para moças", e criam a massa de iniciados onde serão "garimpados" atletas de alto rendimento.

Este é um tema que certamente explorarei mais adiante, quando já superada a expectativa e as emoções dos Jogos Olímpicos, mas sempre me pergunto como o Brasil, com quase duas centenas de milhões de habitantes, não consegue produzir um contingente mais expressivo de competidores no Atletismo ou na Natação. A ausência de uma política de educação física nas escolas brasileiras é talvez a maior explicação.

O exemplo do Handebol está aí para quem quiser ver. Ainda vamos vibrar com jogadores que nos encantam com uma bola pesada nas mãos. Talvez não agora, mas vale dar uma olhada nos atletas que saíram das nossas escolas.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 6: Meninas de Ouro)

O post anterior, que reproduz o comentário de um dos meus dois leitores, meu caro amigo Beto, serve como excelente gancho para palpitar sobre as chances da Seleção Feminina de Futebol, este sim, um time que acabará empolgando, quem sabe até mais do que a Masculina.

O excelente desempenho das heróicas meninas do Brasil no último Mundial, em que só perderam a final para a Alemanha, despertou um carinho genuíno na torcida em geral e nos boleiros em especial. De fato, a categoria demonstrada por Marta & Cia. despertou novamente a crônica desportiva e os torcedores mais aficionados para a beleza do futebol bem jogado, fazendo com que a corrente pela vitória da Seleção Feminina seja mais do que uma conquista do Futebol Brasileiro, mas uma verdadeira redenção do próprio Futebol como esporte.

No que diz respeito à competição em si, vejo o Brasil no mesmo nível de EUA e Alemanha, podendo qualquer das três levar o ouro para casa. A China tem um retrospecto interessante, mas parece estar numa curva descendente, embora possa correr por fora com o apoio da torcida.

De qualquer forma, se reproduzirem a categoria e a magia com que nos conquistaram no Pan e no Mundial do ano passado, as meninas do Futebol continuarão valendo ouro para os apaixonados pelo esporte, independentemente da cor da medalha que trouxerem.

INDIFERENÇA OLÍMPICA (Post/Comentário)

Como um dos meus dois leitores (meu ibope não é tão grande como o do Agamenon) teve problemas para enviar seu comentário a respeito da Seleção Masculina de Futebol, seguem abaixo as considerações do Beto, sob a forma de post:

"Uma reflexão sobre o futebol.
"Posso estar errado, mas diferente da seleção principal, a seleção olímpica não consegue cair nas graças do torcedor. Desconheço a(s) razão(ões). Talvez a limitação em vinte e três anos faça o torcedor vê-la como um time de garotos, ou porque sendo a seleção cinco vezes campeã mundial tratada de principal, a olímpica passe a ser vista como secundária, ou apenas porque paixão não dá assim tão facilmente. O fato é: parece que o torcedor pouco se importa com os resultados desta seleção. Meu sentimento quanto à seleção olímpica: total indiferença."

terça-feira, 29 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 4: Vôlei Feminino)

Seguindo nos palpites, passemos ao Vôlei Feminino.

A vitória no Grand Prix deste ano mostrou uma Seleção Brasileira muito consistente e com um banco que, se não tem o número de opções que se apresentam ao Bernardinho na Seleção Masculina, permite ao técnico José Roberto Guimarães algumas variações interessantes.

Entretanto, a conquista deve ser vista com moderação, na medida em que os principais adversários estavam desfalcados.

O time nacional tem tudo para finalmente chegar à final e chances concretas de ganhar o ouro olímpico, mas deve tomar cuidado com a China, que tem tradição e a torcida; a Rússia, que, na hora H, nos venceu nos Jogos de Atenas e no Mundial de 2006; com a Itália, que foi a campeã da última Copa do Mundo; e, finalmente, com Cuba, que embora apresente um time renovado, que ainda não emplacou, sempre é um concorrente ameaçador, especialmente para nós, que também penamos em duas Olimpíadas seguidas com elas (Atlanta 96 e Sydney 2000).

segunda-feira, 28 de julho de 2008

AGRADECIMENTOS

Aproveitando um momento de "gazeta" no trabalho, agradeço a todos os amigos que acessaram o blog e enviaram mensagens a este palpiteiro.

Agradeço especialmente ao Beto, autor do comentário sobre o post do Basquete Masculino.

Conto com a leitura de vocês e, mais importante, as críticas e comentários, até porque o blog foi criado para ser um fórum de discussão, não um monólogo de torcedor.

Abraços a todos.

PROGNÓSTICOS (Ou palpites com nome pernóstico - 3: A Coroa Ameaçada)

Cinco dias sem postagem. Blogueiro amador é um problema, acaba sendo atropelado pelos fatos.

Pois bem, após a notícia do Robinho, que precipitou meus comentários sobre a Seleção de Futebol Masculino, os eventos do fim de semana me levam a comentar a segunda paixão nacional, a nossa Seleção de Vôlei Masculino.

O resumo das finais da Liga Mundial neste sábado e domingo é o seguinte: tomamos dois "vareios". Não vimos a cor da bola. A pergunta que fica é: e aí, temos o tricampeonato olímpico ameaçado?

Temos, como sempre tivemos, agora só um pouco mais intensamente. A história de que o Brasil não teria concorrentes nos Jogos Olímpicos sempre foi mais fruto do oba-oba que caracteriza a torcida nacional do que propriamente uma observação baseada em fatos. Ganhamos quase tudo na Era Bernardinho? Sim, mas nunca sem fortes adversários.

Os EUA que nos bateram no sábado são uma pedra no sapato da Seleção, tendo, segundo as informações veiculadas após a derrota, nos batido sete vezes desde que nosso "Karpolzinho" assumiu o comando do Vôlei Masculino. A Rússia, que nos tirou pela primeira vez do pódio nos últimos sete anos, já tinha nos vencido aqui mesmo no Brasil na final de uma Liga Mundial.

Para além de tais times, temos o Leste Europeu, mais especificamente, Polônia, Bulgária e Sérvia. Todos times altíssimos e cujo jogo é baseado na força. A Polônia é um time muito jovem, fez um Mundial brilhante e tem a tradição coroada por um título olímpico na década de 70.

A Bulgária já nos fez sofrer mais de uma vez e, como esteve fora da Liga, vem treinando com a bola dos Jogos Olímpicos há mais tempo (e isto parece que faz diferença, por depoimentos dados pelos próprios jogadores, que estranharam o novo modelo).

A Sérvia não nos vencia há oito anos. Ganhou um dos jogos da fase inicial da Liga e, além disso, também tem tradição no esporte, herdada da antiga Iugoslávia.

Além destes times, ainda há a Itália, sempre ameaçadora e que deve estar louca por um título olímipico, que deixa escapar desde 1992.

Portanto, ameaças à coroa do Vôlei Masculino sempre existiram. O problema agora é que os outros times, a poucos dias dos Jogos, passaram a acreditar ser possível ganhar do Brasil e, pior, tem dois vídeos que podem ser exaustivamente estudados para tentar reproduzir a tática de americanos e russos.

Entretanto, a Seleção continua com crédito sobrando. Quedas semelhantes já foram superadas (perda da Liga em 2002 e do Pan em 2003) e o time voltou mais forte. Há pouco tempo para tentar construir uma forma de contornar as táticas que nos pararam este fim de semana? Sim, mas a motivação de encerrar um ciclo de oito anos com chave de ouro (literalmente) e colocar seus nomes no rol de uma das maiores equipes de todos os tempos pode ser um forte catalisador para uma nova alquimia de Bernardinho e dos incríveis atletas do Vôlei Masculino, que, vencendo, transformarão mais uma vez lágrimas em suor, e suor em ouro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (ou palpites de nome pernóstico - 2: E a Seleção Masculina de Futebol?)

Depois de um dia sem postar nada, minha intenção era ir comendo pelas beiradas, falando de modalidades sem tanta atenção da mídia, para mais tarde chegar aos esportes de massa.

Entretanto, o affair Robinho acabou precipitando a abordagem do Futebol logo no segundo post da série.

E então, como ficará a Seleção sem Robinho? Há muito tempo o Robinho é o esteio do time do Dunga, o jogador que servia de referência, especialmente nos jogos em que as demais estrelas (Kaká, Ronaldinho Gaúcho) não estavam presentes. O melhor exemplo foi a Copa América, em que o ex-santista comeu a bola.

Realmente, a falta de um Robinho motivado e inspirado é complicada, mas há jogadores no elenco que podem suprir sua falta. Dos atletas com idade olímpica, Alexandre Pato é nome da vez (aliás, as especulações apontavam para que ele fizesse dupla com Robinho). Rafael Sóbis, embora esteja um ou mais degraus abaixo e há muito não faça uma apresentação que empolgue, também tem o mesmo estilo de jogo.

Além destes dois, ainda há Ronaldinho Gaúcho, que, se efetivamente entrar em forma, pode ser o fator de desequilíbrio que Robinho representava. Talvez até mais do que ele. O problema é que o tempo é cada vez mais curto e a agenda do novo jogador do Milan está cada vez mais cheia, com menos espaço para treinos de verdade. Tomara que eu queime a língua.

De resto, a equipe parece bem convocada, especialmente o meio-campo, que se for bem no Torneio Olímpico, pode fornecer algumas soluções para o time das Eliminatórias, especialmente no que diz respeito aos dois volantes (Hernanes, Lucas e Anderson são jogadores infinitamente melhores do que aqueles que têm povoado o meio-campo da Seleção).

Só não entendi a opção pela convocação do Ramires no lugar do Robinho. Se perdemos um atacante com mais de 23 anos, porque não utilizarmos esta opção. Um centroavante goleador seria bem-vindo, pois, sinceramente, não confio muito no Jô.

Cravando o palpite, devemos passar pela primeira fase, mas não sem sustos. A Bélgica é uma incógnita e a China pode complicar na base da empolgação (torcida não lhes faltará...). A partir das quartas-de-final, o caminho passa a ser bem mais complicado, seja qual for o adversário. Isto sem contar com o cruzamento com a Argentina antes da final...

No geral, a Argentina parece ter um time mais consistente que o nosso. Talvez o jogo que defina a sorte do Brasil seja justamente a semi-final contra os hermanos. Se passarmos, temos tudo para conquistar o ouro inédito.

Menos que o bronze pode por o Dunga mais a perigo do que ele já está.

domingo, 20 de julho de 2008

PROGNÓSTICOS (ou palpites de nome pernóstico -1)

Passando a tratar diretamente das expectativas da Pátria Desportiva nos Jogos de Pequim, vou aproveitar o gancho dado (ou não dado, no caso da Seleção Masculina) pelo post anterior e inicio a série de prognósticos - verdadeiro nome pernóstico para os meus "palpites" - com a Seleção Feminina de Basquete.

O time se mostrou um tanto frágil no Pré-Olímpico e ainda perdeu sua melhor jogadora, a Iziane, justamente afastada pelo técnico Paulo Bassul. Se por um lado é um desfalque, a firmeza na condução do episódio de insubordinação pode unir o grupo.

Acredito que se repetirmos a semi-final do último Mundial já será lucro, ainda mais sem a Janeth em quadra.

sábado, 19 de julho de 2008

POR UMA MONARQUIA TEOCRÁTICA

Ontem acabou o sonho do basquete masculino voltar aos Jogos Olímpicos. Encurralado por uma equipe muito mais experiente e com mais recursos técnicos, a Seleção Brasileira, juntada aos trancos e barrancos em meio a defecções vergonhosas e outras em tese justificáveis, mostrou uma garra comovente, mas acabou sepultada pelas bolas de três que outrora foram nosso passaporte para a glória.

Ainda que triste, quem acompanha o noticiário esportivo sabia que esta era uma tragédia anunciada. Mesmo depois de duas Olímpiadas em branco na categoria masculina, entremeadas por dois Mundiais com resultados pífios, a Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB) seguiu na sua verdadeira cegueira técnica e administrativa, sem ter conseguido organizar um campeonato nacional digno do nome ou mesmo montar uma Seleção com um mínimo de preparação.

Não perdemos a vaga ontem. Perdemos há meses atrás, quando fomos derrotados pela equipe reserva da Argentina no Pré-Olímpico das Américas, em meio a episódios lamentáveis de insubordinação.

Perdemos durante o longuíssimo tempo transcorrido depois do mesmo Pré-Olímpico, sem a definição de um técnico para preparar a Seleção para um torneio que já se mostrava de enfrentamento complicado.

Perdemos pela inépcia dos dirigentes da CBB, que não negociaram com antecedência a participação ou não dos atletas que jogam na NBA e nas ligas européias. É evidente que a CBB não poderia obrigá-los a ir ao Pré-Olímpico, mas se tivesse se mobilizado logo após o torneio continental, o abnegado Moncho Monsalve saberia com quem contar ou não para montar um esquema de jogo.

Como exaustivamente repetido por toda crônica após o jogo de ontem, os atletas que estiveram em quadra não merecem menos do que aplausos, pois honraram o hino e foram "filhos que não fogem à luta". Também digno de homenagens é o técnico Moncho Monsalve, que permaneceu firme na condução da Seleção, mesmo após ser fustigado pelas seguidas deserções que desfiguraram o time que lhe foi prometido quando a CBB o contratou.

Não conheço o Basquete a fundo, mas a impressão que se tem é que a modalidade vai se consumindo numa fogueira de vaidades. Técnicos, cartolas e atletas querem, na verdade, afirmar-se acima de tudo. Os projetos individuais estão sempre em primeiro lugar. Foi assim com os atletas que desertaram e ainda é assim com alguns técnicos que usam as transmissões como tribunas para fustigar a atuação do colega e pregar que somente eles têm a chave para o jogo correto.

Mas, acima de tudo, é assim com a classe dirigente de tal modalidade. A prova cabal é a queda vertiginosa de prestígio do Basquete Masculino no cenário mundial e, mais do que isto, a "surra" que o esporte vem tomando do voleibol, que há muito lhe tomou o segundo lugar na preferência do público nacional.

A politicagem e a incompetência que parecem estar ditando os rumos da CBB ficam claras até mesmo no sucesso isolado da Seleção feminina, que se classificou para os Jogos Olímpicos apesar de não termos um campeonato nacional decente nesta categoria também.

Ouvindo Oscar e Hortência falarem entre ontem e hoje, lembrei-me de suas heróicas tentativas de manter um time de basquete e de organizarem uma Liga Nacional. Olhando a história e o exemplo do Mão Santa (apesar do próprio não gostar do apelido, pois treinou muito para ter os tiros certeiros que tinha) e da nossa eterna Rainha do Basquete, vejo-me obrigado a despir-me das minhas convicções democráticas e afirmar, que no momento atual, a salvação para a modalidade é uma monarquia teocrática, que repouse na capacidade individual de dois ícones congregar em torno de si um esporte que já nos deu três títulos mundiais e cinco medalhas olímpicas.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O ESPORTE COMO IDENTIDADE NACIONAL

A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos, os amantes do esporte em geral antecipam as generosas doses de emoção que uma competição desta magnitude pode proporcionar. Talvez a maior de todas as sensações a serem experimentadas será o novo encontro da sociedade brasileira com o seu país, a identificação, no esforço de cada atleta verde-amarelo, da noção recentemente tão aviltada, de que há um Brasil que dá certo, de uma nação que sabe, ao mesmo tempo, ser apaixonada e eficiente.
No momento em que o esporte mais uma vez nos resgatará de nosso rodriguiano complexo de vira-latas, que nossa classe dirigente insiste em nos impor, uma outra figura do mesmo Nelson Rodrigues me inspirou a criar este blog: a Pátria de Chuteiras. A perfeita figura criada por esse inigualável cronista desportivo descrevia a seleção brasileira de futebol como o refúgio de nosso nacionalismo, o espelho e a janela do país que admirávamos e que talvez pudéssemos efetivamente nos tornar.
O tempo passou e a cada quatro anos a sentença inapelável se confirma: a Copa do Mundo é o evento que mais mobiliza o país, que verdadeiramente irmana brasileiros na ocupação das ruas e na partilha de um objeto de amor coletivo, a seleção de futebol.
Entretanto, assim como na economia deixamos as monoculturas da cana, do ouro e do café, sem deixarmos de explorá-las cada vez melhor (veja o caso do álcool combustível, orgulho da tecnologia energética nacional), no esporte também deixamos de ser dependentes exclusivos de uma só atividade e, se cada Copa cria um frenesi quase religioso nos torcedores, conseguimos reproduzir o sincretismo dos templos, encruzilhadas e praias, levando nossa fé na "amarelinha" dos campos para as quadras, piscinas e pistas, para tentarmos afirmar nosso valor também em outros esportes.
Esta afirmação nacional se revela de forma inequívoca em outra constatação de ouvi uma vez de Armando Nogueira, outro ícone da crônica esportiva. Ressalvada a imprecisão da citação feita em cima de uma memória de programa de televisão perdido nos anos, diz ele que feliz é o país que celebra heróis forjados nos verdes campos de futebol, em vez dos sangrentos campos de batalha.
Pois é no mesmo Brasil que ri e desconfia de todas as figuras de sua história política que se produz um rol cintilante de desportistas elevados ao patamar de reis e rainhas, aos quais se devota um respeito e uma admiração genuína.
A partir de hoje, a pretensão deste blogueiro neófito e torcedor inveterado será de mostrar como o esporte é um dos mais fortes, senão o maior, elemento de identidade nacional brasileira e, na esteira desta constatação, de apontar caminhos pelos quais ele pode ser uma poderosa ferramenta de cidadania e de transformação social, não só redimindo histórias individuais, mas criando possibilidades de projetos que possam ser vividos comunitariamente, como foram os Jogos Pan-Americanos de 2007 e como serão a Copa de 2014 e, quem sabe, os Jogos Olímpicos de 2016. A partir de agora, a idéia é dividir idéias sobre as competições em si, as expectativas e as lições que possam inspirar o Brasil do futuro, no esporte e na vida.